A duas semanas do início da campanha eleitoral, o cenário eleitoral para a disputa à Presidência da República ainda não está finalizado. A temporada das convenções partidárias vai até o dia 5 deste mês, e as legendas têm até o dia 15 para aparar todas as arestas e registrar suas chapas na Justiça Eleitoral. Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), os dois primeiros colocados nas pesquisas de intenção de voto, agem para costurar acordos e montar palanques desde o ano passado, outros candidatos sequer têm uma definição para o cargo de vice.
Há, ainda, quem tenha desistido da disputa a poucos dias da realização da convenção partidária, caso de Luciano Bivar (União Brasil), e quem sinalize desistir mesmo depois de ser oficializado, como André Janones (Avante). O União Brasil agiu rápido e anunciou a senadora Soraya Thronicke (MS) no lugar de Bivar. Enquanto isso, Janones abriu a porta para retirar sua candidatura e apoiar Lula em troca da incorporação de pontos programáticos pelo petista. Ele e o pré-candidato do PT dialogam e é aguardada para hoje o anúncio da decisão de Janones sobre seu futuro político. Até esta quarta-feira, o pré-candidato do Avante ainda não havia retirado sua candidatura.
Outra situação inusitada envolve o candidato do Pros à Presidência, Pablo Marçal, que é coach. Nesta quarta-feira, a executiva nacional do Pros declarou apoio à chapa do ex-presidente Lula, em meio a uma disputa partidária interna. A convenção do partido que oficializou a indicação de Marçal à Presidência foi realizada no domingo, e ele se mantém como candidato.
Desta forma, as candidaturas de Marçal e Janones balançam e estão à espera de uma decisão política e também jurídica, no caso do Pros. E há ainda o caso do senador Alvaro Dias (Podemos). Ele é originalmente candidato à reeleição ao Senado pelo Paraná. Mas, durante a convenção do Podemos no domingo (31/7), o partido fez convite para ele se lançar à Presidência. Dias deixou para 5 de agosto, último dia do prazo para realização das convenções, a definição sobre o cargo a que vai concorrer. Se aceitar disputar a Presidência, será um nome de última hora a entrar no cenário eleitoral. Por fim, o candidato do PTB, o ex-deputado federal Roberto Jefferson, foi oficializado candidato pelo partido mesmo cumprindo pena de prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica, e estando inelegível até março de 2024.
Afora essas indefinições, há 10 candidatos confirmados para a eleição ao Planalto. O último a ingressar na corrida eleitoral foi o tradicional Eymael, da Democracia Cristã, oficializado pelo partido em convenção realizada na terça-feira (2/8). Será a sexta vez que Eymael concorre à Presidência. Mas a última convenção será do União Brasil, nesta sexta-feira, último dia do prazo.
Confira a seguir os dez nomes confirmados na disputa.
Quem vai concorrer em 2022
Ciro Gomes (PDT)
Foi deputado federal, prefeito de Fortaleza e governador do Ceará. Ciro Gomes ocupou também os cargos de ministro da Fazenda, no governo Itamar Franco, e da Integração Nacional, no governo Lula. Disputou as eleições presidenciais em três oportunidades: em 1998 e 2002 pelo PPS e a de 2018 pelo PDT. Ficou em terceiro lugar na última, quando obteve 13,3 milhões de votos no primeiro turno.
Eymael (Democracia Cristã, DC)
Presidente do partido Democracia Cristã, Eymael, 82 anos, disputou a Presidência da República em cinco oportunidades. Nunca foi para o segundo turno e, no pleito de 2018, fez 0,04% dos votos. Consagrado pelo jingle "ei, ei, Eymael", venceu somente duas eleições, em 1986 e 1990, para deputado federal por São Paulo. A convenção nacional do Democracia Cristã oficializou o nome de Eymael como candidato no dia 31 de julho, em São Paulo (SP).
Felipe d'Avila (Novo)
Formado em Ciência Política e com mestrado em Administração Pública, fundou o Centro de Lideranças Públicas, voltado às boas práticas de gestão, e o VirtùNews, plataforma de jornalismo de dados sobre política e economia. Ex-filiado ao PSDB, nunca exerceu cargo eletivo, mas concorreu em 2018 nas prévias tucanas, vencidas por João Doria, para escolher o candidato a governador de São Paulo.
Jair Bolsonaro (PL)
Foi eleito presidente da República em 2018, no segundo turno, com 57,8 milhões de votos, pelo PSL. Em novembro de 2019, Bolsonaro deixou o partido devido a desentendimentos com líderes da legenda e, após dois anos, filiou-se ao PL em novembro passado. Capitão reformado do Exército, foi deputado federal pelo Rio de Janeiro por sete mandatos, de 1991 a 2018. No dia 24 de julho, convenção do PL no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, oficializou a candidatura à reeleição, com o ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, general Braga Netto, como candidato a vice.
Leonardo Péricles (UP)
Partido mais novo do Brasil, registrado pelo TSE em 2019, a Unidade Popular (UP) participará pela primeira vez da eleição à Presidência. No dia 24 de julho, a convenção da UP confirmou a candidatura de Leonardo Péricles, 40 anos, à Presidência. Morador de uma ocupação urbana em Belo Horizonte, Péricles é líder do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Ele e Vera Lúcia (PSTU) são os únicos negros na disputa pela Presidência. A dentista Samara Martins foi oficializada pela sigla como vice na chapa.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
Governou o país entre 2003 e 2010 e, após obter vitórias em 20 processos judiciais, ficou livre para disputar a Presidência pela sexta vez. Lula foi impedido de participar das eleições de 2018 por ter sido condenado e preso no processo do triplex do Guarujá, na Operação Lava-Jato. No ano passado, o STF anulou as condenações contra ele, por entender que o caso não cabia à Justiça Federal do Paraná. Lula é candidato Federação Brasil da Esperança (PT, PV e PCdoB). Ele terá o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (MDB) como candidato a vice.
Simone Tebet (MDB)
Senadora em primeiro mandato, Simone Tebet, 51 anos, começou sua trajetória política em 2002, quando foi eleita deputada estadual no Mato Grosso do Sul. Em 2015, conquistou cadeira no Senado, onde presidiu a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) por dois anos. Ganhou notoriedade na CPI da Covid, participando como representante da bancada feminina, da qual é líder. A convenção do MDB oficializou o nome de Tebet como candidata à Presidência no dia 27 de julho, em evento online.
Sofia Manzano (PCB)
Natural de São Paulo, é economista, doutora em História Econômica pela USP e militante do PCB desde os 17 anos. Sofia Manzano é professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e foi candidata a vice-presidente da República em 2014, na chapa liderada por Mauro Iasi. Em convenção nacional realizada pelo PCB, em São Paulo, foi confirmada como candidata à Presidência da República.
Soraya Thronicke (União Brasil)
Vice-líder do governo no Congresso, Soraya Thronicke é senadora pelo Mato Grosso do Sul eleita pela primeira vez em 2018 pelo PSL, partido pelo qual Jair Bolsonaro se elegeu presidente. O PSL uniu-se ao DEM para formar o União Brasil. Ao permanecer no PSL, Soraya distanciou-se de Bolsonaro, e o ápice desse distanciamento deu-se durante a CPI da Covid, quando esteve ao lado dos opositores críticos do presidente. É advogada e empresária. A convenção do União Brasil será nesta sexta-feira, em São Paulo.
Vera Lúcia (PSTU)
Vera Lúcia é socióloga e tem 55 anos. Natural de Inajá, no interior de Pernambuco, foi operária da indústria calçadista, onde teve início seu envolvimento com o movimento sindical. Em 2020, foi a primeira candidata negra à prefeitura de São Paulo, recebendo 0,06% dos votos válidos. A convenção do PSTU oficializou o nome de Vera Lúcia como candidata à Presidência em convenção nacional do partido realizada em São Paulo.
Pode ser, pode não ser
André Janones (Avante)
Eleito para o primeiro mandato em 2018 como o terceiro deputado federal mais votado em Minas Gerais, com 178.660 mil votos, André Janones é advogado. Ex-cobrador de ônibus, foi filiado ao PT e chegou a disputar eleição para prefeito em Ituiutaba pelo PSC. Ganhou notoriedade durante a greve dos caminhoneiros, há quatro anos, atuando como uma das lideranças do movimento. O Avante formalizou a candidatura de Janones à Presidência no dia 23 de julho.
Pablo Marçal (PROS)
Se apresenta como "cristão, filantropo, empreendedor imobiliário e digital, mentor, estrategista de negócios, especialista em branding e jurista por formação". Natural de Goiânia, ficou conhecido após precisar do resgate dos bombeiros junto a um grupo na Serra da Mantiqueira sob condições climáticas desfavoráveis no mês de janeiro. Ele liderava os turistas como parte de um treinamento que estimula pessoas a enfrentarem situações desafiadoras.
Alvaro Dias (Podemos)
Está no quarto mandato como senador pelo Paraná. Em sua trajetória política, foi vereador, deputado estadual, deputado federal e governador do Paraná. Começou no MDB, passou para o PSDB e teve uma passagem pelo PDT, retornando ao ninho tucano antes de chegar ao Podemos, partido pelo qual concorreu à Presidência em 2018, quando fez 859 mil votos, ou 0,8% dos votos válidos. É licenciado em História.
Roberto Jefferson (PTB)
Roberto Jefferson, 69 anos, é advogado e natural de Petrópolis (RJ). Chegou a participar de programas de televisão e a ser apresentador na década de 1980. Seu primeiro mandato como deputado federal foi em 1983, emendando seis mandatos consecutivos. Foi cassado após confessar participação no esquema do mensalão. Ficou conhecido por denunciar o esquema de compra de votos, escândalo do qual também participou. Foi condenado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em agosto de 2021, Jefferson teve prisão preventiva decretada por ataques às instituições democráticas em redes sociais. Em prisão domiciliar desde janeiro, o ex-presidente nacional do PTB foi lançado candidato em convenção realizada no dia 1º de agosto em Brasília.