Em uma guinada extrema, com a saída de uma militância de 24 anos do PT, passando por um período no PSB e filiando-se, em 2022, ao PTB, o ex-vereador de Caxias do Sul Rodrigo Beltrão confirma voto em Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. Atualmente com 43 anos, Beltrão consolida sua atuação no governo Adiló Didomenico (PSDB) com a filiação ao partido da base do governo. Em janeiro de 2021, o ex-petista foi nomeado como cargo em comissão (CC8), no Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae), e atua com consultorias jurídicas na autarquia.
Após três mandatos no Legislativo caxiense como vereador do PT, Beltrão deixou a sigla em 2020 após divergências internas. Nas eleições municipais do mesmo ano, chegou a concorrer a vereador pelo PSB, mas não foi eleito. Ao Pioneiro, o ex-petista falou sobre a sua saída do PSB para o PTB e comentou sobre os motivos do voto em Bolsonaro.
Pioneiro: O que motivou sua saída do PT?
Rodrigo Beltrão: Eu entrei no PT muito novo, com 16 anos. Comecei a militar de uma forma mais efetiva em 1995 e 1996, quando o PT surgia como uma proposta de renovação na política. Uma proposta forte muito ligada à geração de trabalho e renda, inversão de prioridades, ensaio de modelos de democracia participativa direta. Eu fui seduzido por toda essa proposta e pelo o quê o PT representava naquela época. Além do ponto de vista programático, comecei a enfrentar algumas contradições do ponto de vista dos princípios, eu comecei a identificar que o PT tinha um formato sistêmico, ou seja, aquela democracia que era pregada externamente, não era pregada internamente [...] Quando chega na hora de compor uma chapa, é uma chapa tradicional sem discussão política com a base. Eu tinha uma visão, e continuo tendo, que os partidos precisam se oxigenar, que o PT precisa de uma renovação necessariamente.
O senhor teve três mandatos como vereador do PT. A principal motivação para a saída foi algo no âmbito municipal?
A minha candidatura em 2018 cumpriu esse papel de apontar uma renovação futura. Do ponto de vista prático, as decisões do PT eram como são as decisões do Vaticano quando elege um Papa, tu ficas lá fora aguardando quando sai a fumaça branca, aí tu recebes as informações. E o candidato a prefeito é quase uma ideia de candidatura profissional a prefeito, ela não está conectada com o debate político. Pegando as crises que se aguçaram a partir da reeleição da Dilma (Rousseff) em 2014, eu fui o para-choque do PT em Caxias do Sul. O Pepe (Vargas), na condição de ministro (da Secretaria de Relações Institucionais), só passava por Caxias pela via aérea, os demais quatro políticos se esconderam, quem fez o enfrentamento do PT naquela ocasião fui eu. Eu entendo que eu cumpri com os meus compromissos com o PT.
Por que a mudança do PSB para o PTB?
O contexto em que eu saio do PT para o PSB é numa perspectiva de ser candidato a vice-prefeito. Do ponto de vista programático, percebi naquela ocasião, que o PSB estava firmando uma aliança nacional com o PDT, através da candidatura do Márcio França, em São Paulo, apontando para uma unidade e uma alternativa em 2022, o que não se consolidou. Por exemplo, em relação ao PSB municipal, eu fui muito bem acolhido. Acho que eles não devem ter uma vírgula para falar da minha postura, assim como eu também não tenho crítica ao PSB municipal, só tenho elogios, foi me dado espaço. Há muito tempo o PSB vinha se desgarrando de ficar refém do lulopetismo, desse guarda-chuva. Quando o PSB faz uma mudança brusca com a filiação do (Geraldo) Alckmin e fecha a chapa com o Lula, eu começo a me debater.
Então, o principal motivo de sair do partido foi essa aproximação com o PT?
Sim, por dois motivos. O primeiro, por essa contradição em que eu não aceito mais estar alinhado com o lulopetismo, eu tenho críticas. Eu acho que o Lula simboliza a candidatura do sistema. Não é à toa que grandes emissoras o apoiam, o sistema econômico o apoia. Parafraseando Romero Jucá (MDB): “é um esquema com STF, com tudo”. Tanto que havia toda uma tendência do STF nos processos do Lula e, de repente, de uma hora para outra, o Lula fica “descondenado”. O STF começa a ter uma militância política como nunca se viu. Agora, a candidatura do Lula, que é uma candidatura sistêmica de homens brancos e ricos, essa candidatura sufoca e adia, mais uma vez, um processo de renovação da esquerda tão necessário. Eu não me alinho.
Por que a escolha pelo PTB?
Na minha trajetória política nunca teve muro. A partir do momento em que eu não me alinho ao lulopetismo, eu procuro um partido que ali na frente não corra o risco de ser tragado por esse sistema. O PTB, além de ser um partido que historicamente é de centro, em algumas ocasiões guina para a direita ou para a esquerda, tem um projeto municipal do qual eu integro. Eu faço parte do governo Adiló (Didomenico), tenho compromisso com este governo e vejo na minha militância no PTB uma forma de consolidar esse projeto municipal.
E quanto ao seu futuro político?
No momento, eu não teria mais o desejo, o interesse de colocar o meu nome à disposição. Porém, não quer dizer que isso não venha a ocorrer a partir de uma ideia coletiva, de uma necessidade política. O meu foco hoje é exercer a minha função, analisar a política e poder auxiliar da forma que eu posso.
Acha que essas mudanças de partido o prejudicariam em uma futura candidatura?
Eu tenho um entendimento de que primeiro eu preciso ser honesto com os meus princípios. Hoje está muito em moda falar o que o povo quer ouvir, tanto que a própria atuação legislativa deixou de ter um foco no plenário, nos projetos municipais a serem debatidos, e está lá na estratosfera desse debate mais virtual, da polarização. Eu sigo firme nos meus princípios. Eu não estou preocupado em agradar ou desagradar. Eu preciso ter uma fidelidade com os meus princípios, com a visão política que eu tenho e, principalmente, com o que eu já vivi. Eu tenho experiência suficiente para saber de qual lado eu não quero estar. A partir daí, eu começo a reorganizar a minha vida política. Posso vir, eventualmente, a disputar uma eleição, mas este não é o foco principal. Eu não faço uma movimentação partidária com vista a um resultado positivo eleitoral.
E na eleição para presidência da República, qual seu voto?
Eu vou votar no Bolsonaro, mas eu não sou bolsonarista, eu não sou idólatra. Existe um cenário de polarização, existe um risco grande do Lula ganhar no primeiro turno. A própria flacidez de uma candidatura do Ciro (Gomes). Infelizmente, o debate político neste momento não tem espaço para disputa de projetos de desenvolvimento ou propostas, nós temos uma eleição polarizada. Eu entendo que a candidatura do Lula é uma candidatura sistêmica, uma candidatura conservadora. O Lula foi candidato em 1989, tem o apoio do sistema financeiro, de todos os atores mais famosos e ricos do país.
Por que o voto no Bolsonaro?
O Bolsonaro, por sua vez, por mais que ele tenha a sua verborragia, que afeta a performance dele, ele se expõe muito nesse debate ideológico, o governo dele não é desastroso. Do ponto de vista dos programas sociais, não houve cortes, houve ampliação do Bolsa Família, que hoje é o Auxílio Brasil. Sem falar que é um governo que pega dois anos de pandemia e reflexos de uma guerra, cujo cerne, o petróleo, afeta o preço de tudo. Eu confesso que quando eu concorri em 2018, eu me posicionei do lado do (Fernando) Haddad, eu tinha muito medo de como seria o governo Bolsonaro. Se for pegar do ponto de vista prático, os atos do Bolsonaro como presidente não há um processo de ideologização, de afronta à liberdade e à democracia. Pode haver no campo de vista do debate. Não é um governo que apresente riscos aos país.
E quanto à descrença do Bolsonaro ao sistema eleitoral do Brasil. Qual sua opinião?
Se nós entendemos que existe 0,0001% de chances da urna ser atacada, ou ter fraude, é porque existe o risco. O que o Bolsonaro tem defendido, e a mesma coisa que o Lula defendeu em 2014, é o voto impresso. É um reforço na segurança das eleições. Temos um mar para nadar do ponto de vista de saber as informações reais. Não é à toa que o Alckmin faz uma mudança brusca e vem ser vice do Lula, existem acordos a serem cumpridos que nós desconhecemos. Da mesma forma se o Bolsonaro empreende essa crítica ao sistema eleitoral é porque, eventualmente, existem informações que não chegaram até nós.