Em agenda no Rio Grande do Sul, a quinta-feira (9) foi destinada aos compromissos de Ciro Gomes (PDT) em Caxias do Sul. O primeiro pré-candidato à Presidência da República a visitar a cidade esteve pela manhã na Marcopolo e, em seguida, foi para almoço com pedetistas da Serra Gaúcha na sede da 25ª Região Tradicionalista, no bairro Sagrada Família.
Com uma hora de atraso, o presidenciável primeiro atendeu à imprensa, e depois desceu para o salão do almoço. Com gritos entusiasmados dos pedetistas pelo seu nome, Ciro foi ovacionado pelos presentes, discursou, fez fotos com apoiadores e deu autógrafos.
Sem mudança no discurso de entrevistas anteriores, Ciro fez críticas aos pré-candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), mas justificou que prefere disputar o segundo turno com o petista.
— Seria melhor para o Brasil eu ir para o segundo turno contra o Lula porque teríamos pacificado a democracia brasileira — disse.
Para o presidenciável trabalhista, ele é o único dos pré-candidatos que é contra o sistema econômico e político que foi utilizado por Lula e segue sendo utilizado por Bolsonaro.
Durante a aparição no almoço, Ciro esteve sempre acompanhado do pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul, Vieira da Cunha (PDT), que teve sua pré-candidatura lançada na noite desta quarta-feira (8) em Porto Alegre.
Em Caxias, Vieira da Cunha afirmou que a direção nacional do PDT está honrando o legado de Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul.
— A direção está fazendo com que o PDT não seja rabo de pandorga de ninguém, que tenha candidato próprio à Presidência da República: Ciro Ferreira Gomes. Pela mesma razão, eu não titubeei quando o nosso presidente estadual me convocou para ser candidato a governador do Rio Grande do Sul. O partido com o maior número de filiados do Rio Grande do Sul. Nós somos candidatos para liderar a chapa prioritária e recolocar o nosso PDT lá no Palácio Piratini.
Após o discurso no almoço, Ciro seguiu seu roteiro pela cidade com compromissos na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) com empresários, Empresas Randon e reitoria da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
O QUE DISSE CIRO GOMES
COMO CHEGAR NO SEGUNDO TURNO
"Hoje toda a premissa do debate no Brasil, empurrado por um certo jornalismo descuidado lá de São Paulo, e dos políticos, especialmente, parece que há um ano a eleição já está resolvida e de forma absolutamente despolitizada. Uma discussão que já havia começado em antecedências muito graves, como na 2ª Guerra Mundial, que era a luta do fascismo contra o comunismo. Isso passa muito longe do que é a agenda do povo brasileiro. Hoje, 70% do povo brasileiro está desempregado, no desalento ou na informalidade mais selvagem. A renda brasileira é a pior da história. Nós temos que discutir essas coisas. porque a política não é para os políticos. É o momento em que as democracias estabelecem uma grande discussão, na frente do povo, sobre as causas estruturais do problema e sobre as soluções que se propõem. É assim que eu pretendo superar os meus adversários".
NOVO MODELO ECONÔMICO E POLÍTICO
"Lamentavelmente, Lula e Bolsonaro, que são pessoas diferentes, representam rigorosamente duas coisas que são a causa desse desastre brasileiro: o modelo econômico que destrói a produção, os empregos e os salários e privilegia bancos, e o modelo político que privilegia a corrupção transformando a Presidência da República, há 30 anos, em uma testa de ferro de corrupção. Eu tenho propostas completas para colocar um novo modelo econômico no lugar dessa tragédia e um novo modelo de governança política. Se eu tenho sorte, abençoado por Deus, de ter a atenção do povo brasileiro, a possibilidade de vitória é muito grande, mas não quer dizer que é fácil. Eu sou o único candidato contra esse sistema".
COM LULA NO SEGUNDO TURNO
"Seria melhor para o Brasil eu ir para o segundo turno contra o Lula porque teríamos pacificado a democracia brasileira. Não teríamos mais esse juízo "odiento" do bolsonarismo e lulismo radicais. Isso ficaria resolvido. Nós ficaríamos em paz garantindo a democracia. Garantindo, também, a profunda diferença entre um presidente que teve um momento importante para o Brasil, eu estive lá e ajudei, e que, infelizmente, eu vi de perto que se corrompeu e que não compreende mais os desafios do mundo moderno e do Brasil. (Lula) está produzindo, talvez por despreparo mesmo porque parou no tempo-espaço, o maior estelionato eleitoral da história do Brasil por deixar que a população imagine que é só tirar o Bolsonaro e colocar o Lula que vão voltar aos tempos generosos de picanha e cerveja. Isso nunca foi verdade. O mundo é outro. Se o povo votar acreditando nessa simplificação grosseira, será um ambiente de absoluta inconfiabilidade do sistema político."
PACTO FEDERATIVO
"Entre outros aspectos da crise brasileira, que o Bolsonaro agravou, mas não foi ele que criou, está a destruição do pacto federativo brasileiro, e estou falando do Rio Grande do Sul. 23 dos 27 estados brasileiros estão quebrados. O Rio Grande do Sul está definhando na sua estrutura pública. A educação aqui, que já foi modelo para o Brasil, está decaindo. A Brigada Militar, que quando eu era colega do grande brasileiro e gaúcho Alceu Collares (ex-governador do RS pelo PDT de 1991 a 1995), tinha três vezes o efetivo que tem hoje. O salário dos professores está declinando. Por quê? Porque o Estado perdeu a excelência da sua classe política? Não. O Rio Grande do Sul tem um quadro de políticos muito preparado em todos os partidos, mas o Piratini virou, a propósito do pacto federativo construído, uma usina de destruição de lideranças. Recomendo, com muita humildade, que não aceitem esse acordo que o governo federal está impondo aos senhores."
POLÍTICA NA PETROBRÁS
"O Brasil mudou a política de preços da Petrobrás, criminosamente, para atender de novo a "banqueirada". Como deveria se formar o preço da gasolina? O custo que ela gasta para produzir e mais o lucro razoável, sendo que ela não tem o custo do concorrente porque é um monopólio do Estado brasileiro dado a ela. Pelos conchavos do Lula, ele entregou 60% do capital não votante da Petrobrás para os bancos estrangeiros e brasileiros. Esses bancos começaram a exigir como acionistas que a Petrobrás saísse da sua linha de preços de custo mais lucro razoável para ganho de oportunidade no curto prazo. Eles conseguiram porque, no conchavo do Lula, ele botou o Michel Temer, que pensa o oposto do que nós pensamos para o povo, como vice da (ex-presidente) Dilma Rousseff, que não era do ramo. Agora, será o (Geraldo) Alckmin se o Lula ganhar. O Alckmin pensa o oposto do que o Lula anuncia, em todos os assuntos. O fato é que o Michel Temer trocou a política de preços da Petrobrás com uma canetada. O Brasil produz o barril de petróleo mais barato do mundo [...] Vamos ver como as grandes petroleiras do mundo estão fazendo com as suas estruturas? Eles fazem entre 6,5 a 7% de lucro ao ano. A Petrobrás é 38%. Com esse lucro a Petrobrás está se retraindo, se demitindo de coisas graves como a reconversão energética. Nosso país é um país assaltado. Comigo, se eu tiver um dia a honra de servir esse país, acaba tudo. Ou eles me matam ou eu derrubo isso."