Deputado estadual em terceiro mandato, Edegar Pretto é o pré-candidato do Partido dos Trabalhadores para a disputa ao governo do Rio Grande do Sul. Na última quinta-feira, ele cumpriu agenda em Caxias, conversou com aliados e lideranças políticas locais e prestigiou a Festa Nacional da Uva e o desfile cênico. O Pioneiro tem entrevistado os pré-candidatos em visita a Caxias, ainda nesta condição informal. Pretto falou sobre as perspectivas da próxima disputa eleitoral e da influência de Lula nas eleições gerais para o partido. Confira os principais trechos:
O Rio Grande do Sul tem demonstrado tendência maior para a direita nas últimas disputas. Como tentar reverter?
Acho que isso já é página virada. O Rio Grande do Sul não pode mais ser considerado Estado bolsonarista, no máximo um Estado polarizado, o que sempre foi. O PT viveu um período muito difícil que foi na última eleição. Foi o pior momento do nosso partido, pois colocaram na cabeça das pessoas que bastava tirar o PT do poder que todos os problemas do mundo seriam resolvidos. Muitos e muitos trabalhadores, a maioria, que tiveram atendimento nas políticas que constituímos em nível nacional com o Lula, a presidenta Dilma (Rousseff). Mas caíram no canto da sereia e acharam que era possível melhorar sua vida na escolha que fizeram com o (presidente Jair) Bolsonaro. Trabalhador que não vive a política logicamente não podemos depositar neles nenhuma responsabilidade por essas decisões, mas as lideranças levaram as pessoas a acreditar nessa possibilidade de eleger um cidadão que não tem a mínima condição de estar à frente do cargo que ocupa.
Por que acha que esse cenário pode ter mudado?
A realidade chegou. As pessoas comparam o que foram suas vidas no governo do PT e o que está sendo hoje. Tenho certeza que essa mudança dos trabalhadores, a própria periferia, que migrou para Lula e deixou de ser bolsonarista foi porque começou a fazer as contas. Vai no mercado, leva cada vez mais dinheiro e a compra tá cada vez menor. A cesta básica na época do PT era R$ 277, agora no Rio Grande do Sul é R$ 691, consome a maior parte do dinheiro de um assalariado. Estamos pagando a comida mais cara do país no Estado. O combustível, 15 aumentos em um ano, preço do gás, da energia, custo da vida, desemprego. As pessoas estão notando que a vida era melhor, quando era pleno emprego, salário mínimo subia 76% acima da inflação, quando erradicamos a fome. A nossa visão era e continua sendo essa. O povo trabalhador tendo poder aquisitivo vai gastar mais e o empresário vende mais, a indústria fabrica mais. Foi nessa visão que o Brasil chegou a ser a sexta economia do mundo. Hoje é a 12ª com perspectiva negativa de cair ainda mais. Esse olhar de esperança que os trabalhadores depositam no Lula é real.
Você falou que 2018 foi o pior momento do partido. O elemento Lula influencia como as demais candidaturas do PT nessa próxima eleição?
Muito positivamente, o Lula é o nosso cabo eleitoral. Não só a figura do Lula, mas o legado e os governos que ele constituiu. É um fator muito positivo para essa retomada que o PT está tendo. Em muitos Estados importantes, (o PT) continua sendo alternativo real de poder ou retomada. No RS com certeza estaremos no segundo turno. E no Brasil é Lula eleito no primeiro turno ou polarizando no segundo turno com o Bolsonaro.
E no Estado, qual é a postura com relação aos dois últimos governos?
Os governos nossos, todo ano, celebrávamos que o PIB era acima da média nacional e fomos perdendo essa condição, pois o governo passado e o atual têm abdicado de tratar setores produtivos como parceiros. Tenho exemplos de que a gente está estudando e avaliando os números. De agosto de 2020 a agosto de 2021, 25% das pequenas e microempresas, trabalhadores formais e MEIs encerraram as atividades no Rio Grande do Sul em um ano. Impactou em meio milhão de empregos e o governo fez vista grossa, não usou a estrutura do Estado. Na seca também, pela primeira vez vemos um descaso de um governador. Pior seca das últimas décadas e o governador mais preocupado com seu futuro político do que governar.
Há sinalização de aliança do PT com PSB, a gente sabe que PSB no RS é diferente de outros Estados, é aliado do PSDB, por exemplo. Como você avalia a questão da federação partidária no Estado?
O PT está lutando para que aconteça a federação, se defender do partido sairá. Obviamente que queremos entrar na federação sendo reconhecidos pelo tamanho que nós somos. Não queremos entrar na federação tendo que nos diminuir. Essa conversa que tenho tido com a direção nacional, eles indicam que estamos acertados com PV e PCdoB, não está certa ainda a federação com o PSB, que acena possibilidade de fazer aliança com o presidente Lula e nos Estados onde for possível.
Para fortalecer a candidatura, o partido estaria disposto em abdicar da sua pré-candidatura e apoiar, por exemplo, Beto Albuquerque (PSB) ou algum outro candidato proposto pela nacional?
A nossa pré-candidatura tem como prioridade também a eleição do presidente Lula. O nosso partido nacionalmente está com essa prioridade. Mas o próprio presidente Lula defende que aqui no Rio Grande do Sul nós temos de apresentar um projeto alternativo ao que aí está. E para ser um projeto alternativo, é muito difícil alguém estar na cabeça de chapa estando na base do Eduardo Leite e, não só isso, apoiando as privatizações, retirada de direitos dos trabalhadores. Já conversei com o PSB, já falei com Beto Albuquerque, se depender do PT queremos constituir uma frente que o PSB esteja junto, mas claro, o PT reivindica um reconhecimento do nosso tamanho. Já governamos o Estado duas vezes, as principais cidades, somos pela quinta vez consecutiva a maior bancada na Assembleia.
Mas seria prerrogativa do PT ser cabeça de chapa?
Acreditamos que a nossa pré-candidatura, do PT, pela identidade que temos com o presidente Lula tem muito mais possibilidade de ir para o segundo turno. A nossa pré-candidatura tem esse sentido, de fortalecer a chapa nacional, mas representar uma alternativa no Estado também.
Muitos partidos de esquerda dizem que o grande objetivo é derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo. A linha do PT é a mesma?
Eu acho que sim. De certa forma, sim. O nosso presidente Lula, por exemplo, está montando chapa com o Geraldo Alckmin com esse pensamento. Achamos que nada é mais importante do que derrotar o fascismo, Brasil não vai suportar mais quatro anos de um governo como este.
E num cenário hipotético de segundo turno sem Lula na disputa. O PT estaria disposto a apoiar qualquer outro candidato contra Bolsonaro?
Não avaliamos ainda a possibilidade de não estarmos no segundo turno.