Quando se exaltou a eleição de cinco mulheres para compor a Câmara de Vereadores n a legislatura 2021-2024 como a maior da história do Legislativo caxiense, a leitura que se fazia era quantitativa. Contudo, na prática, ao longo do primeiro ano de mandato, a participação feminina mostrou-se ainda mais efetiva e qualitativa do que se ensaiava após o pleito. Só em 2021, oito vereadoras passaram pelo plenário. Além das eleitas, Denise Pessôa (PT), Marisol Santos (PSDB), Gladis Frizzo (MDB), Estela Balardin (PT) e Tatiane Frizzo (PSDB), ocuparam cadeiras as suplentes Andressa Marques (PCdoB), Cleonice Araújo (PT, a Cleo) e Rose Frigeri (PT).
A representatividade transcendeu o Legislativo. Paula Ioris (PSDB) foi eleita vice-prefeita, com atuação que superou os estigmas de "vice decorativo" ou "vice obstáculo". Pelo contrário, Paula teve participação ativa na administração, tanto na tomada de decisões quanto na interrelação entre o secretariado. E mais: assumiu no final deste ano como prefeita após licença-saúde de Adiló Didomenico (PSDB). Além de Paula, na administração direta e indireta, outros oito cargos de titularidade foram ocupados por mulheres. Ainda constituem minoria no quadro, porém, posições de front foram assumidas por elas, entre as quais, a diretora-presidente da Codeca, Helen Machado, comandando a empresa no período de maior instabilidade financeira; Grégora dos Passos como secretária de Governo, na responsabilidade de manter harmonia na relação entre Executivo e Legislativo; Sandra Negrini como secretária da Educação; e Daniele Meneguzzi como titular da pasta de Saúde, ambas no comando de duas das principais pastas do poder público com o agravante de gerir excepcionalidades causadas pela pandemia.
— Ainda estamos em desequilíbrio em comparação aos homens, mas entendo que tudo que a gente, escolhe, decide, elege como prioridade está relacionado ao nosso campo perceptivo, às nossas vivências. As mulheres vivem papéis diferentes dos homens, situações diferentes. Na medida que temos diferentes vivências pela própria natureza genética, ocupando espaços na política, vamos usar esse campo de experiências para definição de políticas públicas, tomada de decisões — destaca a prefeita em exercício, Paula Ioris.
Além das mencionadas acima, complementam a administração Aline Zilli (Cultura); Daniela Reis (Recursos Humanos e Logística); Katiane Boschetti (FAS); e Margarete Bender (Planejamento).
2022 ainda mais feminino
Não foi sem luta que Denise Pessôa (PT) foi eleita presidente para o próximo ano do Legislativo caxiense. Mesmo com um acordo informal vigente, a sua condução para o comando da Mesa Diretora foi contestada, não necessariamente por ser mulher, nesse caso, mas, por ser mulher, o confrontar da situação foi mais natural. Denise já viveu outros cenários de adversidade, sendo atualmente a vereadora mais experiente entre as cinco. A petista chegou a ser a única voz feminina em plenário. Como ilha, enfrentou a perspectiva de estranha no ninho, algo parecido com o que a correligionária do seu partido, Dilma Rousseff (PT), viveu estando na presidência da República de 2011 a 2016. Hoje, no entanto, Denise enxerga naquele mínimo espaço que ocupou de representatividade o início de uma construção.
— É difícil trabalhar de forma isolada. Teve legislatura que tive de trabalhar sozinha. Ao menos tempo era difícil dar conta de todas as pautas, era uma provocação no próprio plenário em si ter um ser estranho. Talvez se eu não estivesse ali ninguém nem sentiria falta das mulheres. Mas o fato de eu estar ali sozinha suscitava a dúvida 'por que só tem ela de mulher?'. Acho que tudo são provocações, é como conseguimos avançar — acredita.
Como prerrogativa do cargo que ainda vai exercer, já se autointitula 'presidenta'. É apenas a terceira mulher a ocupar o comando do Legislativo _ as outras, Rachel Grazziotin (1985/86) e Geni Peteffi, em 2012. Porém, de uma perspectiva alternativa, nessa legislatura a Mesa ainda resguarda futuros novos marcos.
— Tudo indica que teremos duas presidentas nessa legislatura. Vai dobrar o número de presidentas na história. Já é um grande ganho. Essa próxima Mesa é a maior representação de mulheres na história e são os dois maiores cargos (Tatiane Frizzo será primeira vice). O mais comum é as mulheres estarem nas secretarias da Mesa Diretora. Então conseguimos avançar para estar na presidência e vice-presidência, é um marco. A gente representando uma casa legislativa vamos mudar pensamento da casa como um todo, é uma construção — ressalta.
Outra mulher eleita como presidente neste ano foi Ana Carla Hendler Gava Furlan para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), subseção de Caxias do Sul. Ela toma posse em 2022.
PROCURADORIA ESPECIAL
As vereadoras eleitas praticamente criaram uma bancada à parte pluripartidária com a Procuradoria Especial da Mulher (PEM), grupo do Legislativo voltado a ações, campanhas e interlocução do público feminino, especialmente mulheres em situação de violência. Neste ano, Denise Pessôa comandou a PEM (a nomenclatura da função é "procuradora") e no próximo ano, o grupo será será coordenado por Estela Balardin (PT).
Construção natural e contínua
Apesar das celebradas conquistas, ainda há muitos espaços a serem conquistados, afinal, na política, a mulher continua uma minoria significativa. A construção, portanto, precisa prosseguir.
— Teve uma pesquisa da Justiça Eleitoral questionando como um cidadão comum imagina um político. A maioria pensa em homem branco de meia idade. Por quê? Porque é o que as pessoas estão acostumadas a ver. Quando perceberem que podem ser representadas pelas mulheres e quando a Câmara é representada por uma presidente mulher isso dá visibilidade maior da mulher ocupando espaços políticos e ajuda na construção da política diversa. É um processo ainda sendo construído, essa mudança de pensamento — avalia Denise Pessôa.
Para ela, cabe também às mandatárias demonstrar que o trabalho vai além da pauta feminina.
— Efetivamente, a gente vê nas propostas das vereadoras uma amplitude maior, desde posicionamentos referentes às questões das mulheres, até posicionamento de mulheres sobre aspectos da cidade. Claro que temos de pensar políticas públicas para mulheres, mas representamos também olhar diferente da cidade em temas como finanças, educação, planejamento urbano, saúde. Essa é a forma mais rica que a política e a cidade ganham.
Na visão de Paula Ioris, as peculiaridades do olhar feminino devem contribuir para expansão da ocupação de cargos relevantes e estratégicos na política.
— Sempre levantei essa bandeira de preparar e incentivar mulheres a ingressarem na política. Já houve esse aumento em Caxias, espero que seja cada vez maior, que as mulheres percebam cada vez mais a contribuição que elas podem dar na política. Que a mulher possa ter cada vez mais poder decisório, possa influenciar mais justamente a partir das características que a mulher tem, na administração de conflitos, na qualidade da escuta — defende a prefeita em exercício.
MULHERES NOS PODERES
Executivo
- Paula Ioris (PSDB) - vice-prefeita e prefeita em exercício.
- Helen Machado - diretora-presidente da Codeca.
- Daniele Meneguzzi - secretária da Saúde.
- Gregora dos Passos - secretária de Governo.
- Aline Zilli - secretária da Cultura.
- Daniela Reis - secretária de Recursos Humanos e Logística.
- Katiane Boschetti - presidente da Fundação de Assistência Social (FAS).
- Margarete Bender - secretária de Planejamento.
- Sandra Negrini - secretária de Educação.
LEGISLATIVO
Vereadoras
- Denise Pessôa (PT)
- Marisol Santos (PSDB)
- Gladis Frizzo (MDB)
- Estela Balardin (PT)
- Tatiane Frizzo (PSDB)
Suplentes que ocuparam cargo em 2021
- Andressa Marques (PCdoB)
- Cleonice Araújo (PT)
- Rose Frigeri (PT)
Outros cargos
- Fernanda Paglioli - diretora-geral da Câmara de Vereadores
- Eliana Tedesco - diretora legislativa
- Taiane Pozzi - diretora administrativa