Mais de sete anos após receber a última visita presidencial, Caxias do Sul integrará a agenda de Jair Bolsonaro (sem partido) em passagem pelo Rio Grande do Sul entre sexta e sábado. Desde fevereiro de 2014, quando Dilma Rousseff (PT) prestigiou a Festa Nacional da Uva, a cidade não recebia um chefe de Estado. Bolsonaro esteve em Caxias em abril de 2018, mas na época era pré-candidato à Presidência. Desde que assumiu, ainda não havia vindo ao município, embora sempre tenha mantido relações e receptividade no Palácio do Planalto com empresários e apoiadores da região. Na Serra, Bolsonaro participou, em dezembro de 2019, da cúpula do Mercosul, realizada em Bento Gonçalves. A região, no entanto, foi apenas sede do evento internacional e não a pauta, como desta vez.
Na agenda a ser cumprida, Bolsonaro deve desembarcar em Caxias no início da tarde desta sexta, interagir brevemente com apoiadores no próprio Aeroporto Hugo Cantergiani e se deslocar por terra até a Universidade de Caxias do Sul (UCS), onde conhecerá a fábrica de grafeno da UCS. A visita ocorre um ano e cinco meses após o presidente ter recebido o primeiro convite formal para a inauguração da UCSGraphene. Em 12 de fevereiro de 2020, uma comitiva caxiense esteve no Palácio do Planalto convidando o chefe da nação para a abertura oficial da planta fabril, marcada para o dia 14 de março seguinte, mas o evento acabou sendo cancelado devido à pandemia. A UCSGraphene foi inaugurada oficialmente em 15 de abril do ano passado, em uma cerimônia para público restrito e transmissão pela internet.
Nesta sexta-feira, uma espécie de nova inauguração será feita. A chegada na universidade está prevista para as 14h. Bolsonaro finalmente irá prestigiar a primeira planta de produção de grafeno em escala industrial da América Latina e também participar da abertura da 1ª Feira Brasileira do Grafeno, que ocorre de 9 a 16 de julho no Ginásio I da Vila Poliesportiva.
— O presidente é uma figura importante para apoiar e validar (a produção de grafeno) um projeto que apresentamos de desenvolvimento científico, tecnológico, visando contribuir para as nossas pesquisas para que o Brasil não seja exportador de commodities, mas seja exportador de novas tecnologias — exalta o reitor da UCS, Evaldo Kuiava.
A visita coincide com momento de maior turbulência no governo, que enfrenta a CPI da Covid no Senado, denúncias de envolvimento em esquema de propina para compra de vacina e participação de Bolsonaro no recebimento de "rachadinhas" (apropriação de parte de salários de servidores) quando era deputado. Por outro lado, esta semana, o presidente anunciou a prorrogação do auxílio emergencial por três meses. Já as quase 530 mil mortes por covid no país também desgastam o presidente.
PÓS-GRAFENO
O presidente deve discursar durante o evento em um palco dentro do ginásio. Também na UCS, Bolsonaro deve prestigiar modelos de veículos apresentados por Agrale, Randon e Marcopolo. Antes do fim da tarde, o presidente deve se deslocar de helicóptero para Bento Gonçalves, onde se reunirá em jantar com representantes do setor vitivinícola e líderes empresariais do município, passará o pernoite e, no sábado (10), se deslocará para Porto Alegre.
Expectativas e incertezas
Muitas das possibilidades de expansão da agenda esbarram na logística e exposição do próprio presidente. Com isso, apesar do interesse amplo de aproveitar a visita, a programação acaba sendo limitada e, muitos detalhes não foram divulgados até a noite desta quinta-feira também por motivos de segurança. O roteiro oficial na Serra, pode-se dizer, é simples: aeroporto-UCS-Bento Gonçalves. Inicialmente, a expectativa era de que o presidente também visitasse a Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias (CIC), onde participaria do descerramento de placa alusiva aos 120 anos da entidade. A atividade é improvável, mas a expectativa da CIC permanece, principalmente considerando que Bolsonaro é conhecido por "sair dos protocolos".
Ainda assim, mesmo que Bolsonaro não prestigie o ato na entidade, o presidente Ivanir Gasparin, vice-presidentes, conselheiros e diretores devem levar a placa até a universidade para, de alguma forma, obter o prestígio presidencial. A CIC de Caxias não deve apresentar demandas ao presidente, pois, conforme a assessoria de imprensa, a diretoria já remeteu reivindicações ao chefe do Executivo em visitas recentes ao Planalto. Já a Associação das Entidades Representativas de Classe Empresarial da Serra Gaúcha (CICS Serra) tentará apresentar demanda por melhorias na infraestrutura da região.
Também na expectativa de que o presidente fuja do protocolo, a região espera anúncios de investimentos, até o momento não sinalizados. Opositores, especialmente, reconhecem a importância do prestígio presidencial, contanto que vinculado a benefícios para a região. Nada, no entanto, foi confirmado.
PRÊMIO INCERTO
Causador de controvérsia na Câmara e na própria sociedade caxiense, a entrega do Prêmio Caxias do Sul por parte do Legislativo ainda era uma incerteza na tarde de ontem. A diretora-geral da Casa, Fernanda Paglioli, informou ao Pioneiro que não havia certeza da possibilidade de acesso do presidente da Câmara, Velocino Uez (PTB), ao presidente Bolsonaro — Velocino sequer teria recebido convite, informou.
Também não havia sido informado para a direção da Câmara como e quando seria possível realizar o ato. Mais cedo, o vereador Sandro Fantinel (Patriota), convidado a participar da agenda, disse à reportagem que entregaria a distinção, embora sem certeza sobre em que momento ocorrerá a homenagem.
Além da visita, o investimento almejado
Para a Universidade de Caxias do Sul (UCS), ser motivo de visita presidencial já é uma honraria o bastante. Para o reitor, Evaldo Kuiava, a projeção do grafeno através do respaldo institucional não deixa de ser um estímulo para expandir a produção do setor:
— Nossa expectativa é poder mostrar o que estamos fazendo na UCS. É um projeto ousado, mas real. Cento e trinta empresas estão interessadas em desenvolver produtos com grafeno. Temos que pensar em como multiplicar a produção, em equipes, e já estamos desenvolvendo novos equipamentos para qualificar o produto e ampliar a escala. Até o final do ano, pretendemos ampliar a planta de produção — afirma o reitor
A expectativa de Kuiava é que, com o presidente vendo de perto o trabalho desenvolvido pela UCSGraphene, o governo federal aporte recursos para a ampliação da fábrica, além de investimento em projetos para a aplicação do produto. Segundo ele, a planta fabril tem um laboratório robusto, mas quando a escala é industrial, a demanda é ampla. Por isso, a necessidade de recursos para ampliação, sem especificar valores necessários. O planejamento é chegar a 10 reatores para a produção — hoje são dois em funcionamento na unidade de negócios. Conforme Kuiava, com investimento, o Brasil pode deixar de exportar grafite em forma de commodity e passar a vender tecnologia aplicada, que tem maior valor agregado.
Conforme o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), que acompanhará a comitiva presidencial, a UCS deve apresentar uma proposta pleiteando recursos para aumento da produção. O valor, no entanto, não foi divulgado.