O ex-prefeito de Caxias Alceu Barbosa Velho (PDT) garante ter se aposentado da vida política. Isso em termos eleitorais, de cargos eletivos, pois se assume como palpiteiro desimpedido, especialmente em redes sociais. É na internet que ele inclusive surge esporadicamente com opiniões sobre os governos, especialmente o de Jair Bolsonaro (sem partido), que apoiou nas eleições de 2018, mas hoje admite arrependimento. Ao Pioneiro, Alceu falou sobre esse arrependimento e também da atual "organização" do PDT, envolto em divergências. Confira trechos:
Tivemos manifesto de integrantes da comissão provisória pedindo para serem excluídos. Qual o problema do PDT? Qual dificuldade de entrar nos eixos?
A primeira dificuldade foi não poder fazer a eleição, por motivo simples e justificado, que é a pandemia. A comissão provisória é uma exceção, tanto que é por alguns meses, logo ali na frente, parece que sai a eleição. O nome já diz: provisória. Mas evidente que pessoas discutem e verbalizam. Num partido político, isso é normal. Eu, evidentemente, fico chateado com tudo isso, tanto que me afastei total (do partido). Não consigo ver as pessoas achando motivo para discórdia onde não há discórdia. O objetivo é o mesmo: o crescimento do PDT. Mas acontece em todos os partidos, só que, infelizmente, no PDT vem verbalizado via jornal, mas acho que a comissão foi bem escolhida, a (executiva) estadual agiu bem, na falta da eleição tinha de ter uma comissão, alguém responsável. Quem foi colocado ali eu tenho todos em alta conta. A executiva estadual pediu não só pra mim, mas para muitos pedetistas de Caxias, e esses nomes foram endossados. Agora, quem não está satisfeito, é muito fácil: não quer, pede para sair.
Ainda assim, são nomes de peso. Isso não acaba expondo mais um agravante para a busca de unidade?
Evidente que não é bom. Às vezes, as pessoas querem que as coisas sejam como elas pensam e querem, não admitem o contraditório. Vejo com bastante preocupação a não aceitação. O Lucas (Del, presidente provisório) é uma pessoa supera finada com o PDT, uma liderança nova, a Cecília (Maria Cecília Possa) também, todos os órgãos de ponta (movimentos setoriais) do partido, sindicatos, estão representados. Eu respeito a decisão deles, mas é melhor sair do que ficar falando mal e ficar indo para o jornal toda hora falar mal do PDT. Não quer? Pede para sair, e se acha que não tá bom vai embora, não tem problema. Essa história de ficar toda hora só reclamando... É muito difícil. Eu não aguento isso, tento de alguma forma ajeitar, mas é difícil.
Algumas pessoas saíram por desalinhamento ideológico. Acha que o PDT tem identidade ideológica em Caxias hoje?
Vejo que identidade ideológica não existe mais em lugar nenhum. Eu sou daqueles que defende aquilo que é certo, justo e correto e não defende aquilo que é errado. Às vezes, o nosso adversário tem pensamento positivo. Eu, quando vivi na política, eu consegui entender isso, não era por que era do PT que eu não aceitava opinião, que não dialogava, que não voltava atrás. Hoje é esse maniqueísmo, se está do meu lado presta e se não está, não presta.
Elemento Bolsonaro entra nesse contexto. Muitos questionam (vereador Ricardo) Dane luz por ser apoiador de ideias do presidente, o que muitas vezes diverge com a ideia conceitual do PDT trabalhista, progressista. Como mediar essa situação?
O Dane luz é um vereador trabalhador, que na Câmara só nos deu orgulho. Às vezes, ele envereda por pensamento que não é que seja ideológico, mas é aquilo que ele acredita mais. Mas o Dane luz sempre se mostrou a favor da educação, da honestidade. Duvido que ele ache certo essas negociatas de vacina. O fato de ele ser um homem bom não justifica todo esse bombardeio. Esse maniqueísmo é que mata todos. Não pode em nenhum momento admitir que teu adversário tem algum pingo de verdade só porque é opositor. Bolsonaro eu acho que está indo muito mal, a questão da vacina foi muito mal tratada, essa questão da saúde foi muito mal tratada. Agora, o cara resolve vir para Caxias do Sul inaugurar um negócio que é um orgulho da nossa universidade, isso não tem nada a ver com política partidária, isso é institucional. Mas tem pessoas que só pensam numa coisa, se não gosta dele não pode nem chegar perto. Por mais que eu não fosse do PT, e não sou, tenho minhas críticas, quando fui prefeito sempre fui muito bem recebido pela Dilma, sempre convivi bem com todo mundo e sei o resultado que trouxe para Caxias. Não significava que eu era conivente com aquilo que o PT fez de errado, mas não podemos relegar a posição de político, diálogo e sensatez.
O senhor se tornou bastante crítico do presidente Jair Bolsonaro. Está acompanhando a CPI? O que está achando?
Se não fosse um servidor público, a patifaria e a corrupção tinham se materializado naquela história de (negociações para aquisição da) Covaxin. Como pode um governo estar recebendo aquele tipo de gente? Aquele policial, pessoal que tu não recebe nem num gabinete de assistente de qualquer coisa sendo recebido pela alta cúpula do governo. Graças a Deus que tinha servidor público que denunciou e não aconteceu, não se consumou. 'Ah, mas não foi comprada nenhuma dose de vacina.' Mas às vezes a pessoa dá cinco tiros e não consegue matar, mas ainda é tentativa de homicídio.
E a questão da denúncia sobre possível envolvimento de Bolsonaro no esquema das rachadinhas, se avançar isso de algum modo, seria mais uma decepção para o senhor?
Aí o problema não é só o Bolsonaro. Em Brasília, até as emas do Congresso sabem que existe rachadinha em tudo que é gabinete, em tudo que é partido. Ele e muito mais, pois parece que a prática na família era mais contumaz, mas dizer que só o Bolsonaro fazia rachadinha é esconder sol com a peneira. Até as emas lá sabem que dos 500 gabinetes lá escapam meia dúzia, se escapar. É claro que ele é a figura maior da República e não poderia isso estar acontecendo agora. Houve isso aí, só um cego não enxerga, mas não é só ele.
Mas por ser uma "normalidade" não tira a gravidade ou exime de ser corrupção?
Evidente. Tentativa de homicídio também é crime, tentativa de furto também é crime.
Se arrepende de ter votado no Bolsonaro?
Amargamente.
E se o segundo turno das eleições fosse hoje?
Hoje eu votava em branco.
O senhor reconhece arrependimento, mas a gente vê ainda muitos defensores dessas pautas mais polêmicas do Bolsonaro.
Isso sempre teve. A mesma coisa quando teve apoiadores do PT, isso sempre existiu, infelizmente. É o populismo. O mundo inteiro diz que a história de cloroquina, ivermectina não existe e o Brasil, em vez de se preocupar com a vacina, mandou aumentar produção de cloroquina. Esse negacionismo passa muito perto da loucura. Aqueles que falaram mal da vacina, seja bolsonarista ou não, quando vem a vacina não vê a hora de fazer. Isso é uma atitude de louco, fala mal, fala mal, aí vê que a solução do mundo é essa, aí toma a vacina, mas continua negando.
O senhor condena a defesa do Bolsonaro por esse discurso populista. A mais recente defesa dele é pelo voto impresso. O que pensa?
Isso é uma cortina de fumaça. Os filhos dele, ele, se elegeram a vida inteira com esse sistema eletrônico. Nunca foi provado nada a respeito disso. Enquanto isso, passou no Congresso, na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), R$ 6 bilhões para o fundo eleitoral, e mais de R$ 1 bilhão de fundo partidário. E veja lá como votaram os Bolsonaros, o PT, como todo mundo votou. Tem voto de todo mundo e como pode um país que está morrendo gente pois não tem oxigênio gastar R$ 6 bilhões para comprar santinho? E essas emendas (parlamentares)? 'Ah, dei emenda para tal lugar', quem deu, rapaz, esse dinheiro é público, dinheiro nosso, do orçamento da União. E o pior de tudo: acha que esse Congresso tá ruim? Aguarda o próximo.
E nas próximas eleições, o senhor pretende colocar seu nome à disposição?
Não, absolutamente não.
Se aposentou da política como candidato?
Com todas as letras. Vou continuar emitindo minha opinião com juízo de valor.
O que pensa do governo de Adiló Didomenico até o momento?
Está fazendo o possível. Adiló você pode dizer qualquer coisa, mas não pode falar da pessoa, é uma pessoa superquerida, abençoada, homem do bem. Seis meses é muito pouco, mas dentro daquilo que é possível fazer, ele está fazendo.