Uma das vereadoras mais experientes da atual composição da Câmara de Caxias, Denise Pessôa (PT) falou com o Pioneiro a respeito do início da nova legislatura, os diferentes perfis de parlamentares e sobre algumas das suas principais bandeiras, como fiscalização da implantação do programa de concessão de rodovias do Estado na região e a defesa pela Codeca. A petista também falou sobre o movimento de oposição ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Confira trechos:
Como avalia primeiros meses da atual legislatura?
A Câmara ainda está refletindo o último processo eleitoral, desde a polarização de 2018, que se refletiu aqui também numa composição mais ideológica. Temos hoje alguns vereadores que se colocam à direita. Antes, a maioria se colocava de centro, centro-direita, tínhamos um ou dois de direita, hoje temos mais.
A relação da Câmara com o governo municipal, há um distanciamento seguro entre os poderes?
Comparar qualquer governo, sob ótica de diálogo, com (a gestão de Daniel) Guerra é covardia, é fácil ganhar porque não tinha diálogo nenhum. Mas sobre a independência dos poderes ainda é muito recente para vários vereadores novos se colocarem na posição de fiscalização. Como já estou na quarta legislatura já vi uma osmose entre Legislativo e Executivo muito maior, hoje vejo que há mais espaço para fiscalização e para questionamentos.
A Codeca é uma das principais bandeiras de atuação sua atualmente. Considera que houve avanço em algum aspecto nessa gestão?
A Codeca passa por vários problemas gravíssimos, que são mais de responsabilidade de gestões passadas, inclusive da anterior, que mesmo que fosse tampão poderia ter feito mais. Claro que teve piora na gestão do Guerra, mas precisamos unificar esforços para levantar a empresa. Há quem defenda a terceirização, mas o esforço teria de ser no sentido de levantar empresa. E para isso precisamos inclusive dos trabalhadores e falta diálogo por parte da gestão da empresa para construir alternativas com os funcionários. Os trabalhadores na sua maioria querem o bem da empresa e algumas decisões são de cima para baixo, sem escutar quem está na ponta e conhece o dia a dia de trabalho. Isso acaba gerando desconforto e começa a dividir as pessoas que deveriam defender a empresa. Os trabalhadores não estão 'só defendendo o seu', eles estão conscientes da condição da Codeca e não estão sendo ouvidos. Já foram seis meses de gestão e ainda não se conseguiu dar uma resposta pra situação da empresa. Tem várias situações que não se engatilhou e não se resolveu e temos precarização de serviços.
A senhora também é presidente da Frente Parlamentar (para Discussão e Fiscalização) das Concessões Rodoviárias de Caxias do Sul. Há preocupação especial a esse tema?
Estamos num momento histórico e crucial, já passamos por período de pedágio de 15 anos e estamos prestes a ter um pedágio de 30 anos de concessão. O modelo apresentado pelo governo do Estado é escandaloso para a nossa região. Foi aberto período de consulta sendo que a população nem conhece a proposta e não está consciente de que teremos mais pedágios na nossa região. No nosso bloco temos a licitação por outorga e o governo do Estado colocou dispositivo que será permitido apenas 25% de desconto. Isso quer dizer que mesmo se a empresa quisesse dar desconto de 50% para ganhar (a outorga) e a população pagasse menos de pedágio o governo optou por estipular um teto e ganhar mais na outorga para poder investir em outras rodovias. É um escândalo, é forçar que a Serra pague a infraestrutura do Estado. Defendo que não se tenha outorga e se tenha o melhor preço.
Acha que tem mobilização política suficiente considerando pedágio sempre um tema impactante?
Acho que é urgente e não temos mobilização a contento, não temos discussão a contento. Não sei se a população em si se apropriou. Pior do que a outra concessão é que essa é de 30 anos. Se não fizermos essa discussão agora pelos próximos 30 não precisaremos mais fazer, então algumas gerações vão sofrer esse efeito.
O que tem achado do Governo Adiló?
Agora a gente tem de falar sobre diálogo, até pouco atrás isso era inerente à função, mas enfim, é um governo que pelo menos dialoga. Mas tem ainda promessas de campanha pendentes e situações controversas. É um governo que não mostrou ao que veio, ainda estamos esperando.
Governo sempre sinalizou posicionamento liberal, mas a atuação do Adiló quando vereador era ativa no comunitarismo. Você acha que está havendo equilíbrio nessas características?
Por enquanto vejo que ele tem se esforçado para tornar o governo mais comunitarista. Na composição da comissão da Maesa, por exemplo, ele incluiu setores como sindicatos de trabalhadores, UAB, trouxe um ar mais popular. Vejo que faz esses movimentos de aproximação. Sobre as políticas neoliberais a gente vê sinal de fumaça, mas nada muito concreto ainda.
O Mauricio Marcon (Novo) é emblemático com sua frente anti-PT. Como você vê esse tipo de atitude, esse posicionamento mais ideológico?
Não diria que é ideológico. Já achei que fosse, mas hoje considerado cenográfico, forçado. Percebemos muitas falas do vereador Marcon nas redes sociais, contra mim, especialmente, mas falta muito para ser contraponto ideológico. Ele talvez esteja utilizando o mandato para fazer seguidores em redes sociais, ser youtuber, não sei. Ele trabalha muito na questão de tentar forçar ódio, acho isso ruim, é uma política ruim crescer em torno da construção de um ódio. Busca o PT para construir ódio e não consegue transformar isso numa visão de cidade ou contrapor em ações, na política.
Apesar de assumir que muitos ataques se direcionam a você, não parece preocupada...
Quem é de verdade sabe quem é de verdade. O vereador quer gerar um público dele em rede social. Falar mal do PT gera engajamento. Eu quero debater a cidade, discutir projetos, trabalhar. Cada um tem sua forma de atuação. Se ele acha que é ganhar like falando de mim, bom, que siga o caminho dele.
E a oposição ao Bolsonaro, avalia que é um movimento crescente?
As pessoas caíram na real. Qualquer pessoa que vive no Brasil, por mais que não queria de dar o braço a torcer, que tenha votado no Bolsonaro, lá dentro delas, ou sozinhas em suas casas, têm consciência da situação que estamos hoje. Se temos mais de 500 mil mortos no Brasil, isso tem as mãos do Bolsonaro, não dá para dizer que ele não tem responsabilidade, ao negar as vacinas, criticar governos que tentaram medidas de contenção de aglomerações, debochar uso de máscara, investir fortunas com medicação que não funciona... Não se trata de oposição ao governo, se trata de uma defesa à vida. A cada dia que esse governo permanece vemos o Brasil se atolando em morte. A população nunca pagou tão caro para comer, paga R$ 100 um gás, não come de forma adequada, paga cada vez mais cara a luz. Quem tem consciência da situação não pode defender um governo como esse. É impossível que quem tem mínimo de sensibilidade não perceba o que está acontecendo.