O vereador Rafael Bueno (PDT) destacou-se na última legislatura ao ser um dos protagonistas na oposição que levaria ao impeachment do ex-prefeito Daniel Guerra (sem partido). Atualmente, o parlamentar desempenha um papel menos enfático no plenário, mas mantém muitas das bandeiras que defende há anos, em especial a conclusão das obras do Hospital Geral e a ocupação da Maesa. Ao Pioneiro, o pedetista falou sobre sua atuação na Câmara, percepção do governo e projetou o que pensa sobre o rumo que seu partido, o PDT, deve tomar.
Confira trechos da entrevista:
Na última legislatura, teve um pouco mais de exposição por ser uma oposição mais veemente. Na atual legislatura, já não tanto. Como o senhor se posiciona atualmente com relação ao governo?
Tive mais ênfase no governo anterior porque se criou um cenário de terror em diversas esferas. E agora nesse Governo Adiló, que eu apoiei no segundo turno, mesmo que muitas das nossas questões não estejam sendo atendidas, nós temos diálogo com os secretários. Com a maioria dos secretários, estamos tendo contato direto, sendo que antes havia uma lista na prefeitura. Não vejo perseguição a comunidades no Governo Adiló, o feijão com arroz está sendo feito e, às vezes, o feijão com arroz resolve muitos problemas da comunidade. Agora quando fala em fazer oposição, estou esperando o Governo Adiló arregaçar as mangas e ser protagonista das promessas que ele fez, inclusive de baixar passagem de ônibus, repassar recursos ao Hospital Geral, ocupação da Maesa e ajudar na assistência social do município, especialmente essa, onde estamos vendo índice de pobreza alarmante nos bairros da nossa cidade. Essas cobranças estão sendo feitas. Espero que o prefeito Adiló, passados esses cinco meses de governo, entre no trilho e comece a andar a máquina.
Mas se considera de oposição ou mais centro em relação ao governo?
Eu apoio o que é de bom do Governo Adiló.
Fica nebulosa a forma que o PDT se posiciona atualmente do ponto de vista político em relação ao governo. Qual a posição exatamente do partido?
Não tem nada de nebuloso dentro do PDT, inclusive fomos a Porto Alegre falar com o presidente estadual, o Ciro Simoni, que está liderando a pré-campanha do futuro governador, Romildo Bolzan (PDT), organizando nominata de (candidatos a) deputados estaduais, federais, Senado. E estamos tentando aparar algumas arestas que temos no PDT de Caxias para chegar num consenso e fazermos um grande diretório para voltar a ter protagonismo que o PDT sempre teve em Caxias, não só no Legislativo, mas também frente à prefeitura.
O senhor comentou em 'aparar arestas' no PDT municipal. O que seria?
O PDT, que é um partido democrático, tem várias ideologias. Muitos vieram de outros partidos recentemente, PCdoB, PT e partidos mais de centro. E aí, então, daqui a pouco, estavam querendo montar outra chapa, mas o partido estadual determinou que não vai ter eleições com mais de uma chapa, vai ter uma única de consenso, o município vai ter de fazer uma chapa de consenso sendo abonada pela executiva estadual. Mas agora estamos chegando um caminho bom. Já conversamos com o ex-prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT), que está entrando em consenso com alguns grupos do PDT, e acho que vamos chegar num bom diálogo.
Chamou a atenção nos últimos anos o embate de ideias dentro do partido. Buscam justamente encontrar uma posição mais definitiva?
Nunca tive briga dentro do partido, podem não gostar de mim alguns filiados, mas briga não tive. Tanto é que eu, enquanto líder de bancada há cinco anos, toda vez que chegam brigas com o vereador Ricardo Daneluz (PDT), eu busco intermediar esse diálogo, esses conflitos. Se talvez o Daneluz não aceita todos os quesitos impostos por alguns filiados, a gente não pode empurrar goela abaixo, porque é um partido democrático, temos de respeitar essa miscelânea de ideias. Mas é claro, não dá para extrapolar o bom senso naquilo que o partido defende. O partido defende a questão dos trabalhadores e direitos sociais, isso mantemos. E aqueles que são contrários, acho que estão no partido errado.
Citou o Daneluz, você e ele tocam numa afinação diferente. Ainda assim, acha que a bancada está sólida?
Com certeza. O Daneluz é um homem de palavra, de respeito. Tudo que acordamos de ideias, votações, ele vai até o final. Agora tem umas posições dele que já tentei falar com ele, mas são posições consolidadas e não tem como voltar atrás, enfim, respeito o posicionamento dele. Algumas coisas não concordo com ele, mas a gente respeita.
O Daneluz demonstra proximidade com o partido Novo (pois tem estado ao lado na Câmara). Como vê essa proximidade? Também se identifica de algum modo?
Não me identifico, senão estaria no Partido Novo, estou no PDT. Agora, essa é a casa dos debates, apoio (Mauricio) Marcon (do Novo) em alguns assuntos, mas não é porque somos de partidos diferentes que não vamos buscar diálogo em temas que são bons para as pessoas. Tem ideias que Marcon e Daneluz são similares, então são aliados.
Sobre a eleição do próximo mês no PDT, qual você acha que deve ser o rumo do partido? Citou o nome do Alceu, a ideia é retomar nome do Alceu como referência?
Ele é referência no PDT, por ser um líder histórico de várias lutas, da Maesa, fim dos pedágios, aeroporto (da Serra Gaúcha), foi o prefeito que mais reformou escolas na história de Caxias... Tem um histórico legado que merece ser ressaltado. Os filiados, a gente como vereador, escutamos muito o Alceu por ser nossa referência. Uma coisa que temos de ter dentro do partido é que precisamos respeitar quem tem votos, inclusive quem pretende concorrer a deputado ano que vem.
O que o senhor quer dizer? Quando que não há esse respeito exatamente?
Digo por parte de alguns filiados, as pessoas que querem ditar o que os vereadores devem fazer na Câmara, o que o Executivo deve fazer. Não é criar intrigas desnecessárias entre vereadores e o partido, é preciso unificar. Essas pessoas que se acham, que tem ideologias, coloquem o nome à disposição na próxima eleição para vereador no partido e concorram. E também a eleição a deputado, a gente tem de renovar o quadro dos partidos. Defendo nome do Alceu concorrer novamente. Agora, se a gente não quiser, tem o vereador Daneluz, tem meu nome, tem o ex-candidato a prefeito (Edson) Néspolo, que vem na sequência, então acho que temos de respeitar essas hierarquias de quem tem voto.
Acha que o PDT precisa se reinventar ou é uma questão de resgate?
É um dos partidos que mais tem história, do legado do Brizola, é o partido da educação, um dos maiores partidos do país em termos de bancadas. Precisa realmente resgatar e seus quadros retomarem o protagonismo que o partido teve outrora.
A Maesa é uma das principais bandeiras para o senhor. Tem alguma meta pessoal com relação à Maesa?
Divido em três prioridades meu mandato, que é o Hospital Geral, é a principal pauta do meu mandato, enquanto luta pela saúde, porque atende a 40 municípios da região. Pretendemos conquistar recursos para concluir a obra do hospital até o final do ano e ampliação de cerca de 120 leitos. O segundo ponto é a Maesa, sou presidente da frente parlamentar há cinco anos consecutivos. Acho que Adiló deve ter a Maesa como norte para a evolução e revolução econômica de Caxias. Queremos montar grande centro para os turistas, para eles virem e permanecerem na cidade. Um grande centro de eventos, o turista vai poder almoçar, comprar lembrança, participar de evento, ocupar hotéis e restaurantes da nossa cidade. É preciso muito diálogo com a comunidade. O Mercado Público é algo consolidado e unânime para todos. Só espero que não seja empurrado com a barriga esse tema. Pode ser nossa galinha dos ovos de ouro quando voltarmos da covid. E o terceiro ponto é um projeto do Frei Jaime que eu abracei, estamos buscando emendas parlamentares, que é o Lar de Acolhimento Frei Salvador, no antigo INSS. Que é um lar da velhice que vai abrigar 130 idosos, totalmente público.
O senhor falou que não espera que seja empurrado com a barriga. É um tema que é dito como prioridade há vários governos, mas nunca sai do papel. O que falta?
Falta o prefeito bater martelo e fazer uma parceria público-privada. Caso contrário, acho que não vai sair nunca, porque é muito grande, são 53 mil metros quadrados. É preciso fazer isso o quanto antes, porque o tempo passa. É preciso fazer toda higienização do espaço, a limpeza. Hoje, quem ocupa a Maesa é a chuva dentro do prédio, pois o telhado está cheio de goteiras e o espaço está se deteriorando.
Comentaste sobre o Governo Adiló, exaltou abertura maior, mas espera que ele se mostre um pouco mais. Como avalia o governo até o momento?
Acho que ele precisa abraçar regionalmente essa campanha do Hospital Geral. Há 6,5 mil pessoas esperando leitos para fazer cirurgias. E o prefeito Adiló tem de arregaçar as mangas e apresentar algo concreto no papel o quanto antes. O Hospital Geral pode ser o grande trunfo da administração. Mas, no geral, ele não pode fazer novas contratações e algumas licitações por causa do decreto do governo federal, do empenho destinado à saúde, e até 31 de dezembro ele tem a desculpa ainda desse recurso que vem do governo federal de que não pode fazer novas contratações de profissionais, só recomposição de quadro. Depois disso, não haverá desculpas, queremos ver grandes obras em Caxias, sempre fomos sinônimo de progresso e canteiro de obras.