Além de assumir a prefeitura de Farroupilha em primeiro mandato, Fabiano Feltrin (PP) também foi designado para a presidência da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne). Se não bastasse o desafio de dirigir o terceiro maior município da Serra em plena pandemia, Feltrin comanda a entidade que acabou se tornando referência na articulação política e operacional na região para organizar e cumprir protocolos de saúde e medidas de enfrentamento à pandemia.
O Pioneiro conversou com Feltrin sobre o andamento dos trabalhos frente à entidade, tanto no que se refere à pandemia quanto às reivindicações paralelas do bloco. Confira:
Um ano difícil pelos trabalhos se concentrarem essencialmente na pandemia. Mas como avalia tanto as medidas relativas à pandemia quanto às articulações de outras reivindicações?
A Amesne tem diversas bandeiras que transcendem a pandemia. Mas atuamos desde a adesão aos protocolos de intenção de compra de vacina para imunizarmos a população o mais rápido possível, ampliamos 224 leitos em relação ao ano passado. Toda sociedade civil organizada se empenhou para termos atendimento a toda população, o que nos possibilitou sempre negociar com o governo do Estado para que pudéssemos abrandar as bandeiras e permitir o modelo de cogestão para abrir o comércio, poder trabalhar. A questão das escolas, enfim. Fora da pandemia, temos o aeroporto da Serra, a universidade federal, que inclusive o município de Farroupilha doou o terreno para que possamos ter esse empreendimento na região. A ligação asfáltica da (BR) 470 André da Rocha-Lagoa Vermelha, a duplicação da (RS-122) São Vendelino, Farroupilha e Caxias, duplicação (da RSC-453) Garibaldi, Bento Caxias, o porto de Arroio do Sal, que vai ser importantíssimo para a Serra. A Zona Franca da Uva e do Vinho e as parcerias regionais que temos com entidades e instituições.
Essa experiência de a região ter inevitavelmente se unido para enfrentar a covid torna o bloco mais forte na pós-pandemia para se integrar cada vez mais?
Sem dúvida. Criamos um comitê técnico, com dados econômicos, de saúde, Observatório da Serra Gaúcha, continuaremos esse monitoramento. Isso também criou modelo de gestão regional que fica para sempre, para que possamos pensar a Serra em nível regional. Quando turistas de outros Estados vêm para cá, eles não vêm para Gramado, Bento, eles vêm para a Serra Gaúcha. Então precisamos reforçar isso de cada município vender o outro, vender o roteiro regional. A própria questão de municípios terem tentado individualmente adotar alguma atitude em nível local na pandemia se mostrou frustrada porque a Justiça derrubou e isso demonstrou como é importante o trabalho regional.
Da mesma forma que a região se dedicou a viabilizar muitas coisas, como a volta às aulas presenciais, a vacinação de professores é uma reivindicação da Amesne? O que está sendo feito pela associação para agilizar esse processo?
Não podemos criar falsas esperanças, pois o plano nacional de imunização é do governo federal. A gente pode fazer as solicitações, mas a gente não pode imaginar que grupos sejam privilegiados. Até porque, tempos atrás, quando não se tinha vacina, não tinha nada, os profissionais de saúde estavam fazendo o enfrentamento sem ter proteção nenhuma. Então temos de entender que o plano de vacinação tem um propósito, é um estudo científico e agora passa pelas comorbidades. Temos de aguardar, sabendo que cada um tem sua missão com sua profissão, pensando na coletividade e menos na individualidade.
Então o senhor acha que a categoria pode esperar?
Todas as lutas são extremamente válidas, mas a prioridade é todo mundo. Pessoas com comorbidades hoje têm a preferência por serem grupo de risco maior que professores. Temos de entender o momento de cada um.
Acha que modelo de distanciamento perdeu a credibilidade?
Com certeza perdeu a credibilidade. O próprio governador já disse que, a partir do dia 10 de maio, já tem outro modelo para colocar à sociedade civil organizada, para toda a população do Estado. Só espero que o governador possa dividir conosco essas decisões e não tomar uma decisão de gabinete com meia dúzia de pessoas, onde não possamos estar colaborando.
A Amesne não abre mão da cogestão?
A cogestão foi um modelo que lutamos para garantir que cada região tivesse sua particularidade, tinha um movimento diferente. Como estávamos preparados e fizemos investimentos, lutávamos por um modelo de cogestão para mostrar que a Serra estava mais preparada do que outras regiões. Mas isso não impede que ele não proponha um modelo melhor que a cogestão, desde que isso seja colocado em pauta e possamos discutir juntos, e não colocado goela abaixo.
Acha que foi truncada a postura do governo?
Nos últimos modelos que ele colocava os decretos, era imposição, não era mais modelo de cogestão. Faz tempo que não temos modelo de cogestão. Cogestão é quando você dialoga com modelo que possa adequar à sua região. Nos últimos tempos, era imposição e tínhamos que acatar sob o risco de sermos punidos legalmente.
Se precisar de bandeira preta novamente, tudo bem para a Amesne?
Não, não tem mais condições de fechar, o que já passamos aí, já tivemos diversos erros, com mais de um ano já aprendemos que não é fechando tudo que vai resolver o problema, ao contrário, estávamos indo para uma engrenagem de miséria. Estávamos diminuindo a renda, o emprego e a própria arrecadação dos poderes públicos que usam esse dinheiro para a própria saúde. Então, ali na frente ia faltar dinheiro para a saúde. O fechamento não existe mais a mínima possibilidade, até porque a sociedade gaúcha não admite mais.
Países que respeitaram rigorosamente o distanciamento já conseguiram se livrar da pandemia e retomam hoje a completa normalidade. Já o Brasil é epicentro da pandemia. Onde foi que erramos então na sua visão?
É muito difícil avaliar que erramos lá atrás, porque temos mais dados para fazer isso hoje, então não é uma questão de erro, é uma questão de respeitar a Constituição, a liberdade, com todos os protocolos que já sabemos quais são e utilizar eles de forma que os municípios façam a fiscalização. Agora, limitar o trabalho é impossível de acontecer novamente.
Como avalia a atuação do presidente no enfrentamento à pandemia?
Todos os modelos que estão acontecendo no mundo foram de aprendizado. Não cabe a nós, municípios, julgar o que deu certo ou errado, muito do que estamos fazendo são modelos iguais no mundo inteiro. Não tem muita questão de dizer 'estamos fazendo certo ou errado', porque é um problema mundial. Agora, as coisas criticadas como erros nas falas, isso não cabe a nós o julgamento, cabe a nós a questão de gestão, de governo, que chegue as vacinas, que a gente busque alternativas de imunizar a população.
A questão das vacinas, não acha que muito da situação de hoje é pelo fato de o governo não ter acertado acordo para compra no ano passado?
Não temos como avaliar isso, pois não temos condições técnicas de saber se a vacina estava certa ou errada.
Como fazer para evitar que indicadores de óbitos e contaminação voltem a crescer?
Os municípios fizeram investimentos na área da saúde, fizemos lição de casa para atender a população. A partir do momento que nos apropriamos dos protocolos, temos de pensar em retomar as atividades econômicas para não irmos para a miséria.
Mas a ocupação hospitalar está sob controle?
Sem dúvida.
E se caso aumentar?
Caso aumentar... a gente tem de enfrentar, tem de viver...
Tem condições de expandir a rede hospitalar?
Claro, os investimentos em saúde são sempre prioridade. A análise dos números vai nos levando a tomar caminhos. Todos municípios estão resguardados a essa situação.