Cerca de 80 trabalhadores e proprietários de estabelecimentos do ramo de eventos, restaurantes, bares e lancherias protestaram em frente à prefeitura de Caxias do Sul nesta quarta-feira (24) contra restrição de funcionamento noturno determinada no protocolo da bandeira preta. O grupo pede principalmente autorização para abertura até 22h. Atualmente, o protocolo permite recebimento de clientes até 18h.
O prefeito Adiló Didomenico (PSDB) recebeu representantes da categoria, que apresentaram pauta de reivindicações.
— A reunião foi boa, o prefeito se dispôs a ajudar pra que no máximo semana que vem possamos voltar a trabalhar. Falou que sempre foi contra fechar e disse que vai argumentar com o governador pedindo a flexibilização até as 22h, já que os mercados podem ficar até 22h. Não somos nós que fazemos aglomeração, e estando abertos, inibimos as festas clandestinas — avalia uma das lideranças do grupo, Camila Pereira de Lima, garçonete há 14 anos.
Ela ressalta que mesmo a permissão de reabertura de restaurantes não beneficiou totalmente o segmento:
— Foi permitida abertura de restaurantes, mas a gente sabe que pizzaria e casa de lanche abrem de noite — lembra.
O grupo permaneceu no local por cerca de uma hora e 30 minutos, carregando cartazes e gritando pelo direito ao trabalho.
Conforme dados Secretaria do Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego e do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio Hoteleiro, Restaurantes, Bares e Similares e em Turismo e Hospitalidade (Sintrahtur), há cerca de 980 garçons ou trabalhadores de restaurantes e similares registrados (por carteira de trabalho ou MEI) em Caxias do Sul. O número, no entanto, não abrange informais ou necessariamente trabalhadores freelancers contratados para eventos.
ENCAMINHAMENTO À AMESNE
Em nota, a prefeitura confirmou posicionamento do prefeito Adiló em apoio à demanda dos trabalhadores. Também informou que na última terça-feira (23) foi encaminhado pedido à Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne) para que ocorra maior flexibilização dos restaurantes - para que possam atender até às 22 horas com lotação máxima de 40 pessoas e com até quatro pessoas por mesa e evitando a formação de filas nos estabelecimentos.
O QUE DIZEM
"Trabalho meio turno num restaurante e à noite com eventos. A principal renda é dos eventos. Meu salário diminui R$ 1,5 mil. Moro com minha filha, estamos comprando só o básico para conseguir pagar as contas, aluguel. Até mês passado, o patrão conseguiu pegar auxílio do governo, a partir do próximo mês ele disse que não sabe o que vai fazer, já tá pedindo empréstimo em cima de empréstimo." José Leandro Padilha de Souza, garçom há 41 anos
"Fiquei seis meses e meio ao todo parado nesse último ano. Não tenho mais condições. Não aguento até o mês que vem se continuar assim, já tenho dívida para três anos, não tenho mais como adquirir mais dívidas. E mesmo quando voltou por um período, o faturamento caiu pra 20%. Essa restrição é uma hipocrisia incrível. Só os bares e restaurantes são culpados, o vírus sai às 18h, as indústrias não foram mexidas, comércio está trabalhando. É um negócio sem lógica, sem ciência e sem cabimento nenhum. O critério é eleitoreiro. Fomos os que menos trabalharam e somos o culpado pela disseminação do vírus". Nassib Turelly, proprietário do São Patrício Bar
"A maioria do pessoal que trabalha com evento está totalmente parada. Flexibilizando até 22h não vai mudar nada, já que liberaram ao meio-dia. Todas as casas estão comprometidas a seguir todos os protocolos de segurança. Para nós, que somos assalariados, acabamos ficando sem renda, principalmente os freelancer, já que quem tem carteira assinada até conseguiu algum suporte pelas medidas (auxílios do governo)". James Onzi, bartender há 22 anos
"Muitos colegas foram desligados. Éramos em seis e só restou eu. Despedimos pessoas da cozinha e os nossos colegas trabalham bastante como freelancers. Dependendo o evento, trabalhamos com 70 garçons, mas, neste ano, não conseguimos colocar nenhum colega para trabalhar. O almoço ajuda a gente, mas não paga as contas e gostaríamos de ajudar os colegas desempregados." Dione da Silveira, maître há 16 anos
"Eu recém tinha comprado um carro e tive que devolver pela incerteza. Faz um ano que estamos na pandemia, o que os patrões tinham de gordura já queimou. Trabalho em dois locais, mas o que mais me mantinha era dinheiro o trabalho à noite. Minha renda diminuiu 80%." Camila Pereira de Lima, garçonete há 14 anos.
REIVINDICAÇÕES
- Atendimento presencial de 25% lotação conforme PPCI e até 90 pessoas.
- Ingresso no estabelecimento até 21h e permanência até as até 22h30min.
- Seis pessoas por mesa, com espaçamento entre as mesas de 2 metros.
- Controle intensivo, com uma pessoa responsável para orientar e fiscalizar os clientes e a sanitização da casa regularmente.
O QUE PREVÊ O PROTOCOLO
Restaurantes, bares e lanchonetes poderão funcionar sem restrição de dias, até as 18h, com 25% de lotação. Entre 18h e 20h, com pegue e leve e telentrega. Depois, somente com telentrega. Distanciamento de 2 metros entre mesas, máximo 4 pessoas por mesa, sem música.