Fabiano Feltrin (PP) é um cara focado. Aos 51 anos, o empresário encara mais um desafio, desta vez à frente do Executivo em Farroupilha. Eleito com 20.240, ou seja, 49,76% dos votos válidos, têm se proclamado como o prefeito com mais votos da Serra, em municípios que decidiram o vencedor em primeiro turno.
Feltrin é focado porque, em 2019, decidiu abrir mão da presidência do grupo que administra as 14 empresas da família, para se dedicar à campanha. É determinado, porque ao entrar para o mercado de concessionárias de veículos, foi escolhido por duas vezes o melhor gestor da Ford mundial, no prêmio Chairman's Award, em 1999 e 2006. Em 2004 resolveu encarar os palcos, ensaiando covers do repertório do rock star Elvis Presley (1935-1977). Onze anos depois, foi escolhido o melhor Elvis Tribute Artist da América do Sul no 2º The Sailor Elvis Contest, realizado em São Paulo.
Agora, seu desafio é aproximar a sociedade civil de Farroupilha para uma espécie de cogestão do município. Além disso, pretende conceder incentivos fiscais para quem desejar implantar negócios, desburocratizar os processos com a digitalização dos documentos, enxugar a máquina pública, reduzindo salários e cargos. Em suma, Feltrin diz que pretende modernizar Farroupilha, colocando a cidade na rota dos novos empreendimentos, sem perder de vista a necessidade de criação de habitações populares.
— Gestão é gestão. O desafio de administrar uma empresa privada ou a prefeitura é o mesmo. Precisamos ser inteligentes em gerir os recursos para investir na cidade. E transformar 14 secretarias em 9 não significa um pior atendimento à população, muito pelo contrário. Serão ainda melhor atendidas — justifica Feltrin.
Aquela imagem de Elvis Cover, no palco, com a qual muitos ainda identificam Feltrin, aos poucos deve ser deixada de lado. O prefeito diz que adoraria ter cantado uma canção do seu ídolo no dia da posse, mas "não pegaria bem", reconhece. Sua intenção é colocar em cena, no gabinete do prefeito, o gestor que ajudou a erguer um império na iniciativa privada. Se der certo, Feltrin pode abrir um caminho para outros empresários da região provarem que também podem fazer a diferença no poder público.
Confira a seguir, entrevista com o prefeito de Farroupilha, realizada por telefone, em 31 de dezembro, um dia antes da sua posse.
Por que um empresário de sucesso como o senhor quis ser prefeito?
Sempre fui muito participativo em voluntariado e colaborador das entidades. Esse apelo veio crescendo nos últimos anos, e muitas pessoas vêm me pedindo para concorrer. Em 2019, houveram reuniões em que esse pedido veio de uma maneira mais formal. Como aqui em Farroupilha tivemos um processo de falta de diálogo entre a antiga administração (Claiton Gonçalves, do PDT, sofreu impeachment, em 15/05/2020) e a comunidade, incluindo empresas e entidades, eu acabei aceitando o desafio até para refazer essa aproximação. Em outros momentos, não aceitei concorrer porque eu tinha outras prioridades, mas agora, com apoio da minha família, pude me desligar das empresas e me dedicar ao desafio de ser prefeito.
Que experiência o senhor traz da iniciativa privada que pode ser um diferencial na sua gestão no poder público?
Eu tive alguns prêmios ao longo da minha carreira, como o de melhor gestor de concessionárias Ford, do mundo, por duas vezes (Prêmio Mundial Chairman’s Award, em 1999 e 2006). Anos mais tarde, recebi o Prêmio Top de Marketing ADVB (2018) e Administrador do Ano 2019, pela AANERGS (Associação dos Administradores Região Nordeste Estado). Essa distinção da AANERGS, receberam também Paulo Bellini (Marcopolo), Raul Randon (Randon), Francisco Stedile (Agrale), o que muito me orgulha. Eu entendo que em toda essa trajetória eu acumulei experiência para colocar em prática na administração pública.
Em termos de gestão, o que é necessário fazer, para iniciar a administração do município?
Primeiro, será preciso fazer um enxugamento da máquina pública. Se não fizermos isso hoje, vamos acabar como alguns municípios e Estados, em que os recursos arrecadados servem apenas para pagar salários, sem ter como investir. Das 14 estruturas da administração anterior, vamos ter apenas 9. Vamos precisar fazer esse esforço administrativo, cortando cargos e salários para modernizar Farroupilha. Além disso, vamos precisar fazer controle de insumos, como café, clipes, papel higiênico. Parecem coisas bobas, mas isso vai fazer com que tenhamos uma melhor gestão, e é isso que se faz na iniciativa privada.
Quais secretarias serão aglutinadas?
A secretaria do Esporte e Lazer é um bom exemplo para explicar o porquê dessa alteração. Todo o recurso dessa pasta era 100% para pagar encargos e salários. Então, de fato, o orçamento do Esporte e lazer nunca ia para o Esporte, mas, sim, para pagar a folha. Então, a nova secretaria passa a ser da Educação, Esporte, Lazer e Cultura. Extinguindo cargos de secretário, economizamos. Outra, o Turismo passa fazer parte da secretaria de Desenvolvimento Econômico, acrescentando ainda a Inovação na pasta. Teremos ainda a inserção do Meio Ambiente dentro da secretaria de Planejamento Econômico. Mais uma questão, o chefe de gabinete tinha um status de secretaria. Ele ganhava como secretário. Então reduzimos o salário, tirando todos os cargos que ficavam debaixo do “guarda-chuva” dele.
Essa nova organização das secretarias pode vir a desaguar em uma Reforma Administrativa?
As estruturas são muito grandes, precisamos ser inteligentes para lidar com os recursos. Vamos contratar, por licitação, uma instituição acadêmica, para que possamos montar uma boa reforma administrativa. Acredito que antes mesmo da reforma, apenas com o enxugamento que propomos nas secretarias, vamos ter uma economia entre R$ 5 a R$ 10 milhões nos próximos quatro anos.
Para o senhor, qual a lição que fica das últimas administrações na cidade?
Para mim, a maior lição é o desejo de governar com a sociedade civil organizada. Nos últimos anos, tivemos muita dificuldade em manter esse diálogo. Por isso, minha proposta é realizar reuniões frequentes com um conselho formado com a CICs (Câmara de Indústria, Comércio e Serviços), CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas), Sindilojas (Sindicato do Comércio Varejista), Sindigêneros (Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios), OAB (Ordem dos Advogados do Brasil, Subseção Farroupilha), Observatório Social e UAB (União das Associações dos Bairros). Essas sete entidades estarão governando juntas comigo. É importante, por exemplo, a presença da UAB, justamente para que a sociedade entenda porque vamos dar prioridade a uma obra em um bairro em detrimento de outra.
O senhor tem falado muito, em pronunciamentos e entrevistas, que sua gestão será inovadora, pode nos dar exemplos do que pretende fazer?
O Brasil tem 5,5 mil municípios. É a primeira vez que teremos um prefeito e vice trabalhando no mesmo gabinete. Isso é importante, porque Caxias e Farroupilha têm trauma dos seus vices (risos). Meu vice, o Jonas Tomasini (PP) é meu amigo de longa data. Trabalharmos no mesmo gabinete será uma forma de atendermos mais pessoas, porque voltaremos a receber a comunidade, com agendamento, a partir de fevereiro, pelo menos uma vez por semana. Além disso, Farroupilha está em uma situação privilegiada, no centro entre Caxias, Bento e a região das Hortênsias. Precisamos ter um ambiente mais receptivo para atrair empresas. Vamos ser uma cidade desburocratizada em que os interessados em abrir uma empresa de pequeno ou médio impacto ambiental poderão fazer o auto licenciamento do seu negócio, imprimindo o alvará online. Depois é que iremos fazer a fiscalização da atividade, mas a pessoa já se antecipa e abre sua empresa.
Como o senhor pretende que a comunidade, ao terminar o seu mandato de quatro anos, perceba o seu governo? Qual legado o senhor quer deixar?
Quero deixar um legado de "menos política", no sentido de "politicagem". Quero mostrar que é possível fazer uma boa gestão, com diálogo entre a sociedade e as entidades, com enxugamento da máquina pública, e dando a oportunidade para que novas lideranças sejam formadas. Quero que as pessoas, ao acabar meu mandato, sintam que meu governo foi para todos e que fui um instrumento de Deus.