Certamente não dá para dizer que a primeira experiência de Ricardo Daneluz (PDT) na Câmara de Vereadores de Caxias foi sossegada. Estreante na última legislatura, Daneluz apresentou projetos polêmicos e teve como resposta a resistência de parte do próprio partido, foi presidente do Legislativo e até prefeito por oito dias. Do período, não guarda arrependimento, pelo contrário:
— Tenho muito orgulho do trabalho que fizemos nesses quatro anos. Algumas ideias, posicionamentos e princípios que temos buscamos expressar na Câmara. Até mesmo porque eu me arrependeria de ser vereador em Caxias por um período e não colocar ideias em práticas — afirma.
Daneluz também exalta conquistas obtidas nas funções de prefeito temporário — assumida na condição de presidente do Legislativo durante a transição após a cassação de Daniel Guerra (Republicanos) — e como presidente da Câmara em 2020.
— Os oito dias como prefeito foi uma experiência maravilhosa, principalmente por alguns projetos que encaminhamos, um deles já virou lei: o da liberdade econômica. Protocolamos outros que, enfim, não foram adiante, mas colocamos as ideias. E na presidência da Câmara, conseguimos implementar a reforma administrativa. Serão R$ 5 milhões de economia nesses quatro anos que se iniciam em 2021, além da agilização de processos e modernização — destaca.
Antes de se eleger pela primeira vez, Daneluz só teve experiência política efetiva no comando da subprefeitura de Vila Oliva, de 2013 a 2016, ano em que foi eleito para a Câmara. Naquela época, sua pauta se restringia a interesses do interior, em especial o tradicionalismo. Essas bandeiras permanecem, porém, a experiência adquirida aumentou a escala da pauta política do pedetista, que se vê como um vereador mais de "toda a cidade" e com visão econômica ampliada.
— Me vejo com um político mais preparado, até pelas pessoas que conheci, pela experiência que acumulei e referências que passei a ter — avalia.
Questionado se o breve período como prefeito — ele foi o mais jovem a assumir o cargo na história de Caxias, na época aos 30 anos — lhe estimula a um dia concorrer ao Executivo, Daneluz não confirma se está entre seus próximos planos, mas garante que esse será seu último mandato como vereador:
— O que eu defendo muito e não abro mão de alguns princípios é de no máximo dois mandatos para cada cargo público, então, estou no segundo mandato como vereador e não vou à reeleição nesse mesmo cargo. E com relação a outros cargos, pode existir possibilidade, o futuro a Deus pertence.
Ricardo Daneluz foi eleito com 2.465 votos e forma bancada com Rafael Bueno (PDT).
"Não existe uma conversa anti-PT"
Antes do início da legislatura, Ricardo Daneluz se manifestou em apoio a declarações do vereador Mauricio Marcon (Novo) de contrariedade ao acordo que possibilitaria que parlamentar do PT venha a assumir a presidência da Casa. Ainda assim, Daneluz nega que exista uma frente anti-PT consolidada, como propôs Marcon:
— O que eu faço como vereador é honrar o voto daquelas pessoas que me conduziram até aqui. Até o momento, as conversas que tivemos foi na questão da presidência do PT num dos anos, que fui contrário e serei contra no momento de votar, ao que tudo indica no ano que vem. Até o momento, foi conversado só nessa questão, não existe uma conversa anti-PT.
Daneluz retornará com pautas polêmicas
Dois projetos polêmicos de autoria de Daneluz que não tiveram andamento em razão da falta de apoio de número suficiente de parlamentares na última legislatura foram a proposta de extinção do passe-livre nos últimos domingos do mês e a redução do número de vereadores, de 23 para 17. Para o início do novo mandato, Daneluz promete priorizar ambos os projetos e conseguir, enfim, as 12 assinaturas necessárias para protocolar as matérias.
— A gente tem conhecimento de como funciona, nem tudo depende da gente, pelo contrário, precisamos da aprovação. Então tem alguns projetos que apresentamos e vamos resgatá-los: o fim do passe-livre no último domingo do mês e vamos, ainda em janeiro, propor novamente a redução do número de vereadores, de 23 para 17. Precisamos de 12 assinaturas. Na época, não conseguimos, mas agora, como entrou turma nova, nós vamos novamente colocar essa questão da redução, importante pela economia, que gira em torno de R$ 10 milhões por legislatura — defende.
Em entrevista ao Pioneiro na última semana, o prefeito Adiló Didomenico (PSDB) afirmou que pretende discutir a questão do passe-livre em conjunto com os vereadores em sessão-extraordinária ainda a ser convocada.
RELAÇÃO COM PARTIDO
O projeto que sugere a extinção do passe-livre, inclusive, foi um dos motivos de Daneluz receber resistência de parte dos filiados do PDT na época em que apresentou a proposta. A outra situação que desgastou a relação foi o apoio público de Daneluz ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante o período eleitoral de 2018. Logo depois da crise, Daneluz mencionava a possibilidade de mudar de partido. No entanto, permaneceu, e afirma que hoje a relação se estabilizou.
— Me parece tudo tranquilo (relação com PDT). O que tivemos é que parte do partido não concordava com alguns posicionamentos, fim do passe-livre, alguns não gostaram, foi com a questão do apoio ao presidente Bolsonaro na campanha e também certo mal-estar com a questão da redução dos vereadores. Mas acho que, com respeito, conseguimos conviver de forma tranquila — acredita.
PROPOSTAS
Agricultura
"Queremos mudar a legislação para ir em encontro ao novo Código Ambiental do Rio Grande do Sul. Podemos chegar ao teto da lei estadual, não podemos passar disso. Vamos cobrar muito agilização de licenças ambientais, programas de açudes, de agroindústrias. Para deixar esse pessoal fazer o que faz de melhor, que é a produção. Temos de deixar nosso produtor trabalhar e potencializar isso".
Tradicionalismo gaúcho
"São pautas estaduais, mas que estamos cobrando do Estado, que é a questão da extinção do GTA (Guia de Trânsito Animal) equino para eventos, extinção do exame de mormo. Temos outro projeto protocolado, que é a regulamentação para garantia de permanência dos galpões de equinos nas áreas de bacia de captação em Caxias. Temos cerca de 5 mil equinos, grande parte está na parte urbana e grande parte, nas bacias. Também batalhar por uma área para um parque rural, achamos que é importante para todo o setor agropecuário do nosso município, e já está sendo formatada comissão para trabalhar nisso."
Destravamento
"Vamos cobrar muito a inovação, a tecnologia, modernização, deixar as pessoas trabalharem. Se pede um alvará, demora, certidões demoram, ITBI demora muito. Isso tem de ser trabalhado com uma gestão mais inovadora. Parte do Executivo, mas vamos ajudar nessa questão."
Turismo rural
"Temos ótimos projetos para resgate histórico e turístico para a região de Ana Rech. Também temos o nosso interior com potencial enorme, podemos colocar em prática roteiros através de parcerias público-privadas, temos de potencializar nossos possíveis empreendedores."
Quem é
- Perfil: 31 anos, natural de Caxias. Alterna moradia em Vila Oliva e Ana Rech. É formado em Hotelaria e tem especialização em Turismo Rural.
- Trajetória: foi estagiário da Secretaria de Turismo, subprefeito de Vila Oliva (de 2013 a 2016) e eleito vereador pela primeira vez em 2016 (1.919 votos). Reeleito em 2020 (2.465 votos).
- Referências: Alceu Barbosa Velho (PDT), senador Luis Carlos Heinze (PP), deputado federal Marcel Van Hattem (Novo), ex-governador José Ivo Sartori (MDB).
- Pessoal: principalmente tiro de laço. Gosta da vida do interior e de jogar futebol. Torce para Juventude e Grêmio.