Ao término de 2020, o atual vice-prefeito Elói Frizzo (PSB) cessará uma sequência de 15 anos de presença na Câmara de Vereadores, o que vinha ocorrendo desde 2005. Na eleição de 2008, no entanto, quando estavam em disputa 17 cadeiras, Frizzo foi o primeiro suplente pelo PSB e, chamado a assumir, chegou a ocupar a presidência da Câmara. No entanto, desde que foi eleito em 2004, alternou a presença no Legislativo com a titularidade da Secretaria de Obras no governo de José Ivo Sartori (MDB), foi diretor do Samae na gestão de Alceu Barbosa Velho (PDT) e é vice-prefeito do governo de Flávio Cassina (PTB) desde janeiro deste ano. Após ser derrotado na recente eleição à prefeitura de Caxias, quando concorreu a vice na chapa com Carlos Búrigo (MDB), Frizzo dará um tempo na vida pública, mas não da política, garante ele. Ao Pioneiro, o vice-prefeito falou sobre seu futuro, e refletiu sua atuação no Legislativo e na prefeitura de Caxias. Confira os principais trechos:
Pioneiro: Neste ano o senhor não se elegeu a nenhum cargo eletivo. Foi frustrante?
Elói Frizzo: Eu já estava preparado para não concorrer, o fato de ter concorrido foi uma contingência. Na realidade, quando aceitei concorrer à vice-prefeitura na eleição indireta eu já tinha me programado para não concorrer mais à vereança. O fato de os partidos que compunham a base de sustentação do governo anterior, do Governo Sartori e Governo Alceu, não terem conseguido compor no primeiro turno, fez que, em nível partidário eu tivesse que ajudar o meu partido, do ponto de vista de ter uma presença na majoritária. Então, quanto a isso não tem problema nenhum, porque eu já tinha me programado a não concorrer. Mas eu já tinha estabelecido compromisso familiar de que não concorreria mais.
E como o senhor avalia a derrota em si e o resultado da eleição?
A chapa que a gente compôs com o MDB foi a última a se inscrever e a anunciar. Então largamos já com as candidaturas dos outros partidos trabalhando há muito mais tempo. Mas, como nós acompanhávamos internamente em nível de pesquisa, a candidatura do Búrigo e a minha foi a que mais cresceu durante a campanha. Saímos de quase zero de conhecimento em nível de público e chegamos a quase 10%. Então acho que ficou um bom legado que, no futuro, pode ser bem capitalizado.
O senhor fala que foram os últimos a se articular, faltou organização prévia?
Não, desde o início, até pelas palavras do nosso presidente (do PSB municipal) Adriano Boff, a gente tinha expectativa de que o PDT e o MDB se acertassem para uma composição, e provavelmente teriam ido para um segundo turno. Lamentavelmente isso não aconteceu, e a gente teve de tomar um caminho.
O senhor mencionou que começou quase do zero. Ainda assim era um chapa que tinha apoio do (ex-prefeito e ex-governador José Ivo) Sartori, por que você acha que começou do zero?
O Búrigo sempre colocou que, enquanto outros estavam fazendo campanha, ele estava trabalhando para conseguir UTIs para Caxias. Então, só quando não se configurou a possibilidade de uma composição é que houve lançamento da candidatura do Búrigo. E a questão do Sartori, o prestígio dele permanece intacto, a transferência de votos é sempre uma coisa difícil, poucas pessoas conseguem. Mas tenho certeza de que muitos dos votos que fizemos teve muito da presença do Sartori.
Alguns militantes, até mesmo do MDB, constestaram sua indicação a vice. Por que acha que seu nome é tão controverso?
O fato de ter liderado todo o processo de impeachment do ex-prefeito fez com que alguns grupos mais à direita, eu diria especialmente os vinculados ao ex-prefeito e um partido que não tinha história nenhuma em Caxias e tinha de se projetar, especialmente o tal de Partido Novo, marcaram como estratégia atacar meu nome. Mas isso é normal, sem problema nenhum, o que precisávamos projetar era o nome do nosso candidato a prefeito, os outros candidatos a vice-prefeito dos outros partidos também não tiveram grandes espaços. Então acho que se deu muita importância para isso. O meu trabalho na campanha foi levar o Búrigo aos bairros de Caxias, usar minha experiência enquanto parlamentar e gestor na formulação do plano de governo dele. Acho que dei uma boa contribuição. Agora, eu pago o preço de não ser um cara que fica em cima do muro, tem uns que se escondem, que são os eternos "murialdinos", não são nem A e nem B. Esses, normalmente, na sua postura oportunista, acabam se beneficiando. Eu nunca fui, desde o primeiro mandato, uma pessoa que se escondeu. Efetivamente, acho que dei grandes contribuições para Caxias nos cargos que ocupei, sem nenhum deslize ou sendo "malversor" de recursos públicos. Tenho muito orgulho da minha história como político.
As críticas te incomodam em nível pessoal? O senhor comentou sobre sua família, isso incomoda eles?
A mim pessoalmente não, pois como eu estou no meio, conheço o mato que eu tenho lenhando. Mas obviamente que aos familiares incomoda. Incomoda filhos, parentes que me conhecem e, por me conhecerem, sabem que a crítica é injusta. Um pouco foi isso que me orientou que a minha participação no serviço público estava de bom tamanho.
Sente orgulho de ter se dedicado ao processo de impeachment?
Nenhum orgulho, isso foi muito ruim para a cidade, a autoestima da cidade ficou muito pra baixo de ter um prefeito cassado por ser uma pessoa totalmente despreparada para a função. Então não tive orgulho nenhum, mas estávamos lá cumprindo um papel, não só eu, como todos os 19 vereadores. Nem eu e nenhum dos 19 vereadores pode levar isso para sua biografia como uma coisa positiva, deve levar como uma coisa negativa para a cidade, mas a certeza do dever cumprido, estavam lá para isso.
O próprio Cassina se referiu a você como um caso de "ame-o ou deixe-o", e seu nome acabou ganhando repercussão constante nas redes sociais, especialmente após sua participação no impeachment. Você gostaria de ser reconhecido de outra forma na vida pública?
Não, absolutamente, sou perfeitamente de bem com a vida na minha função de professor aposentado e agora continuando na profissão de advogado. Acho que essa expressão do Cassina foi um exagero, pois não tem lugar dessa cidade que eu passe e não seja reconhecido e que não tenha pessoas que gostam de mim e do trabalho que eu faço. Acho que isso é uma questão muito localizada, pontual em razão de uma ação forte na questão do impeachment que me transformou em adversário, nem diria adversário, mas em inimigo a ser combatido. Mas a população deu a resposta, os que me combatiam hoje estão perdendo presença, tem um até que renunciou à presidência do partido.
Então acha que o resultado das urnas foram um respaldo ao impeachment?
Sem dúvida nenhuma. As urnas deram a resposta do que o povo efetivamente pensa sobre a administração anterior. E esses "novos", que são mais velhos e bolorentos que tudo que tem de velho na política, logo ali adiante vão ser desmascarados.
Ter assumido o protagonismo desse processo e ter se exposto dessa forma, se considera um "mártir"?
Não, absolutamente não. Tive uma participação normal, eu ando de cabeça erguida em qualquer lugar dessa cidade e não me considero mártir de coisa nenhum. Só considero que, enquanto parlamentar, cumpri aquilo que, literalmente, determina a legislação: fiscalizar atos do Executivo, acompanhar e modernizar a legislação e propor novas leis. E diferente de outros parlamentares, eu nunca fui despachante, nunca fui desentupidor de bueiro, trocador de lâmpada.
Como o senhor avalia a gestão Cassina?
Vou usar as palavras do Cassina, Quando ouvia os candidatos falando, ele dizia: "tudo que esse povo tá falando nós já estamos fazendo." Nós destravamos a cidade, atualizamos toda legislação que estava trancada, Plano Diretor, Código de Obras e de Posturas, questões que estavam pendentes há anos na prefeitura. A passagem do Cassina com a minha participação vai marcar a história na cidade, sem dúvida nenhuma. Quando o Cassina afirma que fez quatro anos em um, sem dúvida alguma ele tem toda a razão.
E expectativa com relação ao Adiló?
O Adiló é uma pessoa humilde, preparada, conhece as demandas e os problemas da cidade. A minha expectativa com o Adiló é a mais positiva possível, tem tudo para dar certo.
O senhor vai deixar a política mesmo? O que pretende fazer?
Não, eu vou fazer política até morrer. Eu vou continuar participando do meu partido, ajudando na organização do movimento popular, que sempre foi a minha história, principalmente o movimento comunitário. Vou continuar atuando na minha profissão de advogado e segue o baile.
O senhor aceitaria algum cargo no governo eleito?
Não reunimos ainda o partido, mas a minha predisposição é de que nós tenhamos uma postura independente na Câmara, portanto, de não participarmos do novo governo. É uma postura a favor da cidade, mas, como diz o ditado, "ao vencedor, as batatas".
Mas caso haja uma boa relação, lhe oferecessem um cargo e houvesse a conivência do partido, o senhor não veria problema em aceitar?
Não existe essa hipótese.
E o senhor pretende voltar a concorrer a cargo eletivo no futuro?
O futuro a Deus pertence.
É possível então... mas à vereança?
(Pausa) Não está no meu horizonte.
E ao Executivo?
Não, no meu horizonte agora só está tirar uns dois, três meses de férias, pois estou há mais de quatro anos sem tirar férias direto, aí (depois) me reciclar um pouco também. A minha proposta agora é contribuir mais na organização do partido em nível estadual. Sou da executiva estadual do PSB, então gostaria de dar uma contribuição maior do ponto de vista da organização do PSB na região e no Estado.
O Rodrigo Beltrão fala do desejo de replicar uma frente de centro-esquerda em Caxias, especialmente entre PDT e PSB, o que o senhor pensa?
Está correto. É uma orientação em nível nacional, essa frente que tenha como base PSB, PDT, o PV e a Rede.
Acha viável?
Acho viável e extremamente promissora.
Uma crítica do PT neste ano e do PRB (atual Republicanos) na anterior é de que um grande grupo governa Caxias. O senhor acha que de fato existe isso?
Isso é um discurso derrotado, acho que a população deu a resposta.