O resultado da eleição em Caxias do Sul derrubou as convicções do ex-prefeito Daniel Guerra e apoiadores mais fiéis e, automaticamente, repercute no futuro do seu partido, o Republicanos. O argumento de Guerra e seu grupo de que os eleitores não concordavam com o impeachment e de que a resposta viria nas urnas restou sem credibilidade. A estratégia do partido de usar o ex-prefeito como figura central na campanha, tendo como principal objetivo disparar contra os que votaram pela cassação, ficou longe do efeito esperado. A chapa tucana que foi para o segundo turno e tornou-se vitoriosa é formada justamente por dois vereadores que votaram pelo impeachment, Adiló Didomenico e Paula Ioris, sendo que ela ainda foi relatora do processo, dando parecer pela cassação.
Sem o impeachment tendo grande efeito no pleito, Júlio César Freitas da Rosa, o candidato que Guerra queria ver dar continuidade ao seu projeto, junto com seu irmão Chico Guerra, somou 11.749 votos, correspondendo a 5,31% dos votos válidos. Desconhecido de considerável parte do eleitorado caxiense, Freitas acabou em sétimo lugar na disputa. O Republicanos, que fez dois vereadores em 2016, agora elegeu apenas um: Elisandro Fiuza, já detentor de mandato na Câmara. Os ex-secretários de Guerra que concorreram tiveram fraco desempenho.
Em junho, o ex-secretário de Desenvolvimento Econômico do Governo Guerra, Emílio Andreazza, que depois assumiu a presidência do Republicanos durante a campanha eleitoral, chegou a dizer que o ex-prefeito era, outra vez, o "grande personagem do processo eleitoral caxiense", ou seja, que teria peso nos rumos da eleição. Andreazza havia dito, inclusive, que haveria uma resposta eleitoral dura.
A confiança em seu capital político, conquistado na eleição de 2016 com 148.501 votos, era grande e foi expressada pelo próprio ex-prefeito no dia da eleição no primeiro turno. Ao acompanhar o voto de Freitas no dia 15 de novembro na prefeitura, ao ser questionado sobre como avaliava o governo de Flávio Cassina (PTB), Guerra respondeu:
— As urnas vão dizer.
E as urnas mostraram outra realidade do que esperavam o prefeito cassado e seu grupo.
Fora do segundo turno, a jogada seguinte foi pregar voto nulo, uma decisão que foi alvo muita crítica. O futuro político de Daniel Guerra e Júlio Freitas, naturalmente, faz parte dos questionamentos pós-eleição. O Republicanos deverá passar por ampla reflexão e reformulação. Aliás, o que já começou com a saída de Freitas do comando da sigla. Esse foi o primeiro movimento público do partido diante do resultado das urnas.
Freitas disse que "passou" a presidência para o vereador Fiuza no dia 3 deste mês, em reunião virtual do partido. Nos bastidores, o comentário é de que foi uma determinação do comando estadual. A defesa do voto nulo teria sido significativa para a mudança.
Vale lembrar que, em janeiro deste ano, Freitas afastou Fiuza do cargo de segundo vice-presidente do partido, colocando em seu lugar o ex-secretário municipal da Cultura, Joelmir da Silva Neto. Fiuza soube do afastamento pelo Pioneiro e admitiu que se sentia constrangido.
Ao responder sobre quais as perspectivas do Republicanos diante do resultado eleitoral, Fiuza deu a pista:
— Mudanças são necessárias e nossa executiva estadual está tratando dos alinhamentos finais.
Ele ainda não assumiu como presidente, pois depende de trâmites internos.
Relação com o novo governo
Em 21 de novembro, no site de campanha de Freitas e Chico, uma publicação reforçava que o Republicanos não apoiava nem Adiló Didomenico (PSDB), nem Pepe Vargas (PT), e dizia: "De antemão, já alertamos e deixamos claro a nossa atitude se, porventura, algum membro do Republicanos vier a assumir qualquer cargo em qualquer uma das duas possíveis futuras administrações, a executiva deliberará sobre sua expulsão do partido. Porque não compactuamos com nenhuma delas, que definitivamente não nos representam".
Isso, porém, foi antes da mudança no comando partidário. Fiuza já havia sido reeleito. No dia 3 de dezembro, Freitas anunciou a saída da presidência do partido e a executiva municipal renunciou. A informação veio a público nesta semana.
No dia seguinte à eleição de Adiló, Fiuza foi consultado sobre sua postura em relação ao futuro governo. A resposta veio em tom bem mais conciliador do que os posicionamentos sob liderança de Freitas.
— Vamos observar os primeiros 120 dias do prefeito eleito e suas ações para fazer uma avaliação e, após isso, trabalhar em prol das pessoas, com serenidade, mais com olhar daquilo que foi ofertado em plano de governo. É cedo ainda para fazer esse debate, sabendo do grande desafio que qualquer prefeito eleito vai enfrentar no primeiro ano de governo, com uma mudança grande na Câmara de Vereadores — disse Fiuza.
Sobre Daniel Guerra, Fiuza diz que sua continuação ou não na vida pública vai ser uma decisão exclusivamente dele.
— E como sempre nosso presidente estadual, (deputado federal) Carlos Gomes, diz: "A porta do Republicanos sempre estará aberta para as pessoas com o espírito republicano e conservador".
"Amo esta cidade"
O ex-candidato a prefeito Júlio Freitas diz que continua em Caxias do Sul. Ele veio para a cidade em 2017, quando começou o Governo Guerra. É natural de Porto Alegre.
— Amo esta cidade e aqui é o meu lar — declara.
E ainda alfineta o ex-adversário na campanha, Edson Néspolo (PDT), que foi para Gramado após a derrota na eleição de 2016, retornando neste ano para concorrer a prefeito.
— Não é porque perdi uma eleição que vou embora daqui. Não sou o Néspolo, que só aparece em Caxias em época de eleição — diz Freitas.
O ex-candidato a prefeito, que ocupou cargo de assessor de bancada da Câmara de Vereadores neste ano, disse que não voltará a atuar no Legislativo caxiense.
Guerra analisa propostas, diz Freitas
O rumo do ex-prefeito Daniel Guerra na política é incerto.
Júlio Freitas, que é próximo do ex-prefeito, disse que conversam com frequência.
— Falamos questões relativas a Caxias do Sul e aos difíceis próximos quatro anos que a cidade terá — disse Freitas.
De acordo com o representante do ex-prefeito na disputa eleitoral, Guerra tem propostas de trabalho tanto na iniciativa privada quanto pública, dentro e fora do país.
— O que posso dizer é que ele está analisando as propostas para tomar as decisões que ele entende cabíveis para o seu futuro — afirmou.
Sempre se referindo ao ex-chefe do Executivo como prefeito, Freitas reforçou:
— Tanto o prefeito Daniel Guerra quanto eu estamos num momento de análises do cenário de propostas. Quando estas decisões forem tomadas, com certeza todos saberão.
Usando o recente tema da reunião-almoço do prefeito Flávio Cassina (PTB) na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) — Quatro anos em um —, Freitas disparou:
— Entendemos que Caxias do Sul perdeu quatro anos em um agora em 2020 com o governo ilegítimo, e que Caxias retrocederá nos próximos quatro anos. Vamos acompanhar para ver se as promessas de campanha serão cumpridas, como a redução do valor da passagem do transporte coletivo para R$ 3,50, sem que para isto seja tirado dinheiro público do usuário de veículos.