As circunstâncias já eram tumultuadas quando Flávio Cassina (PTB) e Elói Frizzo (PSB) assumiram a prefeitura de Caxias do Sul, em janeiro deste ano, afinal, o processo transcorria após a cassação do prefeito eleito, Daniel Guerra (Republicanos). Não bastasse o delicado cenário político e a própria mudança de postura administrativa, o passar dos meses tornaram a tarefa temporária em tempos desgastantes para dois veteranos da política caxiense, que juntos somam mais de 30 anos de cargos públicos. Nos primeiros meses, lidaram com a pior seca dos últimos 40 anos da cidade, um temporal que destruiu estradas do interior, além de um ciclone bomba. Nada, no entanto, os preparou para enfrentar o momento mais crítico da história do município: a pandemia.
— O início de governo foi sob fogo cruzado, depois vieram as questões advindas da pandemia — comentou o vice, Elói Frizzo, durante apresentação do balanço do ano, no Centro Administrativo.
O prefeito Cassina afirmou sentimento de dever cumprido e diz que o seu governo sairá de cabeça erguida da administração. Embora não haja fechamento oficial financeiro, também assegura que entregará os cofres públicos numa condição melhor do que recebeu do governo de Daniel Guerra.
— Preciso exaltar a equipe que nós tivemos a felicidade de montar, sabendo que ia ser provisório, transitório, tampão, seja lá a denominação, todos sabiam que teriam um período muito difícil, mas (a equipe) respondeu e correspondeu — afirmou Cassina.
O prefeito e o vice também reiteraram críticas ao governo de Daniel Guerra. Já em fevereiro deste ano, Cassina havia se manifestado na Câmara de Vereadores, afirmando que a gestão de Guerra havia deixado um rombo de R$ 50 milhões nas finanças do município _ Guerra afirmava que sua administração teve um superávit de R$ 34,4 milhões e R$ 210 milhões em caixa.
— Achávamos que, como praticamente nos três anos anteriores, não haviam acontecido obras em Caxias, nós revivemos um período não só de falta de diálogo, vivenciamos um período em que nada aconteceu na cidade e tínhamos ideia de que encontraríamos a prefeitura numa excelente situação financeira — lamentou Frizzo.
Entre os maiores destaques, a dupla enfatizou a entrega da Escola Municipal Desvio Rizzo, no bairro Desvio Rizzo, em parceria com a Faculdade Anhanguera. A instituição tem capacidade de atender 1,2 mil alunos.
Esperança de lançar edital de transporte
Uma das pendências do governo de Flávio Cassina foi o edital de transporte coletivo, prometido para ser lançado neste ano, mas que segue travado na Procuradoria-Geral do Município (PGM). Ainda assim, durante a coletiva, Flávio Cassina afirmou que ainda tem esperança de lançar a licitação até o fim do seu mandato — portanto, até esta quinta (31).
— É uma coisa que está engasgada, puxamos para nós a responsabilidade da lei da mobilidade urbana, o transporte coletivo. Houve marchas e contramarchas, fomos, andamos e patinamos e trocamos ideias com a comunidade, fizemos infinitas reuniões. Frizzo, eu ainda tenho esperança de lançar este ano o edital... — direcionou Cassina ao vice.
Frizzo ressaltou que o edital segue em análise na PGM, mas ressaltou que também espera cumprir a promessa, cuja expectativa foi reiterada por Cassina:
— Foi uma responsabilidade que puxamos para nós no início do governo e não somos de empurrar com a barriga de deixar para os outros resolver os problemas mais graves. Foi um compromisso que puxamos, e não sei se não vamos fazer amanhã (quinta) esse lançamento do edital.
Assunto controverso na cidade, Cassina e Frizzo ironizaram as alegações de que ambos receberiam "recompensas" da atual concessionária
— E não ganhamos nenhum presente da Visate até agora — brincou Cassina.
— Nem um vinho — respondeu Frizzo.
Cassina aproveitou para um rápido desabafo com relação aos ataques e acusações que ambos recebem:
— O que o povo fala aí fora, esse pessoal que não conhece o negócio, o que um papagaio fala e os outros replicam, então eu e o Frizzo já estamos ricos, já ganhamos no mínimo dois apartamentos da Visate. Brincadeiras à parte, ouvimos muita barbaridade no mundo ali fora, se fosse responder cada imbecilidade que alguns segmentos do povo dizem a respeito de nossa pessoa nós iríamos para o hospício literalmente ou íamos passar num estado de guerra o dia todo brigando e entrando na Justiça para reparar algumas dessas imbecilidades.
"Fizemos o que era humanamente possível"
Após a apresentação do balanço do um ano de governo, Flávio Cassina concedeu entrevista coletiva. Confira trechos:
Foi muito rápido para fazer o que tinha para fazer? O que o senhor destaca?
O trabalho de equipe. Eu sou uma pessoa que, pela minha atividade de comércio, sempre teve de tomar decisões rápidas, pois o mundo dos negócios é perverso. Eu sou uma pessoa extremamente prática nas minhas ações, às vezes isso custa caro, porque tomamos decisão errada, mas procuro ser prático e, se tivesse que fazer uma autodefinição, eu sou 90% improvisação e 10% planejamento. Por isso a importância de uma equipe que pense, que coordene, que trabalhe, pois ficamos sossegados.
Que obras Caxias fica com a marca de Flávio Cassina?
Principalmente a parte da burocracia, quem assumir agora vai ter condições melhores de trabalho, pois não vai ter a máquina tão emperrada quanto aquela que encontramos.
Aquilo que não fez, fica arrependimento ou não?
Qualquer pessoa que encerra um período, tanto na vida pública quanto privada, sempre fica um vazio daquilo que a gente poderia ter feito e não conseguiu. Sempre fica esse vazio, mas ao mesmo tempo fica o consolo do que fizemos o que era humanamente possível, em função de todas circunstâncias que aconteceram, principalmente a pandemia.
O senhor disse que entregaria a prefeitura melhor do que recebeu. Está cumprindo isso?
Sim, sim, na nossa concepção, estamos fazendo quatro anos em um, sem dúvida nenhuma, graças ao trabalho da equipe. Vamos entregar a prefeitura melhor do que recebemos, indubitavelmente.
O senhor vai entregar a prefeitura de Caxias financeiramente melhor do que Guerra entregou para o senhor?
Isso sim. Estamos finalizando os números, mas posso dizer com antemão que estamos entregando uma prefeitura com pandemia e tudo melhor do que recebemos.
Qual valor aproximado que se tem?
Estamos trabalhando num orçamento de R$ 2,4 bilhões e vamos tentar trabalhar isso aí.
Muito se faz o comparativo com o governo de Daniel Guerra. O senhor acha que o seu governo se sustenta sozinho sem isso ou foi um governo restaurativo?
As duas coisas. Nos consumiu um tempo bastante importante e tivemos que readequar certas coisas, alguns remendos precisaram ser feitos, e isso tomou um tempo muito grande. Poderíamos ter usado esse tempo em outras ações para a comunidade.
O Adiló lhe pediu algum conselho?
Certamente, conversamos seguidamente. O Adiló é uma candidatura que estamos trabalhando há quatro anos, mais ou menos. Independente da sigla partidária, há um compromisso com o governo que vai nos suceder, vamos ajudar no que for possível. E esse governo, querendo ou não, não deixa de ser uma continuidade do nosso. Tem 10 que fazem parte do nosso que estão sendo aproveitados, então isso significa uma aprovação. E as eleições também aprovaram o nosso governo, 100%.
A exposição nas redes sociais e as próprias críticas que recebe, isso lhe incomoda num nível pessoal?
Barrabás foi preferido em relação a Cristo, então ninguém vai agradar todo mundo em momento algum, mas a grande expressiva maioria concordou que fomos bem, que fizemos o que era humanamente possível, é missão cumprida, e aquela meia dúzia de pessoas, não que não concordam com nosso governo, mas eram extremamente ligada a outros governo, isso a gente tem de saber conviver. Mas superamos tudo, construímos governo plenamente de consenso e saímos de cabeça erguida.
Reajuste do transporte coletivo, com essa retirada da gratuidade o valor pode ser reduzido?
É esse o objetivo.
Qual valor de redução seria ideal?
O prefeito eleito falou em trabalhar na possibilidade de R$ 3,50. Se adotarmos uma série de ações, é possível chegar próximo a isso, mas esse valor é um pouco difícil. Alguma coisa dá para melhorar bem com essas revisões que estão sendo implementadas.
Há expectativa de ainda lançar o edital de concessão do transporte coletivo no seu governo?
Amanhã (quinta) é o último dia, mas temos vontade imensa de lançar esse edital porque é um compromisso que desde o início chamamos a nossa responsabilidade e não gostamos de simplesmente "barrigar" (empurrar com a barriga) um assunto, empurrar para frente, não é do nosso feitio. Então, faltando mais alguma coisinha até amanhã podemos ter algumas surpresas.
Qual futuro político do senhor?
A minha carreira está encerrando, pois temos de abrir espaço para a juventude. Nós tivemos a oportunidade já de participar de duas secretarias, do primeiro e segundo governo (de José Ivo) Sartori, duas vezes secretário, duas vezes vereador, duas vezes presidente da Câmara e agora com esse epílogo aqui, está na hora de abrir espaço. Vamos cuidar da vida um pouco, a idade vem pegando, periodicamente temos de dar uma olhada no espelho e "opa, está passando o meu tempo". Vou tentar cuidar um pouco mais dos negócios particulares e da família, mas sempre estaremos envolvidos quando formos chamados para conciliar, ajudar alguma coisa. Estaremos sempre dispostos, em algum conselho, alguma coisa, a gente nunca se afasta definitivamente, mas não com aquele compromisso 24 horas por dia.