Em 2004, Juliano Valim (PSD) foi informado por médicos de que teria somente mais dois anos de vida. Ele foi diagnosticado com neurocisticercose, após uma tênia (parasita) se alojar em seu cérebro depois ter consumido carne de porco. Superando as estimativas, 16 anos depois, ele diz que a experiência de quase morte (foram três, na verdade) o fizeram ver a vida de uma outra perspectiva.
— Hoje, acredito que um dos motivos que estou vivo, que me move, são os trabalhos sociais que desenvolvo. Quando tenho o problema, olho para o lado e vejo que tem gente com problemas piores do que eu — destaca.
Embora tenha ressignificado a importância do serviço social na vida, a sua contribuição comunitária iniciou muito antes, ainda quando tinha 12 anos e se mudou do interior de Jaquirana, onde morava, para o bairro Serrano, em Caxias, onde vive até hoje, 27 anos depois. E foi pela dedicação ao envolvimento comunitário que Valim acredita ter recebido 2.606 votos de confiança na eleição para vereador deste ano, o que o tornou o 8º candidato mais votado nas proporcionais logo na primeira vez que disputou uma eleição.
— Amigos sempre falavam que eu seria um bom vereador, mas me faltava experiência. Em 2008, recebi convite dum partido, conversei com o padre do bairro e ele disse "Juliano, tu é catequista, faz parte da pastoral das crianças, do retiro de casais, tenta fortalecer mais teus trabalhos sociais que vai chegar a tua hora". Foi em 2011 ou 2012, quando o vereador Kiko se candidatou a vereador, que então me convidou para ajudar ele e eu aceitei.
Sete anos trabalhando no gabinete do vereador Kiko fizeram com que Valim adquirisse a experiência política que acreditava precisar ter.
— Eu sabia que ia me eleger, acharia estranho se não tivesse (sido eleito). Sou uma pessoa bem vista na comunidade pelo trabalho que eu faço —afirma.
Embora seja bastante conhecido no bairro Serrano, Valim destaca que recebeu votos de todas as regiões da cidade. O vínculo com o bairro da Zona Norte, entretanto, lhe identifica, assim como outros dois vereadores eleitos de lá: Estela Balardin (PT) e Clóvis Xuxa (PTB). Representatividade importante mas que, na visão de Juliano, também exige responsabilidade:
— O Serrano é referência na região, que comando com bairros dos arredores, tem cerca de 50 mil habitantes. É importante ter três vereadores, mas precisa ser atuante, não adianta se eles não fazem nada.
Além de ter atuado como assessor na Câmara por sete anos e ser referência como liderança social, Juliano Valim é formado em Serviço Social pela Faculdade Anhanguera e desenvolve serviços voluntários na área.
Conviver com a doença
Desde 2004, Juliano Valim se mantém em tratamento da doença incurável que contraiu.
— Essa tênia pode parar no coração ou no cérebro, a minha parou no cérebro. O tratamento que eu faço é para manter ela adormecida, não posso fazer cirurgia porque ela está no centro do cérebro. Quando ela fica ativa, eu fico internado, na UTI. Já estive três vezes entre a vida e a morte, hospitalizado. Estou sempre lutando pela vida, pela sobrevivência e não me entrego — relata.
Segundo ele, outra motivação diária é o desejo de ver sua filha crescer, Júlia, de cinco anos. Também ressalta que a experiência com a doença lhe fez dedicar uma atenção maior à área da saúde, que projeta como uma das prioridades do seu mandato e atualmente desenvolve ações comunitárias de assistência a necessitados.
— Quando descobri essa doença, percebi a necessidade das pessoas que hoje não têm cama hospitalar, não têm cadeira de roda. Na minha casa, eu tenho três garagens. Em duas, coloco equipamentos ortopédicos, camas hospitalares, cadeiras de roda, são coisas que faço empréstimo, não cobro um centavo de ninguém — revela.
Vereador "diferente"
Da experiência indireta que teve na Câmara de Vereadores como assessor, Juliano Valim tem um olhar crítico.
— A política é muito dinâmica, temos julgamento do que é, mas lá dentro é outra coisa. Existe muito discurso e pouca prática, existe muita reunião lá dentro, mas o trabalhador que trabalha o dia todo, contribui com seus impostos, ele não vê o retorno. São muitas leis, mas a maioria as pessoas desconhecem. Discussões políticas, um querendo derrubar o outro, isso tudo é muito prejudicial para a população — avalia.
Como objetivo, ele menciona que tentará ser um vereador "diferente":
— Quero ser um vereador diferente, presente nas comunidades, pouco discurso e mais prática. Quero sair na rua e ser reconhecido por isso. Que quem votou em mim não sinta que jogou o voto fora e quem não votou em mim sinta que está sendo representado. Gostaria de ser inspiração para as gerações futuras.
Também promete exigir empenho na mesma medida de sua equipe de gabinete.
— Não só a responsabilidade do vereador, é do assessor também, a população também paga pelo gabinete. Uma assessoria não pode ficar 24 horas sentada num banco, numa cadeira recebendo visitas. Também tem de ir atrás dos interesses da população — afirma.
Além das bandeiras prioritárias (abaixo), Juliano Valim promete dedicar-se a "ir atrás" do Estado e do governo federal para buscar recursos para o município.
QUEM É
Perfil: 39 anos. Natural de Caxias, morou por 12 anos no interior de Jaquirana e há 27 anos reside no bairro Serrano. Bacharel em Serviço Social pela Faculdade Anhanguera.
Trajetória: Há 27 anos, desenvolve trabalho ativo comunitário, especialmente no bairro Serrano, onde ajudou a criar grupo de jovens, fez parte da Pastoral da Criança, da associação de moradores de bairro (Amob), foi conselheiro municipal da saúde (local) e é catequista há 17 anos na Paróquia Menino Deus. Trabalhou 12 anos na Agrale e por sete anos no gabinete do vereador Kiko Girardi (PSD).
Referência: não tem.
Pessoal: gosta de conviver em comunidade e com a família. Tem apreço pela leitura e é torcedor do Caxias. É divorciado e tem uma filha, Júlia, de cinco anos.
PROPOSTAS
Juliano Valim destaca o que pretende priorizar em seu mandato:
SAÚDE
"Agilidade em exames, consultas, procedimentos cirúrgicos. É uma calamidade pública termos 5 mil pessoas em linha de espera para fazer um procedimento."
COMUNIDADE
"Lutar para ter mais escolas de Educação Infantil. No bairro Serrano, tem um espaço que é o centro social urbano, que é uma parceria entre Estado e município, é um ginásio de esporte enorme que está abandonado e virou ponto de drogadição. E esse tipo de lugar existe por toda a cidade. Precisamos tomar providências."
SEGURANÇA
"Quero lutar para ter câmeras em vários pontos de acesso aos bairros. Hoje, Caxias perde para São Marcos, Vacaria e Lagoa Vermelha neste segmento. Se roubarem um carro ou uma residência, se tem o controle para onde fugiu os suspeitos. Também quero lutar por um melhor policiamento comunitário no interior e nos bairros. Quando passa uma viatura, as pessoas pensam "ah, mataram alguém". Por quê? Não adianta a viatura estar no bairro, mas só ficar em alguns pontos. E o resto do bairro? No interior, a viatura passa uma vez por mês. O ideal seria visitar as famílias, verificar com calma. Q polícia é mal vista, ouve-se muito da população "tá, a polícia está sempre no mesmo lugar, será que tão ganhando um cafezinho, tendo algum privilégio?". Temos de mudar essa cultura, a polícia tem de estar mais presente."
DINHEIRO PÚBLICO
"Melhor distribuição e fiscalização do dinheiro público. Hoje, tem obras que começam em R$ 50 mil e acabam em R$ 80 mil, R$ 100 mil, isso é superfaturamento. Se uma obra é R$ 50 mil é R$ 50 mil. Ou a empresa que contratou cometeu uma ilegalidade e tem de ser responsabilizada, ou é incompetência do servidor público que fez projeto."
ANIMAIS
"Tem leis sobre direito de animais, mas em alguns bairros se encontra mais animal na rua do que gente, tem de haver mais fiscalização, mais responsabilidade. Hoje se encontrar um animal perdido na rua ou vítima de maus-tratos, tu não sabe o que faz. Quando liga, um passa para outro. Não existe um setor fixo, é uma desordem."