Desde o dia 31 de outubro, o Pioneiro publica os perfis dos candidatos a vice-prefeito de Caxias do Sul. Confira o nono:
Da sacada da casa de Odir Ferronatto, no bairro Cinquentenário, tem-se a impressão de que o candidato à vice-prefeito, na chapa com Antonio Feldmann (Podemos), mora em um oásis no meio da cidade. O som que rompe o silêncio é dos pássaros assoviando em sua revoada primaveril. Sentado em uma poltrona, na sala de estar, Ferronatto revisitou seus 78 anos, sendo observado de pertinho pela esposa, Ana Maria, 72. O casal tem três filhos, Cláudia, 51, Cristina, 46 e, Tiago, 41, além de quatro netos.
Ferronato enumera sua carreira no poder púbico, a começar pelo cargo de técnico agrícola, pelo qual é aposentado pela prefeitura de Caxias do Sul. Foi ainda vereador e secretário da educação. Mas ele não esconde que a sua paixão sempre foi a sala de aula. Filho da professora Helena Maria e de Fermino Ferronatto, cujo nome batizou uma das escolas da rede municipal, no bairro Charqueadas, foi professor de matemática na rede pública estadual e particular.
— Meu pai era o penúltimo filho de 21 e, a minha mãe, a antepenúltima de 11. Meu pai, o penúltimo filho de 21, foi o primeiro alfabetizador de adultos, em Mato Perso. Aos sábados à tarde, ele reunia os vizinhos para ensinar. A primeira lição era assinar o nome. Minha mãe, a antepenúltima de 11 filhos, era professora — recorda.
Quando pequeno, Ferronatto e as duas irmãs tinham de ir à escola no lombo de uma mula, em um trajeto de 8km.
— Minha mãe saía pela manhã, eu na garupa dela, em uma mula. E, em outra mula, iam minhas duas irmãs mais velhas do que eu. Minhas irmãs estudavam pela manhã, com a minha mãe, e eu ficava com meu avô materno, que morava perto da escola. Ao meio dia, almoçávamos no meu avô. À tarde, minhas irmãs iam para casa ajudar o meu pai, e eu ficava na escola com a minha mãe, e voltávamos para casa à noite — explica, com o coração grato.
Enquanto conta sobre a sua infância, gesticula mais do que o normal, como se quisesse controlar a emoção que as cenas trazem. Percebo que ele toma nas mãos um livro e pergunto se é esse o que ele está lendo atualmente.
— Eu tenho uma baita biblioteca aqui em casa e estava com minha esposa procurando um livro para ler e encontrei esse. Qual é a tua obra, do Mário Sergio Cortella, é um livro sobre gestão, liderança e ética. Eu sempre tive um aspecto de líder, seja como aluno na escola técnica, ou presidente do Centro Estudantil, ou ainda vereador. Mas um líder não é um "impositor", ele tem de conquistar as pessoas pelo modo de ser — ensina.
Para explicar melhor o seu ponto de vista, exemplifica:
— Dia desses participei de debate com os candidatos a vice-prefeito. Eu disse assim: "Estamos aqui em um debate com 11 candidatos a vice-prefeito, debatendo tudo o que é problema da cidade. Espero que no dia 1º de janeiro isso acabe. Mesmo quem não for eleito que ajude o prefeito a administrar Caxias do Sul.
PADRINHO NA POLÍTICA
Aproveitando a presença da esposa, Ana Maria, resolvi brincar e perguntar como ela havia deixado o marido entrar na política. Antes que ela pudesse contar a sua versão, Ferronatto, interrompeu com uma sonora gargalhada.
— Ela não deixou, mas teve de aceitar — disse Ferronatto, sorrindo.
— Foi inciativa sua ou alguém o conduziu à política? — pergunto.
— Eu lecionava no Colégio La Salle, em 1972, ano em que me elegi a primeira vez à vereador. O Mário Vanin também lecionava no La Salle e então me convidou para ser candidato a vereador. Foi ele quem me levou para a política. Mas naquela época o salário de vereador era zero.
PROPÓSITO DE VIDA
Desde a sua entrada na administração pública, pela primeira vez, como técnico agrícola, em 1965, Ferronatto atravessou diferentes momentos da política no Brasil.
— Vejo que as pessoas estão sim muito desiludidas, mas não só com a política. Estão desiludidas com o ser humano...
Em silêncio, observo Ferronatto organizar o pensamento a partir das reticências. Em seguida, ele revela qual é ainda o seu propósito de vida:
— Na campanha, temos visitado vários bairros e loteamentos e tenho visto de perto a miséria das pessoas. Sinto que preciso fazer algo mais por essas pessoas, porque muitas delas tem sido exploradas pelos políticos e pelos empresários. Se eu for vice-prefeito quero dar mais atenção a esse tipo de atendimento.
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