Aos 17 anos, Júlio Freitas enfrentou três desafios que determinaram um novo curso da sua história. Com a doença do avô, Araci Teixeira de Freitas, Júlio é escolhido pela família para cuidar da propriedade rural, enquanto se recuperava de uma cirurgia para combater o câncer. Ainda adolescente, a namorada de Júlio engravida e, juntos, tiveram a primeira filha, Malany. E, no final desse ciclo, na transição para os 18, Júlio recebe o convite para trabalhar no poder público, sua porta de entrada para a política.
— Tudo na vida da gente tem ônus e bônus. Óbvio que tenho um ônus de ter sido pai aos 17 anos. Mas o grande bônus, é que, ao saber que tem alguém que depende de ti, para comer, para se alimentar, tu acaba enfrentando a tudo e a todos. Foi um amadurecimento muito precoce, mas me deu muita responsabilidade — reconhece o porto-alegrense Júlio Freitas, 46, pai de Malany, 29, Júlia, 14 e, João Pedro, 8, candidato à prefeitura de Caxias do Sul pelo Republicanos.
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Quando o avô recupera-se do câncer, Júlio, ainda adolescente, estudante do terceiro ano do ensino médio, precisou encontrar uma forma de sustentar a namorada e a filha, que eram agora a sua família.
— Nessa época eu morava em General Câmara. Minha tia vendia pão, para os mercadinhos da cidade. Eu, com a filha recém nascida, me ofereci para vender os pães para ela na rua, de porta em porta. Lembro que ela vendia, em média, 70 pães por semana. Eu cheguei a vender 350, por semana e 1.450, por mês. Eu ainda fazia pedidos de cuca, de segunda a sexta-feira, para entregar no sábado pela manhã. Isso dava uma média de 100 cucas por semana e 400, por mês. Isso me gerava, em torno, 2 a 3 salários mínimos, na época. E, aos domingos, eu lavava carro, capinava, cortava grama, tudo para ajudar a sustentar a família — recorda.
Durante esse período, por morar em uma cidade pequena, em que todos se conhecem, Júlio diz ter recebido ajuda de diversas pessoas, com roupas e alimentos. Emociona-se quando lembra de Clarice Trojac, sua professora de matemática no ensino médio.
— Na hora do recreio, eu ficava em sala de aula e dormia de tão cansado do trabalho. Ela não deixava ninguém me acordar. Na volta do recreio, ela passava a matéria no quadro. Enquanto os colegas copiavam, em silêncio, ela vinha na minha mesa, pegava o caderno, sem me acordar e copiava a matéria pra mim, pra que eu pudesse estudar em casa. E foi assim que terminei a escola — recorda.
CARREIRA POLÍTICA
Na transição dos 17 para os 18 anos, Júlio recebe um convite para entrar na política.
— Eu era um cara novo, conhecido na cidade, me dava bem com todo mundo. Entrei no setor jovem do MDB, e a partir daí, participamos de uma campanha municipal e o candidato que apoiávamos, o José Luiz Martins Neto (MDB) se elegeu e, eu, então com 18 anos, fui trabalhar na prefeitura, em General Câmara.
A partir de 1995, então com 21 anos, Júlio é convidado a trabalhar com o deputado estadual Gleno Scherer. O candidato à prefeitura de Caxias lembra que o plano era ficar um ano na Assembleia Legislativa e permaneceu sete. Depois de formar-se em Direito e trabalhar na iniciativa privada, acaba retornando à Porto Alegre, para trabalhar na Banrisul Corretora de Valores Imobiliários e Câmbio, uma das empresas do grupo Banrisul, em 2003, no governo de Germano Rigotto (MDB).
Por volta de 2010, trabalha em uma consultoria de planejamento sucessório, quando começa a ter mais contato coma cidade de Caxias do Sul, por conta atendimentos a clientes. Júlio volta à política em 2012, mais uma vez para atuar na Assembleia Legislativa, dessa vez para assessorar Carlos Gomes, na época, deputado estadual pelo PRB, atual Republicanos.
— Dos meus 46 anos de vida, começando a trabalhar com 12, como office boy, acumulo já 24 de serviço público e 10 na inciativa privada.
DANIEL GUERRA: UM CAPÍTULO À PARTE
Em 2013, um fato determinaria não apenas a expulsão de um membro do partido. Mas abriria uma porta de acesso à ocupar a cadeira de prefeito três anos depois. Vamos aos fatos, em resumo. O vereador Daniel Guerra, na época no PSDB, partido de sustentação da coligação que ajudou a eleger Alceu Barbosa Velho (PDT) à prefeitura, acabou sendo expulso do partido por ser combativo ao governo. Naquela conjuntura, Guerra e o então ex-vereador e atual candidato a prefeito Renato Nunes (PL), sentavam lado a lado.
— Quem descobriu o Daniel Guerra fui eu. Escuto na Rádio Gaúcha a Rosane de Oliveira e o Daniel Scola falando sobre que o Daniel Guerra, um vereador de Caxias tinha sido expulso do PSDB. Quando ouvi a informação de que tinha sido expulso, do PSDB, por 44 votos a 1, então falei com o deputado Carlos Gomes, e sugeri que trouxéssemos ele para o partido — revela.
Júlio diz ter ligado para falar com o então vereador, Renato Nunes, que teria dito: "Aqui na Câmara somos eu e o Guerra conta todos". Foi o aval para fazer um convite formal para que Guerra fosse convidado a entrar no PRB, atual Republicanos. Júlio reconta uma parte da conversa entre Guerra e o deputado Gomes, que é seminal para entender o futuro a eleição de 2016.
— Nunca me esqueço, nessa aproximação com o Carlos Gomes, o Daniel disse assim, para o deputado: "Eu sou um cara focado e determinado, queria saber se o senhor me dá carta branca para que eu possa implantar em Caxias tudo o que eu quero". O Carlos Gomes respondeu, dizendo: "Olha, Daniel, o maior patrimônio que o partido tem é o nome. Se tu não fizer nada de errado tu tem carta branca".
PROJETO DE CIDADE
Durante o governo Guerra, com a saída do vice-prefeito Ricardo Fabris, Júlio diz ter assumido a função de porta-voz oficial. Diz que foi tudo de forma natural, porque era necessário. Com o impeachment de Guerra, em 22 de dezembro de 2019, o nome de maior peso no partido foi justamente o de Júlio.
— O processo do impeachment foi um absurdo. Mas eu lembro que o prefeito Daniel Guerra sempre disse que o nosso projeto de cidade, que começamos a implementar em Caxias em 2017, transcende a todos nós. Na época, ele dizia que ele era a ponta visível. Mas o projeto é maior, sim, do que todos nós. Por isso, quando ele pediu para que eu tocasse esse projeto, eu entendi isso como uma missão — explica.
— E qual é a missão? — questiono.
— Tirar Caxias do Sul da situação de crise e recessão econômica. Ser prefeito é o grande desafio da minha vida. Se for da vontade de Deus, a missão vai se concretizar.