Antonio Feldmann, candidato do Podemos à prefeitura de Caxias do Sul, concedeu entrevista nos jardins do Seminário Diocesano Nossa Senhora Aparecida. A escolha não se deve apenas ao fato de que dali é possível ter uma vista privilegiada da cidade, mas porque Feldmann estudou no seminário dos 13 aos 20 anos, tempo em que sonhava ser padre.
— O sonho dos meus pais era ter um filho padre ou uma filha freira. Sobrou pra mim (risos). Quando eu era guri fui coroinha do padre Oscar Bertholdo (1935-1991, também poeta). Em casa, eu pegava um lençol e brincava que era a batina do padre — recorda Feldmann, 52 anos, nascido em Santa Bárbara, interior de Bento Gonçalves, casado com Gisleine Feldmann, 45, com quem tem duas filhas, Sabrina, 19, e Manuela, 9.
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Feldmann passou a adolescência motivado com o possibilidade de vir a ser padre, sabia que honraria muito os pais, Nilo José Feldmann e Zulmira Casagrande Feldmann. No entanto, uma conversa séria com Dom Paulo Moretto fez com que o jovem Feldmann repensasse o curso da vida.
— Tive duas decisões difíceis. Uma delas foi sair do seminário. Conversando com o Dom Paulo, certa vez ele me disse: "Essa tem de ser uma decisão tua e, não, porque teus pais querem que tu seja padre". Eu sabia que ao sair do seminário decepcionaria muita gente. Mas com 20 anos, amadureci, repensei e resolvi sair — revela.
A segunda decisão importante, a que se referia Feldmann, diz respeito justamente às duas fases seguintes da vida do ex-seminarista. Durante o período em que estudava para cumprir uma missão religiosa, Feldmann passou a fazer o jornal da diocese de Caxias. Foi tomando gosto por entrevistar pessoas e escrever reportagens. Após sair definitivamente do seminário, tomou coragem e bateu à porta do Paulo Cancian (1951-2018), editor-chefe do jornal Folha de Hoje (circulou entre 1989 e 1994).
— Eu cheguei na sala dele vestindo uma calça "meio canela", dizendo que fazia o jornalzinho da diocese e queria um emprego. O Cancian, que sempre deu oportunidade para todo mundo, me deu o emprego — lembra.
Feldmann fez parte da primeira turma de Jornalismo da UCS. Revela ainda que dividia a casa com outros colegas do jornal.
—Na época, o Paulo Triches (proprietário da Folha de Hoje) cedia uma casa pra gente, que nós chamávamos de Mansão 901. A minha cama era um colchão no chão e três caixas de papelão eram meu guarda-roupas. Na parte de baixo, funcionava uma mecânica, que exalava um cheiro de motocicleta muito forte — diverte-se ao lembrar.
Feldmann recorda com carinho dos primeiros dias de trabalho e, que de certa forma, lhe impulsionaram no direcionamento futuro da sua carreira.
— Na Folha de Hoje, comecei trabalhando na editoria de política, com a jornalista Rosilene Pozza (atualmente colunista de política do jornal Pioneiro). Ela foi a minha primeira chefe. Depois, trabalhei com o Alfeu de Oliveira, na editoria de Esportes, cobrindo a dupla Ca-Ju. Mais tarde, atuei na editoria de economia, e mais tarde me tornei até editor.
COBERTURA JORNALÍSTICA
A carreira de jornalista seguia firme e forte, quando, em 1993, a RBS decide comprar o Pioneiro. Na época, Feldmann trabalhava como editor na Folha de Hoje.
— Quando a RBS comprou o Pioneiro, eles convidaram duas pessoas da Folha de Hoje, para trabalhar, o Iotti e eu. Mas aí o Paulo Triches fez uma contraproposta para o Iotti e ele ficou. O primeiro que saiu fui eu, para me tornar editor de economia e, depois, de política, no Pioneiro.
Anos depois, em 1996, na histórica eleição à prefeitura de Caxias do Sul, em que colocava dois primos na disputa, Pepe Vargas (PT) contra Germano Rigotto (PMDB), Feldmann coordenou a cobertura jornalística do embate, quando atuava no jornal Pioneiro.
A SEGUNDA DECISÃO
Feldmann revela que José Ivo Sartori (MDB) dizia gostar do seu trabalho e, por vezes, em uma ou outra oportunidade vinha com aquele papo: "Por que tu não vem trabalhar comigo". Foi aí que ocorreu a segunda virada na vida do ex-seminarista e jornalista.
— A segunda decisão mais importante da minha vida foi quando eu saí do Pioneiro para trabalhar com o Sartori, em março de 1997, para assessorá-lo na Assembleia Legislativa.
Pergunto a Feldmann o que mudou daquela fase para hoje em dia, em que ele trocou de lado, deixando o jornalismo, e os bastidores, para se lançar candidato a prefeito.
— Agora, eu passei de estilingue para vidraça (risos). Porque eu sei bem como funciona, hoje eu acabo sendo o que está na vitrine. Mas aprendi muito no período em que fui jornalista, me deu base para o relacionamento com a imprensa e a me ajudou na melhor maneira de me comunicar — reconhece.
MEMÓRIAS DO PAI
Em meio a esse processo de deixar a carreira jornalística de lado para assessorar o Sartori e, mais tarde, inclusive trabalhar como diretor do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, pasta que tinha o comando do ministro Osmar Terra (MDB), ocorre um fato que estará registrado para sempre na vida de Feldmann.
— Meu pai morreu quando foi me visitar em Brasília, na época em que eu trabalhava com o Osmar Terra. Tinha sido a primeira vez que meu pai andou de avião. Ficou duas semanas comigo. Num domingo, estávamos em um parque, ele reclamou de dores na perna, levamos ele ao hospital, onde ficou internado um mês e morreu. Acabamos trazendo meu pai de volta para Caxias dentro de um caixão — lembra, com tristeza.
Seu Nilo também havia estudado em seminário, na juventude, mas acabou dedicando-se ao magistério. Lecionou em escolas rurais e formou-se com, muito empenho, no curso de Letras.
— Meu pai morreu no dia do meu aniversário. Até as 15h, eu estava recebendo felicitações. A partir dessa hora, quando mandei recado a todos dizendo que ele tinha morrido, as mensagens que eu recebia eram de "meus sentimentos". Fez três anos, agora, no dia 17 de setembro.
PROPÓSITO
— Qual o teu propósito, Feldmann — pergunto.
— Eu digo sempre que o propósito dá sentido à vida. Muitos perdem a razão de viver, porque não têm um propósito. Eu acho que o propósito pode mudar, conforme o rumo da vida — justifica Feldmann.
— No teu caso, mudou? — insisto.
— Na adolescência, meu propósito de vida era ser padre, foi por isso que vim a Caxias. Depois, eu queria ser um bom jornalista. Mais tarde, acabou por me tornar em um bom assessor e ajudar a eleger os outros. Agora, meu propósito de vida é ser prefeito para fazer a diferença na vida das pessoas.
— De que forma quer mudar a vida das pessoas? — questiono.
— Se eu for prefeito, o perfil de time que eu gostaria de montar é de pessoas com sensibilidade social e humana, que se importem e gostem de conviver com as pessoas.
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