O candidato Vinicius Ribeiro (DEM) encerrou nesta segunda-feira (9) o ciclo de entrevistas realizadas pela Gaúcha Serra com os postulantes ao cargo de prefeito de Caxias do Sul. Em 20 minutos, o ex-vereador e ex-deputado estadual respondeu a perguntas sobre pandemia, saúde e planejamento urbano. Também falou sobre Região Metropolitana da Serra Gaúcha, enxugamento da máquina pública e a saída do PDT.
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A entrevista foi ao ar durante o programa Gaúcha Atualidade, programa conduzido pelos jornalistas Tales Armiliato e Babiana Mugnol. Confira:
Qual será sua postura diante da pandemia, se eleito, e quais ações desenvolverá?
Próximo prefeito tem a missão de levar Caxias do Sul para um patamar mais seguro, entendendo que cada um é um agente de saúde e precisa assumir a sua responsabilidade, cuidando da sua saúde, cuidando da sua família e cuidando dos seus negócios. Nós entendemos que não há mais urgência do que tratarmos de um plano de recuperação, de alfabetização para as 1,3 mil crianças que não foram alfabetizadas este ano. Continuar cuidando dos nossos sistemas públicos de atendimento, dando foco à prevenção, mas, ao mesmo tempo, não descuidando da permanência dos leitos na área da saúde e dos trabalhos de educação permanente do sistema público de saúde com o sistema privado.
O que é o programa Cidade em 25 minutos? E o programa Ruas completas? Como chegar a isso em quatro anos?
A Cidade dos 25 minutos é uma estratégia em nível internacional adaptada aqui para as cidades inteligentes e sustentáveis. Nós queremos dividir a cidade em pequenas minicidades e que cada região seja autossustentável na prestação de serviço público com unidades básicas de saúde, na prestação de serviço na área educacional com escola infantil e fundamental. Nós precisamos também oportunizar, através da iniciativa privada, que haja disponibilidade na prestação de serviço privado como banco, farmácia, supermercado e todos os serviços do dia a dia. Há inúmeras regiões da nossa cidade que já sinalizam e exigem uma atualização da legislação municipal, tanto do Plano Diretor quanto do Código Tributário, algo que não está sendo discutido pela nossa comunidade. Com isso, as pessoas acabam investindo mais no comércio local, diminuindo o tempo de deslocamento e aumentando o tempo de permanência na sua região. E por consequência, as Ruas completas é uma estratégia de planejamento urbano para proporcionar que diversas ruas da nossa cidade com características comerciais sejam mais de permanência e menos de passagem. Essa estratégia é basicamente dividida em três ações. A primeira é entender que aquela rua e aquela calçada são de convivência. A estratégia seria através da disponibilidade de mobiliários urbanos provisórios e depois de mobiliários urbanos permanentes. O comércio se familiariza com a rua e a rua se familiariza com o comércio.
Neste caso, poderia ser estudado o fechamento de ruas, como a Júlio de Castilhos ou trechos?
Tu estás dando um exemplo. Nós podemos estudar em determinados dias, determinadas horas, determinados períodos do ano o fechamento de algumas ruas. Obviamente que tudo isso precisa passar por uma estratégia específica, tanto em nível comercial quanto de prestação de serviço. O foco principal é aquele que eu disse anteriormente. À medida em que a gente sinaliza e diz para a comunidade que a rua, o espaço público é de convivência, não de passagem, todas as demais estratégias passam a ser complementares.
O senhor foi um deputado que teve como uma das bandeiras a integração da Serra Gaúcha por meio da Região Metropolitana da Serra. Como fazer a integração de fato?
Primeiro, Caxias tem que ter humildade e entender que não vai crescer e se desenvolver enquanto região agindo sozinha. A gente precisa integrar os diferentes setores e prestações de serviço como região. A curto prazo, vai sobrar mais dinheiro para investirmos nas áreas que mais precisa. Precisamos entender que o governo do Estado precisa agir, porque a responsabilidade da regulamentação da Região Metropolitana é do Estado, mas também há corresponsabilidade das prefeituras e dos poderes Executivos que integram a Região Metropolitana. Nós precisamos nos consorciar. Os 13 municípios que integram a Região Metropolitana da Serra Gaúcha precisam entender que quanto maior a convergência de ações na área da educação, de saúde, de saneamento básico, de abastecimento de água, de planejamento territorial, de transporte tanto urbano quanto rodoviário, menor é o custo do poder público de modo geral para prestar esses serviços. E, por consequência, vai sobrar mais dinheiro para investirmos nos locais que mais precisam. Faz sete anos que estamos nos posicionando muito forte dessa necessidade de convergência regional para melhorarmos e facilitarmos a vida das pessoas e diminuir o custo operacional da prestação de serviço público.
O senhor afirmou ao Jornal Pioneiro que em casos específicos vai estudar a ideia de mãe crecheira. De que forma será? O senhor acha viável e seguro?
O foco principal é evitar a judicialização. Nós pagamos 50% a mais de vaga judicializada da vaga normal. Então, a primeira coisa que temos que fazer é sentar com o Judiciário e deixar de pagar as vagas judicializadas e pagar como vaga normal. A cada duas vagas judicializadas, nós pagamos três vagas de escolas infantis. E, inclusive, nós temos exemplos de algumas escolas infantis do município em que tu tens vaga judicializada, pagando 50% a mais do que vaga normal. A segunda ação nossa é ampliar a contratualização nas escolas privadas do acréscimo de oferta de vagas infantis. Quando o município não atinge a primeira e a segunda, qual a alternativa que nós teremos? Em casos específicos, temos que estudar a chamada mãe crecheira. Precisamos discutir isso junto com a comunidade escolar, junto com a comunidade pedagógica e trabalhar alguns critérios tanto psicológicos e pedagógicos para que em casos específicos onde o primeiro e o segundo nível o município não consegue atingir, tem uma terceira alternativa.
Falando em terceirização, o que o senhor pensa da gestão das UPAs?
O nosso foco é o sistema público e o nosso foco também é o serviço ao usuário, de qualidade, com maior eficiência e pelo menor tempo. O que não dá para aceitar é aquilo que ouvi de uma gestante de sete meses. Duas vezes ela foi a uma unidade básica de saúde e não ouviu ainda a batida do coração do seu filho. Nós estamos falando de equipamento básico. Nós estamos falando de atendimento primário. Nós estamos falando de disponibilidade de equipamentos para acompanhamento de uma gestante. E por consequência, o acompanhamento preventivo através de informação. Então, o nosso foco é o sistema público. Mas nós precisamos entender que administrativamente e financeiramente o município não consegue atingir o usuário em perfeita qualidade. Para esses casos, nós não temos outro caminho a não ser complementar a prestação de serviço com terceirização, principalmente na diminuição de tempo na busca de remédios, de consultas, de cirurgias e de exames.
No seu plano de governo consta diminuir os CCs, de funções gratificadas e de níveis hierárquicos. O que significa em termos práticos? Quantos CCs pretende ter em seu governo?
Nós precisamos fazer na prefeitura o que cada um de nós fez dentro de casa e dentro dos nossos negócios. Eu virei microempresário nos últimos três anos e passeis dois meses e meio sem emitir uma nota fiscal. E nós sabemos a dificuldade que foi esses últimos meses para quem é microempreendedor e empreendedor. Na prefeitura, é a mesma coisa. Nós estamos com uma prefeitura de 2020 com seu plano organizacional de 1980, de 1990. Ela é muito mais vertical e menos horizontal. Temos sete níveis hierárquicos, ou seja, nós tornamos a prefeitura muito burocrática, lenta, com falta de eficiência. E quando a gente sugere diminuir os níveis hierárquicos... a maior empresa de Caxias tem quatro níveis. A prefeitura tem sete. Assim, nós podemos diminuir em torno de 25% as funções gratificadas. Entendemos que é possível diminuir 30% os cargos de confiança. Entendemos que é possível diminuir de 25% a 30% também as secretarias, numa economia de R$ 506 mil a R$ 550 mil por mês. Dá, no mínimo, R$ 6 milhões por ano. E entendemos que é possível com essas medidas agilizar os processos e implementar programas mais digitais e fazer, inclusive, com que várias prestações de serviço sejam automáticas, entre elas, emissões de guias de ITBI, aprovação de projetos arquitetônicos e a emissão de outras taxas.
Sua trajetória na vida pública foi no PDT. Gostaríamos de saber sobre a decisão de troca de partido. Foi em busca de espaço para concorrer a prefeito? E o Vinicius que saiu do PDT e entrou no DEM, partidos praticamente opostos, mudou?
Eu me atualizei, me modernizei. Eu não perdi a sensibilidade do cidadão comum. Eu continuo um ótimo democrata. Meus últimos anos foram de conflitos no PDT, eu votava diferente da orientação partidária. Eu não concordava mais com algumas opiniões. A minha saída do PDT foi em janeiro do ano passado. Tinha a decisão de seguir a minha vida acadêmica como acadêmico de doutorado da Universidade de Caxias do Sul, da linha de inovação e competitividade. Avancei nos meus negócios como arquiteto e urbanista, hoje a minha empresa trabalha em cinco estados brasileiros elaborando planos de mobilidade, elaborando planos de planejamento da cidade. E a minha vida acadêmica também como professor. Então, essa foi a minha escolha. A minha ida ao Democrata foi também em função de um caminho natural de que dois partidos se uniram entendendo que o meu perfil, de uma pessoa experiente na vida pública, somada a minha experiência profissional, experiência acadêmica poderiam contribuir para administrar Caxias do Sul. Foi um caminho extremamente natural, sem nenhuma condição. E, aliás, nós não fizemos nenhuma outra aliança em Caxias porque não nos submetemos a cargos e apoios.
O senhor acha que é fácil para o eleitor entender esse processo ou o eleitor não se importa com os partidos e com essas mudanças?
Não é o momento de a gente tratar de ideologia e sim de uma filosofia de trabalho que passa, necessariamente, pela figura forte do prefeito. Mas também de humildade dele em saber ouvir e construir as suas ações junto com a comunidade. Quem conhece a história do Vinicius e a postura do Vinicius sempre soube que eu tive humildade para ouvir e coragem para fazer.
O senhor esteve na campanha de Edson Néspolo em 2016 (foi o coordenador). Quatro anos depois, vocês são adversários. Essa separação é fruto da derrota na eleição passada? O senhor acha que em um segundo turno pode ter algum tipo de reaproximação?
É hora de a gente olhar para a frente, trabalhar com ações mais contundentes na administração pública, em inovação, tecnologia. Cada governo fez o que entendia ser melhor para Caxias, não cabe a mim julgar o passado. O Néspolo está na caminhada dele e eu estou na minha caminhada. A minha energia agora é encontrar soluções para os atuais problemas e futuros, e não qualquer crítica e análise pretérita.
De que forma o senhor pode organizar e estar junto a outros governos no sentido de minimizar e dar mais presença de segurança aos caxienses?
O orçamento da Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção Social é em torno de R$ 25 milhões. Nosso efetivo da Guarda é em torno de 154 colaboradores. E nós entendemos que há diversas ações que precisam ser feitas. A primeira é de prevenção. Quanto mais investirmos em educação, em ocupação dos espaços públicos para convivência e práticas esportivas, programas de prevenção e drogadição, melhor serão os índices de segurança, maior seria a sensação de segurança. Uma das nossas ações da Cidade de 25 minutos é fazer com que as pessoas convivam mais dentro do seu bairro, da sua comunidade, aumentando também a sensação de segurança. Mas somente isso não basta. Precisamos implementar o Centro de Operações e Monitoramento em Caxias e fazer a integração das quase 2 mil câmeras de vigilância privada instaladas em Caxias, e grande parte delas direcionada para a rua, junto com o sistema de câmeras públicas. Nós temos tecnologia em Caxias, temos aplicativo de uma startup que já possui chip que é possível instalar no sistema de monitoramento de uma câmera privada, com autorização, e nós aumentarmos o grau de abrangência de vigilância em nosso município. Além disso, precisamos atualizar as funções da Guarda Municipal frente à lei federal 13.022, de 2014, e investir, obviamente, em parceria com a Brigada Militar e os demais órgãos de segurança para que nossas ações sejam em conjunto.
Como desenvolver o turismo?
Caxias não é uma ilha, nós precisamos integrar a rede de negócios da cidade para que dê retorno. Precisamos, sim, desenvolver o turismo, implementar ônibus de modo de turismo, incentivar o turismo científico que provém das universidades, integrar os 34 roteiros turísticos da Região Metropolitana da Serra Gaúcha, criar um fundo de desenvolvimento do turismo, criar um programa de turismo inteligente, criar junto da iniciativa privada e acadêmica o Observatório do Turismo, e entender que o turismo sozinho não tem força, mas se integrado com outros campos de desenvolvimento econômico, entre elas a indústria, o comércio, a prestação de serviço. E com alguns projetos específicos, de planejamento urbano, a gente consegue integrar diferentes valores culturais e turismo, como a Casa de Pedra com o Lanifício Gianella e este com a Festa da Uva, da mesma forma a Maesa com o entorno do Parque dos Macaquinhos e da prefeitura, o Monumento ao Imigrante com todos os seus potenciais de entorno e assim por diante.
Ouça a entrevista: