Se para cidades mais ricas e populosas já é uma tarefa árdua conseguir mais policiais, imagine para um município de 44 mil habitantes entre Passo Fundo e a Serra. Para devolver a tranquilidade para sua comunidade, a estratégia de Marau foi tornar a cidade mais inteligente. Iniciado em 2013, o projeto Olho Vivo espalhou 123 câmeras pela cidade e disponibiliza as imagens para Brigada Militar e Polícia Civil. O amadurecimento do sistema é apontado como o principal fator para a redução de 97% nos roubos de veículos, de 70% nos assaltos e 85% nos homicídios.
— Os índices de crimes caíram consideravelmente nestes anos, principalmente de homicídios. (Cada câmera) é como se fosse outro policial na rua, é um olho vigilante, que as pessoas e os próprios criminosos sabem que está lá. As imagens da cidade também nos ajudam a orientar as demais viaturas e fazer um atendimento mais rápido. Tudo fica gravado, inclusive acidentes de trânsito, que são disponibilizados mediante decisão judicial — aponta o capitão Sergio Pagliarini, comandante da BM em Marau.
O Olho Vivo foi montado com a união de diversas forças da comunidade. O investimento é feito via Consepro, e recebe novos recursos anualmente. O programa começou com 46 câmeras e 19 mil metros de cabos de fibra óptica. A sala de controle foi instalada na Brigada Militar, mas as imagens também são espelhadas para a delegacia. Hoje, são 123 câmeras e 57 mil metros de cabos, que começaram a chegar no interior.
— O sistema é inteligente. Seis câmeras, localizadas nos principais acessos da cidade, fazem a leitura de placas e detectam se um carro é roubado ou clonado, e até se pagou IPVA. As câmeras acionam imediatamente a Brigada. (Pelo sistema,) Os policiais também pode selecionar carros ou pessoas para as imagens perseguirem. Ou fazer um cercamento de uma área e verificar quem cruzou. O próprio sistema faz esta seleção de imagens. Se o carro suspeito é vermelho, por exemplo, o sistema irá mostrar só carros vermelhos ao longo das imagens — explica Paulo Dugatto, que compõe o grupo gestor do Olho Vivo junto ao Consepro.
Esses recursos de inteligência permitem que uma análise de cinco horas de imagens seja feita em menos de 10 minutos, aponta o delegado Norberto Rodrigues. Os inquéritos policiais, que antes necessitavam do relato de vítimas e testemunhas, agora são feitos com as imagens _ uma prova técnica, irrefutável e que permite um pedido de prisão mais rápido.
— É uma ferramenta de investigação da melhor qualidade e possuímos uma grande cobertura da cidade. Desde que houve o implemento do sistema, prendemos muitos assaltantes, e eles permanecem presos. Aumentamos os índices de elucidação e condenação, porque não sobra contraditória para o bandido se defender. Como se diz, uma imagem vale mais do que mil palavras. Nossos bandidos mais perigosos estão presos — avalia o chefe da Polícia Civil em Marau.
Mesmo com o resultado positivo, o programa Olho Vivo não é considerado finalizado. O interesse da comunidade é constante em novas tecnologias que facilitem a identificação de criminosos. As lideranças policiais também ficam atentas para descobrir "pontos cegos" do sistema e sugerir locais para a instalação de novas câmeras.
— Identificação de placas, filtros de cores e direção, esta capacidade de perseguir um suspeito (por diversas câmeras que passou) e agora estamos estudando o reconhecimento facial de foragidos. Estamos sempre atentos para aprimorar o sistema. Percebemos que aqueles bandidos que atuavam na nossa cidade estão migrando para outras. Porque sabem que aqui está muito difícil para o "trabalho" deles. Aqui, eles sabem que vão cair, e será rápido, e para ficar um bom tempo preso. É esta resposta rápida e contundente que traz a sensação de segurança para a comunidade — exalta o delegado Rodrigues.