Pioneiro, Gaúcha Serra e pioneiro.com concluem a série de oito reportagens que apresentam temas que são as maiores preocupações de eleitores entrevistados em pesquisa da RBS. Para 19% dos caxienses que responderam ao levantamento, a saúde é o principal problema da cidade. Como resolver o déficit histórico de atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) agravado pela pandemia de coronavírus?
Davi Lucas dos Santos Sandoval acumula diagnósticos difíceis para um menino de sete anos. Ele tem artrite idiopática juvenil, asma e sinusite crônica, além de autismo. Usuário do Sistema Único de Saúde (SUS), o pequeno morador do Vila Ipê, bairro periférico da Zona Norte de Caxias do Sul, já ficou, entre 2018 e 2019, um ano e três meses na fila de espera por uma consulta no reumatologista. Com a artrite agravada, o menino chegou a parar de caminhar até ser atendido e ter o tratamento reajustado. Superado esse problema, a família se deparou com outro em dezembro do ano passado, quando recebeu a notícia de que Davi teria que fazer uma cirurgia para retirar a adenoide e as amígdalas.
— O que mais nos preocupa é ele parar de respirar durante a noite. A gente está fazendo revezamento, eu durmo um pouco, meu marido dorme um pouco, pra ele não ficar sozinho — conta, aflita, a dona de casa Rafaela dos Santos, 34 anos, mãe de Davi.
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Passados 10 meses do diagnóstico, Rafaela procurou o serviço contratado pela prefeitura para realizar a cirurgia. Só então descobriu que o menino ainda nem consta na fila de espera oficial, porque ainda estão sendo chamados pacientes cadastrados em 2017. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde o caso de Davi não foi considerado prioridade na época do diagnóstico, mas uma nova consulta será agendada para analisar a situação.
A lista de espera na qual Davi ainda nem conseguiu entrar, de cirurgias eletivas, tinha 5.225 pacientes no fim de setembro, dado mais recente disponibilizado pela Secretaria Municipal da Saúde. Para realização de exames, são 18.076 e há 54.369 pessoas aguardando uma consulta especializada. Juntos, os casos somam 77.670 pacientes sem algum tipo de atendimento. O tamanho do problema se reflete na preocupação da população. A saúde é o principal problema do município apontado em pesquisa desenvolvida pela RBS com eleitores de Caxias do Sul, Eles foram questionados a respeito dos assuntos mais relevantes para a melhoria do município e 19% apontaram a saúde como principal problema da cidade. Saúde também foi o tema mais apontado com a segunda e a terceira maior preocupação dos caxienses entrevistados.
Mutirão para reduzir impacto da pandemia
O problema histórico das filas esperas foi agravado pela crise do coronavírus. Exames e cirurgias eletivas foram suspensos em março para garantir maior capacidade de atendimento dos hospitais, o que se demonstrou necessário com o avanço da pandemia. Já as consultas especializadas foram suspensas para diminuir a circulação de pessoas, acompanhando os protocolos de distanciamento social. Os atendimentos já foram retomados e, para amenizar a situação, a Secretaria Municipal da Saúde tem realizado mutirões aos sábados com foco nas especialidades com maior demanda represada por consultas, além de exames.
Na primeira edição do Fila Zero, 132 pacientes foram atendidos, sendo que 18,3% dos que estavam agendados não compareceram. Na segunda edição, que ocorreu no último sábado (7), foram 143 os atendidos, sendo que 45 faltaram. Também foram agendados 22 exames de eletrocardiograma e espirometria, e seis deles não compareceram no Centro Especializado de Saúde (CES). Além disso, foram realizados quatro procedimentos cirúrgicos. A próxima edição deve ocorrer em 5 de dezembro.
A prefeitura também estabeleceu, no fim de outubro, uma parceria com o Hospital do Círculo para ampliar o programa Fila Zero, oferecendo mais 477 consultas e exames por mês. Serão ofertadas 100 vagas para psicoterapia, 20 para fonoterapia, 100 consultas cardiológicas, 100 consultas psiquiátricas, 100 atendimentos de fisioterapia, dois exames de polissonografia, 10 exames de ultrassonografia de mama bilateral, 40 exames de ultrassonografia e 5 exames de ressonância magnética, todos sem custos para o município.
Raio-X
:: Unidades básicas de saúde: 48
:: Hospitais: 6
:: Médicos da rede municipal: 391, em 36 especialidades.
:: Médicos terceirizados: 139, em 28 especialidades.
:: Total de internações hospitalares pelo SUS em 2019: 28.292
Pacientes na fila de espera
:: Cirurgias eletivas: 5.225
:: Exames: 18.076
:: Consultas especializadas: 54.369
Especialidades com maior demanda reprimida nas consultas
:: Otorrinolaringologia: 3.379
:: Dermatologia: 3.325
:: Reumatologia: 2.662
:: Cardiologia: 2.453
:: Gastroenterologia: .995
Capacidade de atendimento
O que estabelece o Plano Anual de Saúde, previsto na Lei de Diretrizes Orçamentária para 2021.
:: Manter a oferta de 1,3 milhão de consultas especializadas em média complexidade
:: Manter a oferta de 1,956 milhão de exames de diagnóstico em laboratório clínico e anatomia patológica em média e alta complexidade, 251,9 mil exames em radiologia e exames de imagem de média e alta complexidade e 509,2 mil exames diagnósticos em especialidades de média e alta complexidade.
Fonte: Secretaria Municipal da Saúde