Dentro do projeto editorial de atenção às eleições municipais, o Pioneiro criou a seção Olhares da cidade. Este espaço é dedicado a depoimentos de pessoas de diversos perfis, que compõem a representatividade da população. O objetivo é contribuir com o debate eleitoral ao contemplar visões específicas que cada um tem sobre a cidade e qual sua relação com a cidade, compondo um cenário plural, a partir de ângulos complementares.
Leia mais
Olhares da cidade: "Vejo a juventude acuada aqui em Caxias", diz jovem universitária
Olhares da cidade: "Caxias precisa evoluir em acessibilidade", diz deficiente visual
Olhares da cidade: "Vamos nos cuidar e esperar pelo melhor", diz professora aposentada de Caxias do Sul
Olhares da cidade: "Todos merecem ser tratados com dignidade", diz professora negra de Caxias do Sul
Confira a seguir o depoimento de André Busnello Andreoli, 43 anos.
Meu nome é André Busnello Andreoli, 43 anos, formado em gestão ambiental e trabalho em consultoria ambiental para licenciamento de postos e transporte de combustíveis. Ciclista por esporte há pelo menos 25 anos, cicloativista por uma cidade melhor há pelo menos 20 anos. A bicicleta já é uma realidade no trânsito de Caxias do Sul há muito tempo, e cada dia que passa fica visível o aumento exponencial no número de adeptos da bicicleta, seja por esporte, lazer ou por ser o meio de transporte para muitas pessoas humildes. Nunca se vendeu tanta bicicleta como neste ano de 2020. Algumas lojas falam que triplicaram as vendas, e vários fabricantes não estão conseguindo repor os estoques nas lojas do ramo. Qualquer programação que seja voltada ao público ciclista sempre tem grande adesão e isso vai aumentar. Com a modernização e avanços na tecnologia das bicicletas, já é possível superar qualquer declive existente na nossa área urbana, e com o surgimento das bicicletas eletro assistidas, qualquer pessoa, de qualquer idade será capaz de transitar em qualquer lugar com relativa facilidade. É inevitável, Caxias não é uma ilha no mundo e aqui não vai ser diferente do resto dele, vai acontecer também. Pode demorar um pouco mais, mas em um futuro próximo, as nossas ruas estarão tomadas de bicicletas, e Caxias precisa se planejar para isso. Ocorre que, até hoje, as administrações públicas pouco ou quase nada fizeram pela infraestrutura urbana voltada para utilização da bicicleta. As poucas medidas que já foram feitas foram isoladas, distantes da área urbana ou simplesmente não passaram de promessas. A ciclovia em Forqueta leva do nada a lugar nenhum. A faixa compartilhada na Terceira Légua não passa de meia dúzia de placas penduradas em postes, e a ciclovia de Ana Rech nunca saiu do papel. Muito se falou, muito se prometeu, mas quase nada foi realmente feito. Já teve audiência pública sobre mobilidade, audiência pública específica sobre ciclovia, projeto de lei, abaixo assinado, reuniões, projetos aprovados, mas executado mesmo, muito pouco ou quase nada. É preciso que a próxima administração elabore o Plano de Mobilidade Urbana, mas, acima de tudo, que o futuro prefeito tenha coragem de iniciar a implantação de ciclovias em área urbana. É preciso coragem, pois certamente irá enfrentar críticas porque, por incrível que possa parecer, existem pessoas que não utilizam bicicleta que se declaram contra ciclovias, por medo de perder espaço para estacionar seus carros ou por ignorância mesmo. Sim, temos que disputar espaço com carro parado. Nossa parte, nós, ciclistas, estamos fazendo: depois de anos de iniciativas individuais e isoladas, este ano fundamos a União dos Ciclistas Caxienses (Unicca), uma associação que busca representatividade para nossas demandas e solicitações. Uma cidade com mais bicicletas é uma cidade mais democrática, mais divertida, mais segura, saudável e com um trânsito muito melhor.