Dentro do projeto editorial de atenção às eleições municipais, o Pioneiro criou a seção Olhares da cidade. Este espaço é dedicado a depoimentos de pessoas de diversos perfis, que compõem a representatividade da população. O objetivo é contribuir com o debate eleitoral ao contemplar visões específicas que cada um tem sobre a cidade e qual sua relação com ela, compondo um cenário plural, a partir de ângulos complementares.
Confira a seguir o depoimento de Josiane Souza dos Santos, cadeirante, 37 anos.
"Sofri um acidente de carro há 11 anos, na subida dos pavilhões da Festa da Uva. Só depois de muitos acidentes é que instalaram um quebra-molas naquela rua. Fiquei 40 dias hospitalizada e só soube que não ia mais voltar a andar quando voltei pra casa. Passei uma semana chorando, mas chorar não ia me fazer caminhar. Comecei a correr atrás do prejuízo.
Depois que recuperei minha postura na fisioterapia, comecei a usar o serviço do ônibus especial da Visate, que me busca e me leva onde precisa quando eu agendo. Mas, depois que ganhei a cadeira de rodas motorizada, passei a usar o ônibus normal, porque todos da minha linha têm elevador, e o especial tem muita demanda. No começo, minha história foi triste no ônibus normal. Várias vezes os motoristas me deixaram na parada com a desculpa de não conseguir estacionar direito para usar o elevador. Passei por muita dificuldade e precisei reclamar na Visate. Tive que dizer: 'Eu nunca quis estar numa cadeira de rodas, mas pode acontecer com qualquer um, inclusive com quem não nos respeita'. Depois disso, faz uns três anos, nunca mais tive problema.
Tem gente que nem cumprimenta e já pergunta o que aconteceu contigo. No começo eu era mais compreensível, mas acho invasivo, falta de educação. Eu falo com naturalidade do meu acidente, mas não pode ser assim.
Os motoristas não respeitam o cadeirante. Eu fiz a carteira antes do meu acidente e sei que a gente aprende na autoescola que tem que parar nas lombadas e nas faixas, mas eles não param. Eu morro de medo de atravessar a rua.
É bem difícil a locomoção em Caxias para quem usa cadeira de rodas. Nos bairros eu até entendo, as calçadas são responsabilidade dos donos das casas e nem todos têm condições financeiras de arrumar. Muitas vezes eu acabo andando pelo meio da rua. Com a instalação das rampas novas no Centro, melhorou bastante para a gente, mas ninguém pode achar que a gente só vai onde decidem colocar as rampas. Eu sou bem ativa, vou por tudo. Eu me preocupei com acessibilidade depois que fiquei na cadeira. Com certeza, eles poderiam fazer mais"