Pioneiro, Gaúcha Serra e pioneiro.com dão continuidade à série de oito reportagens que apresentam temas citados como as maiores preocupações dos entrevistados em pesquisa da RBS. Para 17% dos que responderam, desenvolvimento econômico é tema que ocupa as três primeiras demandas. Quase 40mil postos de trabalho desapareceram entre 2013 e 2020 e o Produto Interno Bruto estacionou.
Com tamanhos, matriz produtiva e colonizações semelhantes, Caxias do Sul e Joinville já foram comparadas diversas vezes. Os PIBs eram equiparados em 2011 e 2012, com valores na casa dos R$ 20 bilhões, segundo o IBGE. No entanto, a partir de 2013, a cidade catarinense continuou a crescer, alcançando R$ 27,3 bi em 2017,e Caxias estacionou nos R$ 21,7 bi. Além disso, Joinville é apontada pelo jornal britânico Financial Times como a melhor cidade de porte médio da América do Sul e a 5ª das Américas em estratégias para atração de investimentos.
Ao final de dois mandatos à frente da prefeitura, Udo Döhler reconhece as semelhanças entre as duas cidades com destaque para um ponto: ambas são voltadas ao trabalho, apesar da origem em territórios adversos. A economia de Joinville também se desenvolveu com base na indústria metalmecânica, que permanece como atividade principal. Porém, há 12 anos, deu início a um processo que pode explicar o que atualmente distancia as duas cidades: despertou para os problemas que depender de um único tipo de indústria poderia causar.
-É claro que o setor metalmecânico continua sendo o nosso núcleo, mas essa indústria vai se transformar e deixar de produzir o que produz hoje. Se percebeu que esse setor não permitiria a Joinville olhar para o futuro e enxergar uma cidade mais justa, mais igual, mais equilibrada - afirma o prefeito.
Um estudo encomendado pela Associação Empresarial de Joinville (Acij) em 2008 apontou o potencial de indústrias baseadas em novos materiais e introduziu conceitos como economia verde, inovação e tecnologia aliados aos processos industriais, a chamada Indústria 4.0. As startups de Joinville faturam mais de R$ 150 milhões por ano.
Por parte do poder público, Döhler afirma que coube investir em educação, focada em preparar a cidade para um novo momento. Em 2018, foi implantado na rede municipal o chamado "método de Cingapura", país asiático que concentra os melhores estudantes de matemática, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O município, em parceria com a Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), trouxe técnicos que formaram 40 professores multiplicadores. Hoje, as 86 escolas municipais contam com docentes de ciências e matemática habilitados no método.
- Percebemos que era preciso mudar esse modelo educacional porque, daqui a 20 anos, 40% das profissões desaparecem. Com esse olhar para a inovação e a tecnologia, queremos oportunizar o ingresso no mercado de trabalho futuro.
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Döhler reconhece o que chama de oportunidades de Joinville, como a boa infraestrutura viária da região, com portos e aeroportos próximos, tão importante para a logística e tão reivindicada pelos caxienses. No entanto, acredita que cabe ao poder público assegurar o que considera essencial.
- Incentivo não vale nada. Nosso projeto de município para quem quer vir pra cá é o seguinte: educação e saúde adequadas, energia elétrica e água suficientes para os próximos 30 anos. Aí o investidor percebe que não é o incentivo fiscal que vai ser o fator decisivo.
Além de captar novos investimentos, o prefeito afirma que também é importante a cidade atrair novos talentos.
- Eles estão em grandes centros porque lá a oportunidade de trabalho é melhor, mas sentem vontade de mudar para médias cidades. Então é preciso atraí-los. Como fazer? Além da boa educação para os filhos, precisa infraestrutura, bons restaurantes, boas praças, bons espaços de lazer. Isso é inevitável.