Pioneiro, Gaúcha Serra e pioneiro.com dão continuidade à série de oito reportagens que apresentam temas citados como as maiores preocupações dos entrevistados em pesquisa da RBS. Para 17% dos que responderam, desenvolvimento econômico é tema que ocupa as três primeiras demandas. Quase 40mil postos de trabalho desapareceram entre 2013 e 2020 e o Produto Interno Bruto estacionou.
De Pérola das Colônias, com economia pujante, a candidata a nova Detroit, a cidade norte-americana que chegou a ser o maior centro mundial da indústria automobilística e decretou falência. Quem vive em Caxias do Sul assiste nos últimos anos a uma espécie de fuga do dinheiro: enquanto grandes grupos industriais decidiam expandir unidades fora da cidade, novos empreendimentos não aportaram por aqui. Como resultado, quase 40 mil postos de trabalho desapareceram entre 2013 e 2020, e o Produto Interno Bruto(PIB) estacionou na casa dos R$21 bilhões após uma sequência de crescimento até 2014.
Em pesquisa desenvolvida pela RBS na Serra, entrevistados apontaram quais seriam os três problemas, por ordem de importância, que mais os preocupam. Em Caxias do Sul, desenvolvimento da economia foi mencionado por 17% das pessoas como um dos principais gargalos da região, sendo 6% das indicações para o problema principal. Embora o que foi conquistado não tenha se perdido em termos de produção de riquezas, o cenário preocupa porque tem reflexo direto na qualidade de vida da população. Além de se refletir em emprego e fonte de renda, a estagnação da economia também resulta em menos tributos recolhidos a serem investidos no que é de responsabilidade do poder público, como saúde, educação e segurança.
Entre os motivos apontados pelas empresas que deixam de investir em Caxias, alguns são mais frequentes: falta de incentivos fiscais, dificuldades logísticas e distância de mercados consumidores. Para o advogado Marcelo Andreola, que acompanhou a saída de empresas do mercado de Caxias nos últimos anos, é inegável que a cidade continua sendo empreendedora e próspera, o que ele atribui ao perfil trabalhador e arrojado do caxiense. No entanto, a carga tributária acaba sendo decisiva no momento da partida das empresas, principalmente para destinos como Santa Catarina, Espírito Santo e Minas Gerais.
— Fazendo uma comparação simplória ,Caxias do Sul chega a cobrar o dobro do ISSQN exigido por algumas cidades de Santa Catarina. Com isso, os municípios catarinenses atraem, em especial, muitas empresas de tecnologia, segmento que tem ganhado muita relevância para o desenvolvimento da economia local — destaca.
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Para quem fica, resta frustração e falta de perspectiva. Em maio, cerca de 100 funcionários foram dispensados por uma empresa que fabricava lâmpadas e luminárias no bairro Cidade Nova, que trocou Caxias por Itajaí (SC). A auxiliar de produção Bianca Luzia Machado Velho, 20 anos, estava em licença-maternidade quando a fábrica se despediu da cidade. Há um ano e cinco meses no cargo, planejava dar seguimento na carreira atuando na indústria, já que preferiu a produção à experiência que teve no comércio. No entanto, desde 31 de agosto, quando encerrou a licença, Bianca passou a integrar o contingente de desempregados.
— Meu objetivo era continuar trabalhando. Não sei como vai ser quando acabar o seguro. Senão fosse pelo salário do meu marido, não ia dar pra gente se manter — conta a mãe do pequeno Mateus, hoje com sete meses.
Mobilização e união de esforços para rever rumos do crescimento
A indústria caxiense é responsável por cerca de 30% da atividade econômica do município. No entanto, a indústria perdeu terreno. A participação no PIB já foi de 40% em 2004. Com R$ 25,1 bilhões em faturamento em 2010, o setor viu o montante despencar a R$ 11,2 bilhões seis anos depois, um patamar semelhante ao do ano 2000. Com o sinal de alerta aceso, começou a surgir na cidade a pauta da necessidade de revitalização da economia. Em 2017, teve início o Movimento Mobilização por Caxias (MobiCaxias). Com mais de 50 entidades, envolvendo cerca de 200 voluntários, o Mobi quer discutir e repensar o desenvolvimento do município até 2040.
— As sucessivas crises nos impuseram uma dívida social muito grande. Em 2013 Caxias empregava mais de 183 mil pessoas. Neste momento, estamos empregando cerca de 144 mil. Em sete anos, nós desempregamos 39 mil pessoas. O MobiCaxias surge nesse contexto na busca por alternativas para revitalizar e dinamizar o crescimento econômico — explica o vice-presidente do Conselho Diretor do Mobi, Astor Schmitt.
Investir em tecnologia para não ficar de fora da indústria 4.0 também desponta como alternativa, diminuindo a dependência do tradicional ramo automotivo pesado. Com origem em 2014, o Acelera Serra reúne empreendedores e startups da região com o objetivo de ser intermediador entre o setor público, privado e academia quando o assunto é inovação.
— Percebemos a necessidade em função de uma crescente desindustrialização, enquanto o cenário mundial de empreendedorismo está indo para esse caminho. A gente tem o exemplo de Florianópolis que já fatura cinco vezes mais com tecnologia do que com turismo. É um setor muito importante porque gera ISSQN, gera empregos de média renda, já que são pessoas qualificadas, e também movimenta a economia criativa — enumera Diori Ricaldi, coordenador do Acelera Serra.
Raio-X
Produto Interno Bruto (PIB) de Caxias
Em 2014: R$ 22.421.399,17
Em 2017: R$ 21.717.020,24
Fonte: IBGE
Participação dos setores em 2017
Serviços: 54,71%
Indústria: 31,47%
Administração: 12%
Agricultura: 1,05%
Fonte: IBGE
Arrecadação de tributos estaduais (ICMS, IPVA e ITCD)
Em 2010: 1.481.156.536
Em 2019: 1.407.088.364
Fonte: FEE Dados
Faturamento da indústria
Em 2010: R$ 25,1 bilhões
Em 2018: R$ 15,2 bilhões
Fonte: Simecs