Pioneiro, Gaúcha Serra e pioneiro.com dão continuidade à série de oito reportagens que apresentam temas que são as maiores preocupações de eleitores entrevistados em pesquisa da RBS. Dois especialistas opinam sobre as possibilidades para melhorar a economia em Caxias do Sul. Confira:
Astor Milton Schmitt, Vice-presidente do MobiCaxias, Diretor de Economia, Finanças e Estatísticas da CIC Caxias
Retrospecto
"Caxias é uma comunidade de sucesso, empreendedora, que ao longo do tempo construiu o que é hoje, a segunda economia do Estado do Rio Grande do Sul. Isso ninguém tira de nós e não pode ser ignorado. Apesar de todo esse sucesso, a nossa economia, por uma série de razões, perdeu um pouco da sua vitalidade, seu dinamismo, que é traduzido por uma série de indicadores. O ciclo de vida das empresas é muito pouco longevo. Em via de regra, na segunda ou na terceira geração as empresas simplesmente desaparecem. Grandes empresas daqui começaram a investir mais pesadamente fora de Caxias do que aqui. Por muitos anos nós não conseguimos atrair nenhum investimento relevante, daqueles que muda bastante a fisionomia social e econômica de uma comunidade. O espaço que nós conseguimos foi por um crescimento orgânico, gerado por aqueles que já estavam aqui, que por sinal é muito bom, mas poderia eventualmente ser melhor."
Competitividade
"Nós temos graves problemas de competitividade. Enquanto custos de capital humano, logística, mobilidade, burocracia estão acima do limite prudencial, isso nos rouba competitividade. Ninguém vai se instalar numa região que não dá condições que permitam alguém a ser competitivo. É preciso pavimentar um caminho para revitalização e retomada do nosso desenvolvimento econômico, e com a riqueza gerada pelo econômico melhoramos a nossa empregabilidade e sermos uma comunidade que vive melhor."
Infraestrutura
"Talvez seja um dos mais fortes motivos para que nós não consigamos atrair novos atores para a nossa atividade empresarial, em todos os setores. Quem trabalha em Caxias tem custos muito altos. E evidentemente esses custos altos, principalmente em logística, por termos uma infraestrutura fraca, saturada, desatualizada, faz com que nossos custos sejam absurdamente altos, o que consequentemente encarece muito o que se produz e o que se comercializa, e ao encarecer se perde em competitividade. Obviamente precisamos trabalhar questões relacionadas a energia, rodovias, portos, aeroportos, ferrovias. Por um lado, para preservar o bom desempenho e a competitividade daqueles que estão aqui, e por outro para ser um atrator de investimento devido a essa eficiência."
Setor público
"No setor público é preciso criar um cenário mais amigável aos negócios. Isso contempla redução de burocracias, inovação, digitalização, eficiência e eficácia nos processos administrativos de cumprimento de regulação. Nós temos que transformar o empreendedor ou investidor em alguém que vem ajudar a nos desenvolver, e não alguém que vem para criar problemas para um burocrata. Nós temos que entrar na competição nacional por novos investimentos. Hoje nós temos algo que alguns até chamam de guerra fiscal, em que estados e municípios criam todo tipo de artifícios e serviços de facilitação no plano financeiro, econômico e fiscal para atrair investimentos. Ou nós de alguma forma entramos nesse jogo, ou simplesmente ficamos fora dele. Não se trata de gostar ou de aceitar, mas de optar por estar nele ou não. E até aqui temos ficado mais fora do que dentro do jogo."
Monica Beatriz Mattia, professora economista e presidente do Corede Serra
Atrativos
"Os elementos que colaboram para que uma empresa se instale e permaneça em determinada cidade são a concentração industrial contendo recursos humanos aptos às atividades, acesso às matérias-primas, disponibilidade de uma infraestrutura logística satisfatória, disponibilidade de energia elétrica, gás, água e fibra ótica, existência de uma rede bancária diversificada, instituições formadoras de recursos humanos, instituições que atuam no aperfeiçoamento profissional, além de instituições de ciência e tecnologia. Em meu entendimento, Caxias do Sul é um "locus" de elevada atratividade, especialmente quando puder disponibilizar rodovias estaduais e federais duplicadas possibilitando maior facilidade para o transporte até o centro do país onde concentra-se a maior população do país. Caxias localiza-se próximo à capital do estado, próximo a um dos maiores núcleos turísticos do país e próximo ao litoral, ou seja, possibilita qualidade de vida aos gestores que acompanham a nova empresa. E possui um sistema de saúde e educação satisfatórios."
Retenção de empresas
"Para reter as empresas é preciso desafogar a logística regional com uma infraestrutura de rodovias moderna e que reduza os custos atuais. Desburocratizar e transformar todos os procedimentos de governo na modalidade digital para reduzir tempo e custo. Criar um ambiente na cidade que estimule as empresas a adotarem as inovações da indústria 4.0: internet das coisas, impressão 3D, inteligência artificial, nanotecnologia, big data, biotecnologia, bitcoin, blockchain, realidade virtual e realidade aumentada. Fortalecer o movimento do empreendedorismo inovador, representado pelas startups, para que apoiem as empresas na agregação de valor aos produtos e processos."
Benefícios fiscais
Atualmente, o fôlego de uma prefeitura para conceder benefícios fiscais é muito pequeno seja pela condição financeira ou legal. Poderia compor benefícios com o Estado e a União. Aí, sim, benefícios fiscais teriam uma robustez atrativa constituindo uma estratégia que poderia seduzir algumas empresas. Se lideranças políticas e privadas ficarem pensando que não podem conceder benefícios por considerar injusto com as empresas já instaladas, então o processo já está definido. Mas eu penso que este pensamento retrata um pensamento dos anos 80, quando outro pensamento se associava o de que as novas empresas "roubariam" os recursos humanos das empresas locais. Bem, se este pensamento prevalece, é óbvio que a cidade não cria o ambiente necessário para novas empresas se instalarem na cidade."
Inovação e tecnologia
"A alternativa que parece ser inovadora refere-se a atração de empresas de setores de alta tecnologia com negócios que podem ser complementares às cadeias produtivas existentes ou empresas de cadeias produtivas sem história na cidade, ainda. São exemplos de indústria de alta tecnologia os setores: farmacêutico; material de informática e escritório; equipamentos de rádio, TV e comunicação; instrumentos de ótica, médicos e de precisão, e o complexo eletrônico. A atração de empresas de alta tecnologia promoveria o avanço da matriz produtiva que passaria a contar com empresas diferenciadas influenciando o entorno institucional de formação e capacitação de recursos humanos; as consultorias existentes; os agentes de financiamento, dentre outros. Indústria de alta tecnologia remunera melhor toda a cadeia produtiva envolvida, além de promover o transbordamento tecnológico viabilizando um novo empreendedorismo e ampliando a riqueza da cidade."
A reportagem também moradores de Caxias do Sul e perguntou: Que ações o futuro prefeito deve promover para estimular a economia do município? Veja as respostas:
“Acho que ajudar na educação é um bom investimento, para que as pessoas consigam bons empregos. Eu era metalúrgico, mas acabei perdendo o serviço e não consegui outro com carteira assinada.”
Adroaldo Silva Feiten, 41 anos, autônomo
“A prefeitura teria que dar um jeito de ajudar as empresas com uma linha de crédito, um financiamento. O pessoal precisa do empresário, mas o empresário também precisa da mão de obra. O prefeito tem que buscar recursos fora, ter um bom relacionamento com governador e o presidente para atrair recursos pro município. E investir em qualificação, porque sem estudo as pessoas não vão conseguir uma boa colocação.”
Amancio de Souza Rocha, 52 anos, metalúrgico desempregado
“O que o prefeito precisa fazer é investir em saúde e educação e cobrar menos impostos, porque tiram tudo do nosso trabalho e não querem dar nada de volta.”
Elza Beatriz Muck, 66 anos, agricultora
“Acho que precisa diminuir os impostos para atrair empresas e cuidar melhor da cidade. Eu ouvia falar bem daqui, me mudei de Porto Alegre pra cá há três anos e não vi tudo isso que falavam, em lazer e serviços para as pessoas.”
Eliege Rodrigues, 56 anos, comerciante