Em seu primeiro pronunciamento público desde o impeachment que sofreu em dezembro do ano passado, o ex-prefeito Daniel Guerra anunciou Júlio Freitas, ex-secretário da Saúde de Caxias do Sul, e presidente do Republicanos, e o vereador Chico Guerra como candidatos a prefeito e vice, respectivamente, pelo partido na eleição majoritária de Caxias deste ano. A confirmação da chapa ocorreu em convenção partidária na tarde desta quarta-feira (16).
Na maior parte do evento, os discursos remeteram à cassação de Guerra e acusações contra o atual governo municipal, Visate e os vereadores que votaram pelo impeachment.
Daniel Guerra falou por cerca de uma hora. Sobre o candidato, referiu-se a Júlio como sucessor do "projeto de cidade" que lançou em seu programa de governo e destacou a participação dele como "braço direito" em sua gestão.
— Entre os aguerridos secretários da nossa administração, o escolhido dentre tantas pessoas capacitadas para a sucessão do projeto eleito pelos caxienses foi escolhido por uma série de razões. (...) Para conduzir Caxias, é necessário conhecer profundamente a administração pública, e seu trabalho como nosso braço direito e chefe de gabinete nos primeiros dois anos de nossa administração, chefiando trabalho de mais de 23 secretarias municipais (...), enriqueceu o nosso candidato com conhecimento necessário para retomar e fazer tudo que estava no caminho certo — afirmou Guerra.
Júlio enalteceu o companheiro de chapa, Chico Guerra como "conhecedor da administração" e reiterou a candidatura como continuidade do projeto do governo cassado:
— Chico, além de carregar o sobrenome e o legado Guerra para a nossa chapa, nos ajudará a corrigir todos os erros e desmandos que vigoram atualmente em Caxias do Sul. Somos a continuidade de um projeto que foi eleito pela larga maioria dos caxienses (...) e escolhidos pelo prefeito Daniel Guerra, que reconheceu em nós qualidades para liderar a segunda etapa do projeto.
Júlio César Freitas da Rosa tem 46 anos e é natural de Porto Alegre. Na administração de Daniel Guerra, atuou como chefe de Gabinete e secretário da Saúde.
Já Chico Guerra tem 52 anos, é ex-contador e atual vereador em primeiro mandato na Câmara de Caxias. Irmão de Daniel Guerra, foi peça de confiança no ex-governo, no qual também atuou como chefe de Gabinete e líder de governo no Legislativo.
Ex-integrante do governo
Pelo menos sete ex-integrantes do Governo Guerra foram apresentados como candidatos da nominata de 22 vereadores do Republicanos. Os ex-secretários Cristiano de Abreu Soares (Trânsito), Joelmir da Silva Neto (Cultura), Leandro Pavan (Obras), Mirangela Rossi (Urbanismo) e Claudir Bittencourt (Habitação). O vereador Elisandro Fiuza, que atuou como titular da Secretaria da Habitação por um período, e Tibiriçá Maineri, que comandou a Coordenadoria de Acessibilidade, também complementam a lista.
O que disse Guerra
Embora o principal propósito da convenção fosse o anúncio da chapa à majoritária e da nominata de vereadores, havia grande expectativa pelo pronunciamento do ex-prefeito Daniel Guerra, que desde o impeachment havia feito poucas aparições e nunca tinha se manifestado publicamente. Em seu discurso, de aproximadamente uma hora, na maior parte do tempo ele dedicou-se a criticar vereadores, o processo de cassação, a imprensa, a Visate e o atual governo. Confira algumas falas de Daniel Guerra.
INELEGIBILIDADE
"Quero agradecer o carinho dos caxienses que mostram toda a sua gratidão às coisas boas que fizemos em apenas três anos de mandato. (...) Poderia oferecer meu nome à disposição desta convenção, mas para isso precisaria mergulhar a nossa cidade numa batalha judicial sem fim com o risco de ser apresentado ao fim do processo eleitoral no TSE uma sentença de inelegibilidade injusta e imoral, a exemplo da tramoia arquitetada por esses 19 delinquentes da democracia (vereadores favoráveis ao impeachment)."
RETOMADA DE PROJETO
"É preciso ter a retomada e continuidade do que estava no caminho certo com início de um novo ciclo na nossa cidade. Cortamos tão fundo que nos tentaram tirar do jogo, mas não irão impedir os caxienses de julgar se esse projeto é o melhor para Caxias do Sul para os tempos que virão. Fomos impedidos pela Câmara Municipal de sermos candidatos nessa eleição em que iríamos submeter aos eleitores a aceitação, ou não, do nosso projeto. Não estarei como candidato, mas estarei novamente com o projeto."
ATUAL GOVERNO
"Esses mesmos qualificados e adeptos da política rasteira terão ainda coragem de pedir o voto dos caxienses. Hoje Caxias não tem prefeito, não há legitimidade neste governo tampão que se apresenta aos caxienses. Os caxienses se perguntam quem é essa figura e os muitos fantasmas da velha política que o cercam. Que senta na cadeira de prefeito municipal sem ter sido eleito pelos caxienses. Como pode esse grupelho que foi expulso no voto pelos caxienses em 2016, símbolo da incompetência e do que há de pior da política na nossa cidade (...) tomar de assalto a prefeitura municipal e dissolver o voto dos caxienses sem consultá-los."
ELEIÇÕES E BOLSONARO
"Esta gente não gosta que as pessoas tenham o poder de mudar no voto. Convido os caxienses à reflexão. Estamos acompanhando diariamente no governo federal, onde a mídia comprada, o STF e os dialogadores de plantão tentam de toda forma impedir nosso presidente Bolsonaro a governar. Infelizmente para esses, e felizmente para os caxienses, este projeto que foi eleito será retomado e seguirá firme, pois quem não respeita o voto do eleitor não merece o voto do eleitor."
PANDEMIA E VISATE
"Quanto importante é ter prefeito de pulso firme neste momento de combate à pandemia? Os caxienses sabem que, se estivéssemos na prefeitura neste momento crítico, não iria ter conversa mole com meia dúzia de empresários e papagaios pagos querendo fazer abre e fecha de bandeiras e muito menos com a Visate, autuada mais de 400 vezes na nossa gestão e que hoje segue com seus ônibus aglomerados, expondo ao risco a saúde e a vida dos caxienses."