Pioneiro, Gaúcha Serra e pioneiro.com começam a mostrar, em oito reportagens, os temas que são as maiores preocupações de eleitores entrevistados em pesquisa, para merecer atenção e proposta desde já dos 11 candidatos a prefeito de Caxias do Sul. Para 14% dos que responderam ao levantamento, infraestrutura viária é tema que está mencionado entre as três primeiras preocupações.
Tornar um problema parte da rotina gera, por si, um segundo problema, o de ter se acostumado a ele. Comportamento que se amplia ao coletivo quando envolve uma comunidade, por exemplo. Por isso, quando a reportagem visitou bairros com perceptível carência de infraestrutura viária, os próprios moradores responderam estar habituados com situações como usar caminhos alternativos para chegar em casa dependendo da condição climática, ou mesmo caminhar várias quadras em meio a declives, lama e cascalho para pegar ônibus que não passam nem perto de suas casas, em razão da impossibilidade de trafegabilidade.
— É, a gente se acostumou. Meu cunhado nem tenta subir esse morro porque sabe que o carro não aguenta. Mas o pior são as pessoas que moram mais longe da linha do ônibus, que precisam caminhar bastante pra pegar o transporte — relata Selma do Amarante, moradora do loteamento Monte Carmelo.
Em pesquisa realizada pela RBS, na região da Serra, respondentes apontaram quais seriam os três problemas, por ordem de importância, que mais os preocupam, e que mereceriam ser temas abordados em ano eleitoral. Infraestrutura viária foi mencionada por 18% das pessoas como um dos principais gargalos da região, sendo para 7% o problema principal.
Em Caxias do Sul, 14% dos entrevistados citaram como um problema prioritário na cidade. Buracos nas ruas, estado de conservação das perimetrais, falta de asfaltamento do interior e condição precária constante da Rota do Sol foram pontos específicos mencionados na pesquisa. A rodovia estadual cabe ao governo do Estado. Os demais trechos, entretanto, são de responsabilidade do município.
E, se moradores de muitos locais não mais percebem a situação problemática de suas ruas, o mesmo não acontece com quem precisa trafegar por esses locais, caso de prestadores de serviços, como motoristas de táxi, aplicativo, transporte coletivo, além de entregadores em geral.
Leandro Boscheti trabalha há 12 anos como taxista. Conhece a cidade de cabo a rabo e, por circular por todas as regiões diariamente há mais de uma década, está sempre a par de quais trechos tornam-se intrafegáveis, em dias ou épocas específicas. Sabe porque lhe custam no bolso as frequentes manutenções nos veículos.
— Caxias investe pouco na estrutura viária. A área central tem sempre as suas obras, eles até mantêm (as condições) e por isso muita gente não percebe o estado precário das ruas. Mas se for pegar bairros, há anos não é feito nada. O bairro cresce e a estrutura não cresce junto. Em Caxias, não temos conclusão de obras, é tapa-buraco, empurrar com a barriga, vai ajeitando, mas não se conclui o problema — aponta.
Leandro cita como regiões já consolidadas pelos seus problemas viários as do Monte Carmelo, Paraíso Cristal, Vila Amélia, Villa-Lobos, Planalto, Vêneto e Jardim Oriental. Também afirma que as perimetrais e os bairros Diamantino e Charqueadas têm sido problemáticas para o tráfego recentemente.
— Tem lugares que, em dias de chuva, o carro desce e não sobe mais, atola. E os buracos, quem é do bairro normalmente sabe quando surge um, mas para nós (profissionais) é muitas vezes uma surpresa, ou esquecemos. A manutenção acaba sendo altíssima, é amortecedor, pneu, roda torta... — relata.
O crescimento desordenado de bairros que se formaram a partir de ocupações é, de fato, um dos fatores que influenciam na infraestrutura deficiente. Isso porque comunidades são montadas em regiões sem nenhum planejamento urbano ou condições adequadas de solo. Segundo a prefeitura, atualmente há 440 loteamentos irregulares cadastrados no município. Muitas obras que poderiam melhorar as condições viárias em regiões mais periféricas esbarram na justificativa do poder público de que não pode fornecer serviços a ocupações irregulares, como precaução para evitar "um novo Caso Magnabosco" (indenização à Família Magnabosco pela urbanização no bairro 1º de Maio). Na lógica de um problema leva a outro, portanto, além de ter de assumir melhorias na infraestrutura urbana, o novo gestor precisará também buscar avançar nas políticas de regularização fundiária e na contenção de novas ocupações sem planejamento urbano.
Principais problemas
:: Regiões periféricas não recebem obras tão recorrentes.
:: Loteamentos consolidados nunca receberam asfaltamento. Além da sujeira de lama (em dias chuvosos) e de pó (em dias secos), mobilidade é limitada, pois ônibus não conseguem acessar diversas ruas.
:: Crescimento descontrolado de loteamentos sem organização urbana necessária.
:: Operações tapa-buracos, cujos remendos têm pouca durabilidade.
Regiões com problemas viários citados por entrevistados pela reportagem:
Monte Carmelo - Falta asfaltamento, buracos.
Montes Claros - Falta asfaltamento, buracos.
Villa-Lobos - Falta asfaltamento.
Altos de Galópolis - Condições precárias.
Vila Amélia - Ruas específicas sem asfaltamento.
Paraíso Cristal - Condições precárias.
Planalto - Acessos e ruas em labirinto.
Vêneto - Falta asfaltamento.
Jardim Oriental - Condições ruins.
Diamantino - Problemas pontuais.
Charqueadas _ Problemas pontuais.
Floresta - Problemas pontuais.
São Matheus - Problemas pontuais.
Salgado Filho - Condições ruins.
Cânyon - Condições ruins.
Serrano - Problemas pontuais.
Perimetrais - Problemas esporádicos.