Em meio à pandemia de coronavírus e consequentes desdobramentos, o pleito municipal de 2020 vem com características novas. Além do adiamento da data de votação, passando para 15 de novembro (primeiro turno) e 29 de novembro (segundo turno), o fim das coligações para vereador é uma mudança significativa. Em Caxias, há ainda a expectativa de quanto o impeachment de Daniel Guerra (Republicanos) terá impacto.
A mudança na eleição para vereador passou a ser vista como um “laboratório”, pois não poderá mais haver aliança para a conquista de vagas ao Legislativo. Esse fator leva a um aumento considerável de candidatos à prefeitura em função da necessidade de maior visibilidade, puxando voto para os postulantes às cadeiras na Câmara.
A proliferação de candidaturas para chefe do Executivo traz a concorrência entre ex-aliados, com caça aos votos nos mesmos redutos. Entra em jogo também a projeção para 2022. A experiência de 2016 mostra que a fórmula que já fez sucesso com a junção do maior número de partidos possível passou a ser rejeitada pelo eleitor.
Os que estiveram juntos nas administrações de José Ivo Sartori (MDB), de Alceu Barbosa Velho (PDT) e na última disputa à prefeitura com Néspolo agora anunciam sair separados. MDB e PDT, por exemplo, têm suas pré-candidaturas, respectivamente, com Carlos Búrigo, braço direito no Governo Sartori e secretário na gestão Alceu; e Edson Néspolo, coordenador das campanhas de Sartori e de Alceu, ex-secretário municipal e o candidato que reuniu mais de 20 partidos na eleição passada.
Há os que trocaram de partido para a disputa: Adiló Didomenico (PSDB, ex-PTB) integrou as equipes de Sartori e Alceu; Antonio Feldmann (Podemos, ex-MDB) foi secretário municipal de Sartori, vice-prefeito de Alceu e concorreu a vice de Néspolo, tendo passado pelo PSD; e Vinicius Ribeiro (DEM), ex-pedetista, foi secretário de Sartori e coordenou a campanha de Néspolo em 2016.
O trânsito desses pré-candidatos no mesmo eleitorado é um complicador no primeiro turno. O ex-prefeito Daniel Guerra já esteve no mesmo grupo. O pré-candidato Renato Nunes (PL) também. Assim como Guerra, Nunes foi para a oposição, ajudou a eleger o ex-prefeito. Romperam após o impeachment.
Os apoios e o prestígio em jogo
É normal que força política e prestígio de apoiadores e lideranças partidárias tenham reflexo na conquista de votos. Para o Republicanos, sem dúvida, Daniel Guerra é quem representa essa força, resta saber se o efeito será tão favorável quanto imaginam seus defensores.
Guerra foi eleito com 148,5 mil votos no segundo turno em 2016. A disputa foi contra Edson Néspolo (PDT), apoiado à época pelos que viriam a articular e aprovar a cassação em dezembro de 2019, resultando na eleição indireta de Flávio Cassina (PTB) e Elói Frizzo (PSB) para governar Caxias em ano de nova disputa eleitoral.
O Governo Guerra foi marcado por inúmeros conflitos. O então prefeito passou a ser definido como “encastelado”, desde que viu sua popularidade ser abalada. Depois vieram as ausências constantes com viagens pelo país, sem divulgação de resultados.
Se o preenchimento de cargos em comissão (CCs) foi polêmico no Governo Guerra, Cassina e Frizzo não deixaram por menos. O atual prefeito e vice compensaram com CCs os partidos e aliados que trabalharam pelo impeachment. Voltou para a prefeitura o grupo que o eleitor rejeitou em 2016.
No MDB, o ex-governador Sartori é figura central, uma vez que Caxias é seu território. A possibilidade de Sartori estar na disputa foi alimentada por muito tempo por emedebistas, como forma de segurar possíveis definições em torno de outros pré-candidatos.
Mesmo com Sartori fora da eleição, seu grupo vai tentar investir no resgate de arrependidos pelo voto em Eduardo Leite (PSDB) na eleição ao Piratini.
O ex-prefeito Alceu teve fortes embates com Guerra. Foi defendido como nome prioritário por pedetistas por um longo tempo, até que ele se encarregou de abrir apoio à pré-candidatura de Néspolo.
Já Adiló Didomenico (PSDB) investe forte no apoio do deputado estadual Neri, O Carteiro (Solidariedade).
Efeito Bolsonaro na disputa
Outro aspecto que marcará o pleito é o leque de opções de alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
É o caso principalmente de Nelson D’Arrigo (Patriota), que já selou o apoio do PRTB do vice-presidente da República, Hamilton Mourão; de Renato Nunes (PL); e do Republicanos (Júlio Freitas deve ser o candidato).
Na lista ainda tem o DEM, com Vinicius Ribeiro; o MDB de Carlos Búrigo, que na eleição ao Piratini criou o Sartonaro; e o Podemos, de Antonio Feldmann. A polarização hoje entre favoráveis e contrários a Bolsonaro terá mais ênfase junto ao eleitor. A internet, em especial as redes sociais, é o espelho da disputa entre apoiadores de Bolsonaro e seus desafetos.
Pepe Vargas (PT), por sua vez, representará o antagonismo ao presidente. Ele usará os bons resultados das gestões na prefeitura para tentar derrotar os adversários. O fato de o antipetismo tê-lo deixado fora do segundo turno em 2016, a eleição de Guerra e o impeachment, levando à instabilidade na cidade, será argumento para sua campanha. O uso simbólico do nome parlamentar Pepe de Lula Vargas, em apoio ao ex-presidente Lula, deve motivar o bombardeio dos antipetistas.
:: REENCONTRO
Enquanto alguns se separam, o PT e PCdoB voltam a se unir numa chapa majoritária em Caxias depois de 12 anos. Em 2008, o PCdoB foi vice de Pepe Vargas com Abgail Pereira. Em 2012 e 2016, o PCdoB concorreu com Assis Melo. O PT disputou, respectivamente, com Marcos Daneluz e Pepe Vargas.
Em 2020, o PCdoB abriu mão da candidatura própria para apoiar Pepe. Esse encaminhamento objetiva o fortalecimento em uma cidade do porte de Caxias, visando à eleição presidencial de 2022.
:: RETORNO
O retorno de Edson Néspolo depois de ter saído de Caxias diante da derrota de 2016 não deve passar em branco. O PDT trabalhou na oposição a Guerra, enquanto Néspolo ocupava um cargo de destaque em Gramado.
:: FAKE NEWS E CAMPANHA
A pandemia faz com que a campanha pelas redes sociais ganhe mais força. Os cuidados com a saúde, o distanciamento e a reação contra os políticos dificultam o contato direto com o eleitor. O horário gratuito de rádio e TV, fator de barganha numa aliança eleitoral, é um instrumento importante. O combate às fake news continuará sendo um desafio.
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