Apoiador do isolamento social e apaixonado pelo campo, o ex-prefeito de Caxias do Sul Alceu Barbosa Velho (PDT) passa este período crítico da pandemia do coronavírus no sítio em Muitos Capões. Ao Pioneiro, ele fez uma avaliação da situação nacional e as polêmicas envolvendo o presidente Jair Bolsonaro e ministros. Mesmo tendo votado em Bolsonaro no segundo turno em 2018, o ex-prefeito diz que a impressão é de que o presidente não pode ficar um dia sem arrumar confusão.
– Ele abafa as notícias boas com colocações infantis, desnecessárias – define.
Em relação às eleições municipais, Alceu diz que não tem dúvida de que o candidato do PDT é Edson Néspolo, atualmente presidente da Gramadotur. Quanto ao seu futuro político, afirma que sua disposição hoje é a de não disputar mais eleições.
Pioneiro: O senhor tem se mostrado favorável ao isolamento. Até criticou a flexibilização (das atividades econômicas) em postagem do prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin (PP). O que está achando das medidas do prefeito Flávio Cassina (PTB), e do governador Eduardo Leite (PSDB)?
Alceu Barbosa Velho: Sou totalmente favorável ao isolamento social. O convencimento é fácil: onde foi adotado no mundo, deu resultado positivo. Quanto a Caxias, está dando certo a condução da administração, haja vista os resultados atuais e, principalmente, até o presente, nenhuma morte. O Estado está inovando, pesquisando, e os resultados, perto dos demais Estados, está administrável.
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O senhor ficou em isolamento no sítio quanto tempo? Vai continuar?
Fiquei no sítio 33 dias seguidos. Dia 30 de abril, retornei. Enquanto o Fórum estiver fechado (ele é advogado) ou algo muito importante não "me chamar", ficarei por lá.
O que acha dessas decisões envolvendo o Governo Jair Bolsonaro, com a troca do ministro da Saúde e o fato de o presidente ser contra o distanciamento social, ele mesmo indo às ruas?
A troca do ministro da Saúde é prerrogativa do presidente. Minha opinião, vendo o desempenho desse novo ministro (Nelson Teich), é que foi um tremendo erro. E, quanto ao que o presidente tem feito para demonstrar seu desdém ao isolamento social, é uma coisa infantil, parece uma birra! Ora, o mundo inteiro, a OMS (Organização Mundial da Saúde) fala dos benefícios do distanciamento social, os exemplos estão aí, mas o presidente acha que não. É lamentável seu comportamento neste particular.
O senhor escreveu no Twitter: “Advogado há 38 anos. Eleito por 20 anos. Convívio frequente c/ políticos e juízes. @jairbolsonaro: Político profissional por 27 anos. @SergioMoroMJ: juiz federal p 23 anos, q colocou corruptos poderosos na cadeia. Em quem acreditar? Eu, em Sérgio Moro! Simples assim!” Nessa queda-de-braço, o senhor apoia Moro. De modo geral, o senhor, que abriu o voto para Bolsonaro, como avalia essa série de episódios, saída de Luiz Henrique Mandetta da Saúde, saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça, e agora a indicação para a Polícia Federal de Alexandre Ramagem, que acabou sendo cancelada pelo STF?
O que eu escrevi no Twitter tá escrito, é isso aí. Realmente votei em Bolsonaro, não ia votar no PT por todo histórico de corrupção que estávamos vendo e porque em Caxias, no segundo turno da eleição de 2016, votaram contra nosso candidato e ainda fizeram campanha. De outra parte, tirar o Mandetta, tirar o Sérgio Moro, indicar um amigo seu e de seus filhos para diretor-geral da Polícia Federal são problemas que o presidente cria para ele mesmo. A impressão que dá é que ele não pode ficar um dia sem arrumar uma confusão. De repente tem coisas boas que faz, tem ministros muito bons, mas ele abafa as notícias boas com colocações infantis, desnecessárias. Fala demais. Ora, "e daí?" Ora, "não sou coveiro". Ora, "a culpa é de prefeitos e governadores". Quando Moro falava do governo, Guedes falava do governo, Mandetta falava do governo, sentido amplo, tu até podias discordar, mas eles tinham argumentos, sabiam expor. É isso. Acho que a hora que Bolsonaro e os filhos pararem de dar palpite, a coisa vai.
Foi um mandado de segurança do PDT no STF (Supremo Tribunal Federal) que resultou no cancelamento da nomeação de Ramagem. O senhor concorda?
Por tudo que estava sendo divulgado na imprensa a respeito do senhor Ramagem, muitos partidos e pessoas físicas intentaram ações. A apreciada foi a do PDT.
Acredita que Bolsonaro possa sofrer impeachment?
Evidente que pode sofrer. Mas não é hora de falar disso. O foco todo hoje deve ser no combate à covid-19. Todas as energias devem combater o vírus, a Nação inteira.
Sobre eleições municipais. O que fez a comissão criada pelo PDT para conduzir o processo eleitoral dentro do partido em Caxias? Em que pé está a definição da candidatura do PDT?
A comissão vem conversando, sem alarde. A pandemia tem dificultado, mas via internet, temos conversado. A candidatura do PDT é Edson Néspolo, para mim não há dúvida.
O presidente do PDT, Maurício Flores, fez uma postagem defendendo aliança com o PSB. O que o senhor acha? Conversaram sobre isso, teria algum encaminhamento?
Falei com o presidente Maurício antes de sua postagem. Concordo integralmente. Estamos conversando com o PSB. Sempre fomos parceiros. Ajudaram a administrar com o PDT.
O nome cotado para concorrer a prefeito é o de Edson Néspolo, mas há reações dentro do partido. Como o senhor avalia isso?
Reações sempre vão existir. Fui vice-prefeito e prefeito sem ter unanimidade no início. Muita discussão sempre. Mas, repito, o nome é Edson Néspolo.
Pode haver surpresas no PDT? É certo que o PDT terá cabeça de chapa ou pode ser vice?
Você não pode negociar com ninguém dizendo "eu sou cabeça de chapa". Tudo é diálogo. Não é demérito para nenhum partido ser vice. Aliás, fui vice duas vezes do (José Ivo) Sartori.
Em caso de ser vice, seria em qual circunstância, para qual candidato ou partido? Há uma aproximação maior com quem?
Tudo é diálogo. Podemos ser prefeito e ser vice da parceria que se formar. Penso que dentro da parceria formada não pode haver preferência. Se pode ser prefeito do partido A, pode ser vice do partido A, também.
O senhor está fora da eleição municipal?
Fora não, porque estou fazendo tudo que posso pelo meu partido. Candidato a prefeito, já disse que defendo o nome do Néspolo.
Não concorrendo à prefeitura, qual seu futuro político? Pretende voltar a disputar em 2022?
Minha disposição, hoje, é não disputar mais eleições. Tenho esposa, filhos, família e está muito bom ficar com eles. Tenho consciência que fiz minha parte. Foram vinte anos de mandato. Vereador, vice-prefeito, deputado estadual e prefeito, sem nenhum pedido de impeachment.