O prefeito de Flores da Cunha, Lídio Scortegagna (MDB), negou que tenha assinado decreto na sexta-feira afrouxando as medidas de precaução ao combate ao coronavírus na sexta-feira (27). Segundo ele, o documento seguiu orientação do decreto assinado pelo governador Eduardo Leite (PSDB), mas acabou sendo mal interpretado pelos moradores da cidade. Após o aumento da movimentação na cidade na segunda (30), Scortegagna reuniu entidades de classe e voltou a adotar medidas restritivas no comércio, serviços e indústrias.
Leia também:
"Não há uma cartilha que ensine a combater o vírus", diz prefeito de Flores da Cunha após fechar novamente o comércio
Nesta entrevista, o prefeito também criticou a falta de um discurso único entre as esferas governamentais. Sem citar o nome do presidente Jair Bolsonaro, Scortegagna disse:
_ É difícil conseguir manter um alinhamento porque, em vez de tomar medidas mais sensíveis ou de orientação, fica gravando vídeo.
Por que determinou a abertura do comércio no decreto de sexta-feira, que foi revisto na segunda?
Não determinamos nada. Na sexta-feira, apenas fizemos a adesão ao decreto estadual publicado na quinta à noite, nós estávamos pleiteando que o Governo do Estado tivesse uma medida igual para todo o Estado, a exemplo do que aconteceu em Santa Catarina. Nós e as entidades acabamos nos reunindo e buscamos um entendimento que deveria ter uma padronização, para todas as cidades no mesmo formato.
O decreto assinado na sexta-feira que flexibilizou as medidas de prevenção ao coronavírus foi precipitado?
Não se flexibilizou nada. O decreto do Estado não flexibiliza nada. As pessoas entenderam mal, as pessoas fizeram uma interpretação, cada um fez o seu entendimento. Na "live" (transmissão ao vivo pelas redes sociais do Governo do Estado), o governador recomendava mais vias de isolamento social.
O novo decreto determina de medidas restritivas e tem validade de 15 dias. Pode ser revogado antes desse período?
Evidente. Estamos acompanhando atentos, todas as medidas devem todos os dias ser avaliadas. Temos um trabalho de equipe, e recebemos as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde), do próprio Ministério da Saúde.
O motivo alegado foi a falta de compreensão da comunidade. O que ocorreu na segunda-feira na cidade?
A gente percebeu que, se não tomássemos uma atitude firme, dura, enfim, uma medida que viesse acautelar a movimentação, as consequências poderiam ser maior. No final de semana, conseguimos conter algumas coisas. Ontem (segunda), conseguimos com todas as entidades que se estipulasse esse decreto e voltasse o fechamento, fizesse todas as restrições, desse a devida importância ao que está acontecendo e mostrar para a comunidade que é importante o isolamento social.
O que o senhor viu na cidade e trouxe preocupação?
Uma movimentação grande, principalmente de veículo em um primeiro momento. Muitas entidades ficaram preocupadas com isso, e a gente tomou a decisão de manter isso (novo decreto) e, a partir de agora, construir nesse primeiro momento uma série de medidas informando a comunidade e mostrando a necessidade dessas precauções que devem ser tomadas nos próximos dias para a gente ter menos problemas possíveis.
E como está a movimentação nesta terça?
Conseguimos eliminar essa movimentação. Estamos mantendo os serviços básicos, temos grande preocupação com as pessoas dos grupos de risco que estavam se expondo e a gente conseguiu conter. A gente espera que as medidas restritivas protejam a nossa comunidade, mas construído com as entidades, e que elas assumam o compromisso também de fazer as suas organizações para que a gente não tenha problema de contaminação.
O discurso do presidente Jair Bolsonaro contrário ao isolamento social influenciou nesta incompreensão da população, e na mobilização de parte da comunidade pela retomada?
Não sei se o discurso do presidente da República influenciou ou não. O problema é que temos vários discursos e isso causa bastante indignação de nós, gestores municipais que estamos na ponta, trabalhando com o cidadão no dia a dia. É difícil conseguir manter um alinhamento porque em vez de tomar medidas mais sensíveis ou de orientação, fica gravando vídeo, e isso não ajuda em nada neste momento em que o mundo passa por essa pandemia. Infelizmente, nossas lideranças ficam trocando acusações e muitas vezes não assumem as devidas responsabilidades, fazendo com que nos municípios a gente tenha que fazer as campanhas, organizar as entidades, tentar adequar nossos hospitais, estruturar a nossa sociedade. Seria tudo mais fácil se tivéssemos um discurso único de todos os entes, federal, estadual e municipal.
É a favor do isolamento social ou acha que só o vertical (para grupos de risco) já é suficiente?
Sou a favor das orientações da OMS, que está falando incansavelmente do isolamento social. É isso que precisamos acatar. Sou a favor do isolamento, que se mantenha esse distanciamento nesse primeiro momento até que se apresente uma segunda opção para que a gente consiga retomar nossa vida.
O serviço de saúde da cidade está preparado para atender as necessidades da pandemia?
Estamos fazendo um esforço grande com a Secretaria da Saúde, de todas as entidades e de toda a comunidade de Flores da Cunha, que está empenhada. Todos estão sabendo da gravidade do problema. Preparamos aquilo que é possível e que está no nosso alcance. Ainda estamos montando estruturas, colocamos à disposição estruturas para o Governo do Estado, para o Exército. A pior fase é a que estamos vivendo. Estamos no escuro. Estamos tomando todas as medidas que poderão ser assertivas ou que poderão ser julgadas que foram tomadas erradas. Estamos trabalhando para amenizar o problema.
Como tem sido a sua rotina com a pandemia?
Minha rotina tem sido praticamente 24 horas ligado, às vezes a gente desliga um pouco. Agora tenho secretários que estão saindo do governo por conta da próxima eleição, tenho secretários no grupo de risco com mais de 60 anos, tem secretária que está grávida, então tudo isso é um acúmulo de trabalho. São incansáveis reuniões tentando amenizar e fazer o melhor para evitar que o dano seja maior. Para dizer para a comunidade que precisamos que cada um fique isolado na sua casa para que a gente consiga passar por essa pandemia o mais rápido possível.