Ex-fiel escudeiro do ex-prefeito Daniel Guerra (Republicanos), Renato Nunes (PL, ex-PR) anunciou na última semana a emancipação da relação com o ex-prefeito. Confirmou-se também como pré-candidato à prefeitura de Caxias. Ao Pioneiro, ele falou sobre a postura que pretende adotar caso seja eleito chefe do Executivo.
Qual o diferencial para ser prefeito?
Sou um cara conciliador,apaziguador, de diálogo. Eu falava para o Daniel Guerra: faria tudo que ele fez, ou grande parte do que ele fez, mas de forma diferente. Conversando, dialogando, buscando um consenso, parceria, até mesmo com os próprios vereadores. Caxias do Sul não vai começar comigo, caso eu seja eleito, e não vai terminar comigo. Muitos vieram antes de mim e muitos virão depois. Não sou dono da verdade. É impossível que todas as pessoas estejam erradas. Uma vez eu prefeito, não posso garantir que não sofra pedido de impeachment, mas vai ser muito difícil, porque eu converso com todos.
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O senhor se considera maduro politicamente?
Eu não sou uma pessoa pronta, isso não existe. Mas já fui vereador por praticamente três mandatos, fui secretário municipal, presidente das comissões de Direitos Humanos, Participação Legislativa, então tenho certeza de que fizemos um bom trabalho e me sinto preparado.
Quando o senhor sugeria postura diferente de Daniel Guerra, qual era a reação?
Uma coisa boa que ele tem é que sempre ouviu. Mas nunca mudou o jeito dele de governar. Começou de um jeito e terminou exatamente do mesmo jeito. No andamento de um governo, não tem problema nenhum você voltar atrás, mudar, admitir que cometeu erro, exagero na forma de fazer. Eu filiei o Guerra, eu fui presidente do partido do Guerra. Apoiei ele, sempre apoiei que fosse candidato a prefeito e ele foi eleito. Só que ele me decepcionou, e não foi só a mim, mas uma grande parcela da população... na forma de fazer.
O senhor encerrou parceria com Daniel Guerra e teve relação com outros partidos de perfis diversos em sua carreira. Não causa má impressão ao eleitorado? Não passa a imagem de político que surfa na onda da tendência?
Eu não... Eu tenho certeza de que isso não vai acontecer porque quem me conhece sabe que eu comecei com Guerra e terminei com ele, apoiando ele sempre, mesmo nos momentos mais difíceis, coisa que nem o irmão dele (Chico Guerra) fez, coisa que nem o outro vereador do partido dele (Elisandro Fiuza) fez. Só que assim, chegou num ponto que, com a questão do impeachment, coisa que não queríamos que tivesse acontecido, mas aconteceu, por isso tomamos a decisão de que, daqui para frente, cada um segue o seu rumo. Eu não sou inimigo dele, apesar de não termos mais conversado depois do impeachment, ele não me ligou, ele nunca falou comigo depois. Sou grato ao que ele fez por mim, mas creio que, modéstia parte, fiz por onde.
O senhor falou em decepção com Daniel Guerra. Tem algum momento mais emblemático para ilustrar isso?
A maior decepção foi com a escolha do vice (ex-vice prefeito, Ricardo Fabris de Abreu/sem partido). Esse cara não era para ter sido vice. Tínhamos três partidos, o PL (PR na época), o PRB (atual Republicanos) e o Patriota (ex-PEN). Como ele era candidato do PRB, caberia aos outros dois partidos indicarmos o vice, coisa que o Daniel Guerra não aceitou. Tínhamos bons nomes, mas ele quis uma pessoa do partido dele. Ficou quase chapa pura, para que coligação de três partidos se os candidatos são do mesmo partido?
Mas essa decepção foi antes de ele se eleger então...
Começou lá. Tanto eu quanto o João (Dreher, presidente do atriota) praticamente pedimos “pelo amor de Deus, não coloca essa pessoa porque você não conhece ele.” Inclusive eu perguntei: “Você conhece essa pessoa há quanto tempo? Confia nele?” Ele disse: “Ah, mas ele tem um ótimo currículo.” Eu disse: “Eu sei, mas como vai colocar um vice que mal conhece?” Mas ele não aceitou e quis que fosse o Fabris, e foi a pessoa que tirou ele.
Essa não-aceitação das sugestões dos partidos... Daniel Guerra era fechado para os próprios aliados?
Eu sabia que, como vereador, ele (Guerra) era polêmico, mas o Executivo é diferente, você é prefeito para quem votou em ti e para quem não votou.É prefeito dos próprios vereadores. Eu pensei que ele fosse ser diferente, mas ele amplificou o jeito de ser. Talvez ele possa argumentar que as pessoas votaram nele por ser daquele jeito, mas é diferente, no Executivo ele tinha que simplesmente governar ouvindo as pessoas, respeitando a todos.
O que está achando do novo governo?
Qual governo? O tampão? Olha, eles estão bem perdidos. Isso que estão em vários partidos, nós éramos só em três. Os problemas são os mesmos, mas se o Guerra estivesse, ele seria o culpado. E agora é de quem a culpa? Isso é uma coisa que eu quero deixar claro, se for eleito eu nunca vou delegar a culpa para outros governos.“Ah, a culpa era do outro governo, do outro prefeito, das outras gestões.” Não, eu quis ser prefeito, então tenho de assumir.
Como vereador, o senhor sempre comparava as ações de Guerra com Governo Alceu (Barbosa Velho).
Eu tinha de fazer a defesa, meu querido.Eles queriam dizer que o Daniel estava destruindo a cidade, ele não destruiu. Ele mexeu em coisa que ninguém nunca mexeu. A questão dos médicos, cobrou carga horária dos médicos. Ninguém tinha feito isso. Visate, nunca ninguém tinha mexido, ele mexeu.
Da experiência com Daniel Guerra, o que tira de aprendizado?
O Guerra é honesto, fez o que nunca ninguém fez, porém, a forma que ele fez eu não faria. Faria diferente. Por exemplo, quando ele pediu todos os centros comunitários... Para fazer o quê? Pegar só para pegar? Deixa lá para servir a comunidade. Ou faz de outro jeito, convida o pessoal para conversar, mas não sai tirando. A questão das bancas de jornal, por que meter a patrola? Por exemplo, Parada Livre, jamais eu impediria que eles fizessem o evento deles. Por quê? Porque se eu liberei para Marcha para Jesus, eu tenho de liberar para a Parada Livre, para a Umbanda. Tenho de agir com justiça para todos. O povo quer que prefeito faça coisas que os outros não fizeram, mas o povo não quer que haja guerra na cidade. O prefeito de uma cidade é como se fosse o chefe de uma família, de um lar. Ele vai ter de apaziguar, unir.
Espera algo da igreja como eleitorado?
Espero. Espero o máximo de apoio possível de todos os evangélicos. Pelo que me consta, nunca teve candidato a prefeito (em Caxias) que fosse evangélico. E os evangélicos sempre quiseram isso, porque, querendo ou não, a religião influencia nisso.
O senhor aceitaria concorrer a vice?
Não, hoje não. Se nenhum partido aceitar a condição, a gente vai sozinho.
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