Lideranças de Caxias do Sul e região repercutem o afastamento de Daniel Guerra (Republicanos) do cargo de prefeito. Em comum, muitos apontam que o impeachment não foi bom para a imagem de Caxias do Sul, mas a maioria aposta na retomada do diálogo entre o Executivo e o restante da sociedade. Confira:
— Acho que para Caxias do Sul todo esse quadro, não o impeachment em si, mas todo o fato que antecedeu não é bom, não repercute bem. Mas tem que aceitar a decisão tomada e acompanhar o desdobramento até a próxima eleição, aguardar as etapas a serem vencidas. Mas temos que esperar que a cidade não tenha mais prejuízo, que a máquina administrativa funcione para Caxias do Sul.
Germano Rigotto (MDB), ex-governador
— O que era importante para Caxias é que nós resolvêssemos esse impasse e dar continuidade à vida da cidade. Enquanto entidade, temos de estar aí para ajudar Caxias a se desenvolver, a caminhar, a ter um futuro mais próspero. Vencido esse momento, nos cabe estar junto a quem assumir para dar apoio para Caxias ter um cenário mais próspero. Pelo que se lutou muito, foi o diálogo. Agora, que continue um diálogo muito forte de quem assumir.
Ivonei Pioner, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Caxias do Sul
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— A condução não foi das melhores, houve inferência do Legislativo no Executivo, que assume o protagonismo que é do Executivo e começa a decidir pelo modelo de governança de Daniel Guerra. Podemos não concordar com decisões de um prefeito, mas temos que respeitar o que foi decidido pelo voto. O afastamento, no meu entender, deveria ter motivos mais robustos, de qualidade administrativa, como improbidade, desvios de recursos que influenciem na vida das pessoas. Para nós prefeitos sempre é muito triste chegar a esse final, pois um prefeito tem seus programas de políticas públicas que foram referendados pelo voto. Por outro lado, a relação de Daniel Guerra com a região sempre foi dificultosa, ele não teve envolvimento para assuntos regionais. Talvez a região ganhe com isso, pois nenhum diálogo pode ser pior do que estava estabelecido.
Claiton Gonçalves (PDT), prefeito de Farroupilha
— É a Dilma de Caxias. Fez tudo errado, desafiou a lógica. Tem uma frase bíblica que explica tudo: Exalte-se e serás humilhado. Humilhe-se e serás exaltado. Ele não respeitava ninguém, era arrogante, só ele tem a razão, só ele está certo. Em três anos, não se conseguiu conhecer um secretário, ninguém conseguia ter acesso. Tudo era culpa dos outros e quando a culpa sempre é apontada para os outros e não é reconhecida, então dá nisso, a falta de habilidade. Eu disse para ele na transição, quando passei a questão do aeroporto, dos assaltos no interior, as questões mais importantes: Olha Daniel, um prefeito pode fazer muita coisa, mas não pode fazer tudo e achar que pode tudo. Ele não ouviu isso, achava que ele fazia, que estava certo. O que ele fazia, é um deboche. Agora vi que em pleno processo de impeachment, que é uma coisa séria, e ele na academia. É um negócio inacreditável, é um caso meio psicológico. Pior do que está não fica. Não tem como ficar pior, ele quebrou todas as pontes e agora a cidade, através do que a Câmara decidir, vai ter de reconstruir as pontes com o governo do Estado, com o governo federal, com os órgãos de ponta de Caxias do Sul. Conselho se fosse bom não se dava, mas vejo que aquele for eleito deve imediatamente começar a construir as pontes que foram detonadas por ele, a sociedade civil tem que ser ouvida, tem que ser uma grande coalizão de forças, não de partidos políticos, mas de setores como CIC, OAB, Sinduscon, o Sindilojas, o Sindigêneros, essas entidades representativas, abrir esse diálogo e ir em busca de sugestões. Tem outro lado que enquanto caxiense, enquanto prefeito que fui, não estou feliz, fico envergonhado pela cidade. É uma vergonha para a história de Caxias do Sul um prefeito cassado, não é bom. Ah, mas não é novidade ele ter sido expulso, já aconteceu da outra vez quando foi retirado do próprio partido (do PSDB). Pior do que está não fica.
Alceu Barbosa Velho, ex-prefeito de Caxias do Sul
— Com a conclusão, pela Câmara de Vereadores, do julgamento do processo de impeachment do prefeito Daniel Guerra, esperamos que o novo governante corresponda à expectativa dos caxienses e consiga enfrentar os desafios que com certeza se apresentarão, a começar pela tarefa de recuperar a autoestima da cidade e retomar o diálogo com todos os segmentos da sociedade. A Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC), como sempre fez em todas as administrações, mais uma vez se coloca à inteira disposição do Poder Público Municipal para construir um projeto de desenvolvimento para Caxias do Sul, em que predomine o bem comum, a harmonia entre os poderes, o respeito às leis e a integração regional.
Ivanir Gasparin, presidente da CIC Caxias
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— Não são raras as situações que envolvem impeachment ou processos de impedimento de prefeitos no nosso Estado e no nosso país. Muitos deles são atribuídos ou relacionados à quebra de princípios democráticos, de respeito a instituições, de relacionamento entre entidades e as forças vivas da comunidade, mais que isso, relacionamento com os Legislativos municipais. Porém, mesmo assim, nos causa muita surpresa e lamentamos bastante que ocorra em uma cidade vizinha, uma cidade importante como Caxias do Sul pelo impacto que isso causa em todo o nosso Estado. É a segunda maior cidade do RS. Justamente por isso, ficamos bastante pesarosos com a situação. De forma alguma, a gente interfere ou julga os acontecimentos, mas os atos merecem ser entendidos de forma bastante pesarosos. Respeitamos todo o trabalho feito pelo Legislativo municipal e atribuímos isso a uma condição didática. Acredito que as bases e os pilares da nossa sociedade precisam se respeitar. Nós precisamos interagir entre Executivo e Legislativo, esquecer apenas a interpretação dos termos da legislação onde ela diz que os poderes são independentes, nós temos que esquecer somente isso, temos que entender que existe um segundo trecho da sentença que determina que esses poderes, mesmo que independentes, precisam ser harmônicos. A soma de todos esses poderes, de todas essas instituições representam a nossa sociedade. Que fique a atribuição de ensinamento e que a gente consiga, a partir da pacificação dos termos, fazer das nossas comunidades, comunidades de desenvolvimento.
Guilherme Pasin, prefeito de Bento Gonçalves e presidente da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste
— Ainda não tive uma reunião com a diretoria. Mas é preocupante. A gente não sabe se é melhor continuar ou se é melhor essa parada para uma nova proposta. Então, para nós, está bastante difícil definir o que é melhor. Mas, como é uma agenda política e é algo que precisava ser definido, e os vereadores votaram contra o prosseguimento do Daniel Guerra e a gente tem de respeitar a opinião de todos os vereadores, vamos agora então trabalhar com esse novo cenário que Caxias do Sul amanhã amanhece e tem a partir de agora com a cassação do nosso prefeito Daniel Guerra. É o momento de a gente conversar com as novas lideranças, a nova linha a ser prosseguida, uma nova gestão assumindo a gestão de Caxias, que é o maior PIB do nosso Estado do Rio Grande do Sul, é uma cidade de grande importância na economia nacional. A partir de amanhã, a gente vai se reunir, provavelmente junto a CIC Caxias, para definir os rumos, uma nova gestão, novas diretrizes daqui para a frente, já que é um ano eleitoral. É o que eu comentei dentro das perspectivas do impeachment, melhor que continuasse já que é um ano de eleição. Mas, sim, entre continuar ou dar agora uma nova visão e uma nova sequência para a economia de Caxias, não deixa de ser algo muito importante. Então, a partir de amanhã, a gente vai conhecer melhor esse novo cenário e tomar as diretrizes, informar os novos dirigentes, novos gestores do município, a nossa visão e a nossa perspectiva em função de Caxias do Sul no ano de 2020.
Idalice Manchini, presidente do Sindilojas Caxias
— O que a gente entende é que o impeachment foi um procedimento legítimo, em que foram respeitadas todas as garantias do contraditório e da ampla defesa do prefeito. Os vereadores entenderam que a melhor alternativa era pelo impeachment. A partir daí, a Câmara fará a escolha do prefeito para terminar o mandato até o final do que vem. O que a gente espera é o próximo prefeito que assumir que aproveite para ver os erros cometidos na administração do Guerra e que corrija esses erros. Porque ficou muito claro, isso dito pelos vereadores, que era um governo que não estava ouvindo a comunidade, as instituições, as entidades, a oposição. A política é a arte de buscar o entendimento e foi isso que faltou. Essa deve ser a lição para quem vier assumir o cargo até o final do mandato.
Rudimar Luís Brogliato, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Subseção Caxias do Sul
— Do meu ponto de vista, a decisão, independentemente da avaliação da dimensão política, jurídica do ato, simbolicamente mostra que o poder público foi devolvido para a comunidade, tendo em vista que ela não era ouvida em suas demandas, expectativas. Vejo que agora é um momento de transição, e espero que seja com a participação das entidades representativas da sociedade como um todo. É momento da reflexão, da retomada do diálogo, da busca da construção coletiva para o futuro da nossa cidade. Existia uma posição de uma pessoa, que tinha uma visão até familiar da política, que muitos inclusive secretários não concordavam da sua posição, mas que não tinham força para que fosse implantado um modelo político de progresso para a nossa cidade. Para mim, é um momento de união, em busca de crescimento econômico, social e cultural da cidade. É um momento ímpar e de certa forma triste para a nossa cidade, mas que chegou a um ponto em que não tinha mais como dar continuidade.
Evaldo Kuiava, reitor da Universidade de Caxias do Sul
— No início do governo, o Daniel Guerra se mostrou aberto ao diálogo, mas isso durou um mês. Ele se transformou e não dialogou mais. Nós, servidores, tentamos durante mais de três anos contato, mas ele nunca podia, mandava a primeira-dama. Depois, nem ela nos atendia. O sindicato defende a democracia. Se os vereadores tinham motivo legal, também é justo e democrático. Vamos sempre tentar negociar com qualquer gestor que estiver ali, não será diferente com o próximo prefeito. Tomara que se abra diálogo.
Rui Miguel Borges da Silva, vice-presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Caxias do Sul (Sindiserv)