A sessão que levou ao impeachment do prefeito Daniel Guerra (Republicanos) foi de fortes críticas ao governo. Como era de se esperar, a oposição listou uma série de situações que fugiam ao processo para apontar o que considera erros da administração municipal. Guerra foi classificado diversas vezes como "o pior prefeito da história de Caxias". No entanto, chamou a atenção o pronunciamento do vereador Renato Nunes (PR). O ferrenho defensor do governo, que é um dos dois parlamentares da base de Guerra na Câmara, admitiu que fez alertas ao prefeito e a componentes do primeiro escalão sobre a forma de governar.
— Eu falei diversas vezes com meu prefeito e não vá pensar que não briguei com ele. Quem sabe aqui algumas pessoas sabem que eu briguei com ele, e ele está assistindo, ele sabe que eu briguei com ele. Eu não concordo com tudo. Briguei com ele, briguei com o Chico (Guerra, irmão e chefe de Gabinete de Guerra), briguei com irmão dele, briguei com secretário.
Em um discurso emocionado, Nunes fez questão de ressaltar que foi defensor do voto dos eleitores, e não de Guerra pessoalmente. Relatou conversas em que disse ao prefeito que era preciso respeitar os vereadores de oposição porque se tratava de respeitar a população.
— Eu tentei, não tive muito sucesso, mas continuei. Então, hoje, que triste para mim, para nós, para Caxias. Que coisa feia, eu não queria que fosse assim. Eu não queria — lamentou, chorando.
Nunes, assim com outros parlamentares, se solidarizou à vereadora Paula Ioris (PSDB), que foi alvo de ataques nas redes sociais nos últimos dias, e garantiu que discorda dessa forma de atuação. Disse ainda que foi assediado com a oferta de vantagens para votar de determinada forma, sem citar se contra ou a favor de Guerra.
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Assim como Nunes, o vereador Velocino Uez (PDT) afirmou que aconselhou o agora prefeito afastado a respeito desta forma de trabalhar no Executivo. Parte da oposição, ele contou que encontrou Guerra em uma missa há alguns meses e disse que ainda havia tempo de mudar.
— Não adianta, ele se encarcera lá dentro. Ele não quer ajuda. Ele acha que é dono desta cidade. A cidade não começou em 2017 — comentou, em um discurso que por diversas vezes arrancou palmas de quem acompanhava a sessão.
Uez se referiu ainda ao episódio em que secretários municipais, como Ederson de Albuquerque Cunha (Segurança Pública e Proteção Social) e Márcia Rohr da Cruz (Esporte e Lazer), levaram imagens de ratos ao plenário da Câmara durante a sessão do impeachment e questionou a capacidade deles de atender a comunidade com respeito.
— A educação que o pai me deu, com meu currículo de agricultor, é: trate o outro como você quer ser tratado. Quando tu olhas, secretários que vêm aqui e nos comparam com ratos: "se olhem no espelho primeiro".