Juntamente com o então líder de governo, Renato Nunes (PR), Elisandro Fiuza (Republicanos) integrou a base de Daniel Guerra (Republicanos) na Câmara de Vereadores. De atuação retida, diferente do comportamento provocativo de Nunes, Fiuza foi a voz ponderada de defesa do governo no Legislativo. Mesmo após o impeachment, ele nega discurso acusatório contra opositores de Guerra e espera que as administrações temporárias (interina e a nova a ser instituída) possam dar continuidade às atividades primordiais do poder público. Por outro lado, mantém posicionamento contrário à cassação de Daniel Guerra, fato que acredita que deve pesar no cenário eleitoral deste ano.
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Ao Pioneiro, Fiuza falou sobre o momento que passa a cidade após o impeachment. Confira a entrevista:
Passado o tormento do impeachment, o que já se pode avaliar do episódio?
Elisandro Fiuza: É um cenário bem complexo para a cidade. Caxias não pode parar e esses que fazem o trabalho de transição precisam ter a sensibilidade de fazer com que os contratos tenham continuidade, contratos importantes, principalmente na área da saúde. Quando disse que não havia nenhum ato que configurasse alguma improbidade administrativa, na verdade o que se configurou politicamente foi cenário de embates com alguns setores, entidades, instituições, alguns partidos ou situações de interesse se sentiram um pouco prejudicados e aconteceu tudo isso. Mas, por mais que houvesse desgaste, não era momento ou cenário para que aprovasse a situação de impedimento do prefeito em que não se configurasse nenhum ato administrativo irregular.
Mas, na história, o senhor acredita que será visto como golpe?
Não vou entrar neste mérito. Mas o que se entendeu é que não houve nada que viesse a configurar alguma improbidade administrativa, mas é interpretação de cada um. Se puxar na lei do Decreto 201/67 não há nada que configure. Na verdade, ficou um cenário bem negativo. Faltou contexto e robustez no processo (de impeachment).
Nesse tempo todo, o que predominou foi a crítica pela falta de diálogo. Acha que faltou, de fato, essa abertura por parte do governo?
Na verdade, não é que faltou, sempre houve, mas o diálogo tem de ser de ambas as partes. Num trabalho de governo, o gestor é o camarada que tem de conversar com todo mundo, tem de construir pontes e, com elegância e democracia, às vezes, tem de se posicionar com "não", mas um "não" com substância, que diga "eu não vou fazer isso por conta disso", para mostrar que o "não" não é por estar contra aquele movimento, mas que tem motivo. Então, de repente, muitos não conseguiram entender algumas atitudes, alguns gestos do prefeito porque não receberam o "sim" que tanto gostariam. Mas a verdade é uma só, se fizer uma retrospectiva, o governo vinha passando dificuldades financeiras já na época do Alceu (Barbosa Velho/PDT), não estava fácil fazer gestão. E, para piorar, o processo Magnabosco era inevitável que fosse cair para quem o sucedesse. Por isso, mesmo que houvesse a situação difícil dessa questão de diálogo, como falei, não era o momento.
Admite que houve algum erro?
Não vou entrar nesse mérito. Se houve ou não é o prefeito que responde. Mas uma coisa é real: qualquer prefeito que ali estivesse não conseguiria agradar a todos. Nosso prefeito pegou uma UPA (Zona Norte) fechada há três anos, reduziu cargos de confiança e abriu (a UPA). A outra (Central) gerou toda aquela situação, o Postão como estava não tinha condições. E era necessário, infelizmente, haver fechamento para essa reforma. Foi um corte na carne, mas foi positivo.
O cenário eleitoral vai ser afetado pelo impeachment?
Eu penso que os eleitores de Caxias do Sul vão dar uma grande resposta nas urnas. Na última eleição, mais de 50 mil (cerca de 56 mil entre abstenções, nulos e brancos) se negaram a votar. Acredito que a tendência é um cenário ainda maior, as pessoas realmente devem fazer uma avaliação muito ferrenha, muito crítica no trabalho de quem está colocando seu nome para prefeito e, principalmente, para vereador. Algo que não se via tanto nas últimas eleições, o trabalho do vereador, de formiguinha, agora cada parlamentar vai ter de fazer esforço tremendo para mostrar caráter e posição.
Por que acha que deve haver redução de votos? O impeachment desacreditou o processo democrático?
É, penso eu que para muitas pessoas a interpretação vai ser "poxa vida, eu votei, independente se foi acertado ou não, se não foi a contento, eu que devo dizer não ou sim", e não foi o que aconteceu. A roda não girou como deveria girar.
Outra crítica predominante da população foi a dedicação do Legislativo nos processos de impeachment. Acha que prejudicou o trabalho dos vereadores?
Nós fizemos o nosso trabalho, independente do que aconteceu, é o nosso papel.
O senhor acha que houve interesses políticos ocultos?
Sei que você faz seu trabalho, mas eu seria muito leviano em dizer isso sem comprovar. O que posso dizer é que cada um tem sua consciência e interpretação. Então, a interpretação que realmente se tem é que foi um julgamento político e aconteceu o que aconteceu. Agora só temos de esperar que Caxias não fique enterrada nisso, porque, infelizmente, quem vai sofrer são as pessoas. Estando ajustada, a coisa já é emperrada e burocrática, imagina neste cenário.
Muitas pessoas que compõem o governo interino são de grupos opositores a Daniel Guerra, de pessoas que estavam nos governos interiores...
Não posso fazer julgamentos ou críticas. Porém, isso pode ser interpretado de diversas maneiras, de que houve um conluio entre os partidos ou de que pessoas que tiveram oportunidades anteriores de assumir secretarias e por ter conhecimento e rito do Executivo seriam, neste momento, as melhores para fazer esse trabalho de transição.
Como a cassação abala o partido (Republicanos) para as próximas eleições?
Não posso falar pelo meu partido, mas tenho certeza que tudo isso que aconteceu, essa infelicidade, serviu de grande experiência. O Republicanos vai crescer, não tenha dúvidas.