O Pioneiro lembra dos principais momentos da década conturbada da política nacional. Não há ordem ou ranking para os fatos. Confira:
IMPEACHMENT DE DILMA
Embora contasse com ampla base aliada no Congresso no início do mandato – herdado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) –, Dilma Rousseff passou a sofrer desgaste com o avanço da Operação Lava-Jato, que somou-se ao escândalo do Mensalão, ambos desencadeados durante os governos petistas. Após perder apoio político dos aliados, em 2 de dezembro de 2015, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (MDB) deu prosseguimento ao pedido de impeachment de Dilma. A denúncia era de autoria dos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal. O caso se encerrou em 31 de agosto de 2016, com a cassação do mandato da presidente, sob a alegação de crime de responsabilidade pela prática das chamadas “pedaladas fiscais” e pela edição de decretos de abertura de crédito sem a autorização do Congresso. Durante o julgamento, Dilma negou os crimes e classificou o procedimento como golpe, acusando como ato conspiratório do então vice-presidente, Michel Temer (MDB), e Eduardo Cunha.
ELEIÇÃO DE BOLSONARO
Seguido ao mandato tampão do ex-presidente Michel Temer e a quebra da governança petista por 13 anos, Jair Bolsonaro (sem partido) foi eleito com mais de 57 milhões de votos (55,13% dos válidos) em 2018. Após longa trajetória de 28 anos na Câmara dos Deputados, sem grandes destaques, Bolsonaro se projetou com discurso conservador e polêmico ao longo desta década. Foi no ano anterior às eleições que ele passou de azarão a um dos favoritos na disputa eleitoral, marcada por polêmicas, polarização, ausências em debates e até atentado sofrido por Bolsonaro pouco mais de um mês antes da eleição, quando levou uma facada no abdômen.
REDES SOCIAIS E FAKE NEWS
Principal instrumento utilizado como plataforma da disputa eleitoral e ideológica, as redes sociais exerceram crescente e primordial papel na política brasileira nos últimos anos. Considerada plataforma de mobilização de protestos, especialmente desde 2013, foi a internet a principal ferramenta utilizada por candidatos, especialmente Jair Bolsonaro, que muitas vezes optou por ser pronunciar nas redes sociais ao invés de participar dos debates. Foi também a internet o campo da problemática colateral surgida com as chamadas fake news. Informações falsas reproduzidas e disseminadas foram alvo de acusação de candidatos que reivindicaram o método como estratégia desleal na disputa eleitoral.
PRISÃO DE LULA
Embora tenha deixado a presidência em 2011, Lula foi um dos protagonistas da década. Quando terminou o segundo mandato, Lula obteve aprovação recorde da população, superior a 80% de avaliação positiva. Com o passar dos anos, entretanto, Lula passou à figura controversa. Em julho de 2017, o então juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, condenou Lula pelo recebimento de vantagem indevida da construtora OAS e pela ocultação da titularidade do imóvel, um triplex. Foi a primeira vez que um ex-presidente brasileiro foi preso. A condenação foi de oito anos, 10 meses e 20 dias. No dia 8 de novembro deste ano, Lula foi solto, após 580 dias detido na capital paranaense. Durante esse período, o ex-presidente tornou-se símbolo de resistência por parte de movimentos de esquerda e, por outro lado, de revolta de parte da população, incluindo contingente significativo do eleitorado que elegeu Jair Bolsonaro.
EDUARDO CUNHA
Se o impeachment foi divisor de águas nos desdobramentos políticos mais impactantes da década, pode-se dizer que Eduardo Cunha (MDB) foi, então, o principal articulador dos anos 2010. Ele era presidente da Câmara dos Deputados quando o pedido de cassação de Dilma foi aceito. Ao votar pelo afastamento da ex-presidente, Cunha bradou “Deus tenha misericórdia dessa Nação”, que se tornaria emblemática na tumultuada sessão de julgamento. Em 2016, foi preso por ordem de Sergio Moro, e condenado a 15 anos e quatro meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão fraudulenta de divisas. Ele responde a outros diversos processos criminais.
POLARIZAÇÃO
A destituição do PT do governo federal foi simultânea à volta e ascensão da direita, consumada com a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018. A própria disputa eleitoral acentuou, mais do que nunca, a polarização ideológica. Brigas de família e rompimento de amizades simbolizaram os danos políticos nas relações pessoais. No campo ideológico representativo, o cenário também se intensificou: ao passo que políticos de partidos defensores de direitos humanos, movimentos negro, LGBT e sociais se elegeram em maior número, cresceram bandeiras de defesa à intervenção militar, revisionistas à ditadura e de extrema direita, como o ressurgimento do movimento integralista.
MORTE DE MARIELLE FRANCO
Em 14 de março de 2018, a vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista, Anderson Gomes, foram assassinados a tiros no centro do Rio de Janeiro. Cerca de um ano após o crime, foram presos o policial militar aposentado Ronnie Lessa, acusado de atirar no carro em que estava a vereadora, e o ex-policial militar Élcio Queiroz, citado como o homem que conduzia o veículo utilizado no atentado. Ambos negaram participação no crime. Embora os motivos não tenham sido totalmente esclarecidos, atribui-se o assassinato à atuação política de Marielle, conhecida por defender causas sociais. Em outubro, a investigação chegou até a família Bolsonaro. O autor do crime mora no mesmo condomínio do presidente da República e de seu filho Carlos Bolsonaro, na Barra da Tijuca.
LAVA-JATO
Iniciada em 2014, a Operação Lava-Jato é denominada pelo Ministério Público Federal (MPF) como a maior iniciativa de combate à corrupção e lavagem de dinheiro da história do Brasil. As investigações começaram apurando desvios em contratos com a Petrobras, em acordos com empreiteiras, operadores financeiros e agentes políticos. Entre figuras da política presas a partir da operação, Lula, o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
VAZA-JATO
Em junho de 2019, o site Intercept iniciou uma série de publicações nas quais expunha conversas privadas entre procuradores da Lava-Jato com o então juiz do Ministério Público Federal Sergio Moro. As reportagens divulgaram articulações entre as partes que, teoricamente, deveriam exercer seus papéis de forma independente. Os arquivos foram obtidos por meio de uma fonte do veículo, o que acabou originando uma ampla discussão acerca do método (por meio de hackeamento) aplicado para interceptar as mensagens. Em termos jurídicos e institucionais, as matérias, até o momento, não tiveram implicações aos personagens, no entanto, o material comprovou a organização seletiva de processos que originaram, entre os fatos mais polêmicos, a prisão de Lula.
SERGIO MORO
Talvez o personagem de maior controvérsia da década, Sergio Moro surgiu durante a Operação Lava-Jato e logo ganhou notoriedade por obter condenações de personalidades de renome no cenário político brasileiro. Gradativamente, o então juiz dedicou sua atuação para condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também viria a se tornar o seu mais notório crítico. Concomitante ao ganho de popularidade, Moro passou a ser criticado por juristas e movimentos que o acusavam de parcialidade e alegavam que sua postura visava uma projeção política, o que sempre foi negado pelo então juiz. No entanto, ao receber convite para integrar o Governo Bolsonaro, Moro aceitou assumir o cargo de ministro da Justiça. A vinculação política reforçou a polarização do “ame ou odeie” à sua figura.