No início deste ano, divergências entre Vinicius Ribeiro e o PDT forçaram o encerramento de um vínculo de 18 anos entre o ex-deputado estadual e ex-vereador com o partido, no qual exercia a função de presidente municipal em Caxias do Sul. A falta de filiação política, entretanto, não colocou em xeque o sonho de Vinicius: ser candidato a prefeito de Caxias. Na última semana, DEM e PSD o confirmaram como pré-candidato da majoritária, embora ainda não tenham revelado em qual partido ele efetivará a filiação.
Ao Pioneiro, Vinicius falou sobre o retorno à política e as perspectivas eleitorais para o próximo pleito. Confira:
O que pode nos dizer sobre seu futuro na política?
Alguns estavam dizendo que 2019 é um ano sabático para mim, mas virei microempresário, voltei minhas atenções como arquiteto, urbanista, passei a entender o cenário real do profissional liberal, do pequeno empresário. Caxias tem mais de 60 mil CNPJs e eu passei a valorizá-los mais do que nunca. Foi um ano em que ouvi muito, me aproximei muito das pessoas. Se quero representá-las, preciso ouvi-las e entendê-las.
Sua oportunidade de concorrer a prefeito surge numa época em que os cargos máximos executivos mais estão sob fogo cruzado. Por que “querer ser” prefeito?
Nunca escondi meu sonho. E meu sonho partiu das necessidades que a cidade têm. Uma cidade precisa de escala humana, requalificação dos espaços públicos, absorção da inovação, da tecnologia. Transparência e desburocratização são formas de dar agilidade à prestação de serviços. Temos um mundo ainda a desenvolver, a crescer. Temos largos, praças e parques, diversos potenciais urbanos que não se conectam. Falta essa leitura de espaço. Caxias tem inúmeros potenciais que não têm valor, ou têm valores individuais, mas que, cso se juntarem, podem resultar num maior valor conjunto. Eu amo Caxias e fico indignado quando falam mal da nossa cidade. É necessário devolver a Caxias à posição de liderança.
Então acha que Caxias carece da posição de liderança?
Sim, está sem posição de liderança, por diversos fatores: o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2015 a 2017 permanece em seis pontos na educação, não estamos entre as cidades mais inteligentes e sustentáveis do país, estamos com mais de 20 mil desempregados no município, temos quase cinco mil pessoas esperando na fila de alta e média complexidade na saúde, temos evasão de inteligência muito grande para centros como Florianópolis, São Paulo, para fora do país. E temos essa capacidade de absorção, Caxias tem capacidade de absorver isso.
Qual visão do prefeito Daniel Guerra?
É o prefeito da cidade, foi eleito legitimamente. Quem conviveu com ele sabe que o perfil dele é esse. Eu tenho a convicção de que a comunidade vai saber julgá-lo em proporção das ações ou das omissões que a administração dele teve.
O que determinou a sua escolha partidária (ainda não revelada) foi a oportunidade de concorrer à prefeitura?
Jamais deixei de falar os meus sonhos e da perspectiva que tenho da cidade. O plano (de governo) não fala, ele conversa com a população e o que eu vou propor é a síntese da minha formação como arquiteto e urbanista, o que aprendi na vida pública, na acadêmica, o que eu aprendo com as pessoas, entidades e instituições. Temos de incorporar o pensamento do Mobi Caxias (movimento Mobilização por Caxias do Sul), das associações, comunidades organizadas, daquelas pessoas que amam a cidade. É isso que vamos oferecer, se o partido e a comunidade vão absorver isso, só o período eleitoral vai dizer.
Foste de um partido de centro-esquerda (PDT) para um de direita (DEM) ou centro-direita (PSD). Com qual visão compatibiliza mais?
Enquanto a gente fica brigando ideologicamente, a população fica desempregada, morre de fome, fica desatendida na área da saúde e quem ganha com isso são algumas siglas partidárias ou troféus ideológicos. Quem deixa de subir no pódio é a população e a prestação de serviço. Não é para a direita ou para a esquerda, nós temos de andar para a frente. E eu continuo um democrata, uma pessoa que tem sede de ouvir a população e coragem de trabalhar junto com ela.
De qualquer forma, indiferente das eventuais composições, não abrirá mão de concorrer à prefeitura?
Não é uma condição. A minha vontade não é a candidatura, o meu sonho não pode estar acima do desejo da comunidade. A conversa que eu tive com os partidos foi nesse sentido, se buscam esse tipo de perfil e entendem que nosso projeto coletivo, associado a um sonho individual, pode estar em convergência, obviamente que serei candidato ou pré-candidato desse partido.
Sobre a saída do PDT, guarda alguma mágoa?
Acho que são etapas na vida que temos e elas precisam ser respeitadas. Tenho grandes amigos no partido, mas entendi que esse ciclo se fechou. Novas etapas virão, mas o livro é o mesmo. Não tenho nenhuma mágoa.
O que acha do perfil de Jair Bolsonaro?
É um homem que tenta quebrar paradigmas, tenta imprimir uma nova política, um novo relacionamento institucional com a comunidade. Tem aspectos positivos e negativos. Mas, entre a nova e velha política, eu prefiro a verdadeira política. Eu não acredito na nova política e não confio na velha. Acho que o país precisa criar uma verdadeira política. E a verdadeira política é entender a comunidade, agir de forma ética, sincera, transparente.
E Bolsonaro é a verdadeira política?
Não, o Bolsonaro não é a verdadeira política. Mas é muito cedo para avaliar.
Temos um cenário muito conturbado entre Executivo e Legislativo em Caxias do Sul. Acha que essa relação deveria ser mais tolerante ou harmoniosa?
A força do diálogo é a maior arma para unir e convergir em propósitos comuns. Eu noto a Câmara de Vereadores aberta a esse diálogo, mas noto poucos líderes dentro do Poder Executivo conscientes de que quem perde com essa falta de diálogo é a população.
Uma crítica comum sobre o governo municipal é acerca dos conflitos com movimentos. Qual sua visão sobre o relacionamento da gestão atual com a comunidade?
O prefeito não pode representar interesses, e sim a média dos interesses da comunidade. E como se constrói isso? Sabendo o que elas querem. A briga que uma administração pública deve fazer é contra o desemprego, ineficiência da prestação dos serviços, com a evasão e fechamento do número de empregos. Essa é a verdadeira briga que o Poder Executivo deve fazer, as demais são secundárias, superficiais e que prejudicam alguns setores e não geram resultados práticos para o desenvolvimento da sociedade.
Impeachment, acha um mecanismo banalizado ou válido no contexto de Caxias?
Na medida em que grande número de pedidos (de impeachment) são protocolados, pode se ter a imagem de banalização, mas é um instrumento democrático e institucional.
Nota ao prefeito Daniel Guerra?
Sou professor, sempre dou nota no final do semestre, não tenho como dar nota se os conteúdos desta disciplina não se encerraram.