Peça central no Governo Daniel Guerra (Republicanos), Júlio César Freitas da Rosa assumiu oficialmente a conturbada Secretaria Municipal da Saúde há cerca de dez meses. Já completa (com o período em que esteve interino) um ano frente à pasta. Júlio também assumiu a presidência do Republicanos, partido do prefeito Daniel Guerra, a quem reafirma defesa e prioridade como nome para concorrer à reeleição.
Ao Pioneiro, Júlio falou sobre os preparativos da legenda para as eleições, sobre polêmicas que envolvem a pasta que comanda e a relação instável com a imprensa. Confira trechos da entrevista:
Pioneiro: Qual andamento da organização do Republicanos para as eleições municipais?
A grande missão que eu tenho é a de formarmos nominata de candidatos a vereador competitiva para as eleições de 2020. É a primeira eleição que não vai ter eleição na proporcional. A questão de eleger um candidato forte e não se preocupar com o resto não é mais realidade. Por isso, tem de criar uma nominata boa para ter a possibilidade de aumentar as bancadas e não correr o risco de diminuir.
Planos para Daniel Guerra?
A questão é muito simples: quem conhece o prefeito, sabe que ele vai cumprir o mandato. A gente sabe de alguns pré-candidatos que não vão terminar o mandato e já estão se aventurando em outras eleições. Ainda há mais um ano de administração. O prefeito deixou bem claro que vai definir se vai para a reeleição ou não lá no prazo que a Justiça Eleitoral determina que os partidos façam suas convenções. Até lá, o partido vai aguardar a decisão dele. Hoje, para o Republicanos, o candidato natural é o Daniel Guerra, mas a prerrogativa é dele. O prefeito é muito focado nas coisas que ele quer fazer. E ele quer muito entregar aquilo que se comprometeu à população.
Caso a resposta seja "não", há outros candidatos?
Não há plano A, B ou C. Estamos aguardando aquele que tem direito de dizer para o partido no momento se vai para a eleição ou não. Não há interesse nenhum do Republicanos em antecipar o debate eleitoral. Para quem é interessante antecipar o debate eleitoral em um ano? Dos partidos ou da população? A população não está preocupada com debate eleitoral, a população está preocupada com vaga da escola, médico na UBS, transporte coletivo, segurança.
Por uma questão de formar alianças ou organização, é preciso articulação antecipada...
Talvez a maioria dos partidos não tenha percebido que o prefeito Daniel Guerra ou o presidente Jair Bolsonaro (PSL) concorreram com coligações quase inexpressivas, com pouco tempo de rádio e televisão, pouco recurso de fundo partidário e ganharam eleições. Por quê? Porque a população não está preocupada com coligações, não está preocupada com partidos. Os partidos erraram e continuam errando quando a preocupação é fazer coligações de ocasião para chegar ao objetivo de ganhar a eleição. Os partidos precisam entender que a coligação que tem de ser feita é com a população, e é isso que nós Republicanos queremos fazer, repetir a coligação com a população como o prefeito Daniel Guerra conseguiu em 2016. Nós não queremos retroceder naquilo que avançamos em Caxias do Sul.
Como presidente de partido, avalia que há algum partido compatível?
Se pegarmos coligações feitas em eleições passadas, não existe ideologia, existe interesse dos partidos de ocupar espaço de poder, de dividir secretarias, cargos dentro do poder. Essa é a lógica tradicional. Nossa proposta é bem clara: é um projeto de cidade. Não precisamos buscar coligações para aumentar espaço de rádio e tv. Nós precisamos que esteja bem claro para a população: o projeto do prefeito Daniel Guerra merece mais quatro anos? Essa aliança com a população merece ser renovada? Quem estiver alinhado com isso que venha junto, quem não tiver, siga seu caminho.
O julgamento do governo vai ser nas eleições. Mas qual sua percepção nas ruas? A população está aprovando a gestão de Daniel Guerra?
Vejo muitas manifestações das pessoas comuns na rua, no terceiro ano de mandato pedindo para tirar foto, fazer selfie, dizendo "prefeito, não desiste, estamos contigo". Vemos também algumas manifestações de desagrado. Eu costumo sempre dizer, (para as pessoas) "prefeito Daniel Guerra é muito bom desde não mexa com meus interesses pessoais". O nosso projeto de cidade mexeu com muitos interesses pessoais, pessoas que se aproveitavam da prefeitura para ter uma fonte de renda. Começamos a verificar o que era correto, justo, legal e onde estava se atendendo o interesse público. Começamos a estancar as sangrias que existiam. Vejo com a demonstração de carinho das pessoas na rua que a administração Daniel Guerra tem uma avaliação muito positiva. Mas concordo, o julgamento vai se dar nas urnas.
O senhor é quem está a mais tempo à frente da Secretaria da Saúde no Governo Guerra. Qual foi o diferencial? Por que os outros não permaneceram?
Tenho o maior respeito e admiração com todos os secretários que estiveram à frente da Secretaria desde o início da gestão. Mas, o que verifiquei é que há dificuldade muito grande de um médico conseguir fazer gestão dentro da secretaria. Enquanto ele está adotando atos de gestão, tem uma classe profissional da qual ele faz parte que lhe persegue por atos de gestão e não como médico. Talvez eu, por não ser médico, estar na secretaria facilitou na tomada de decisão, por saber que não sofreria represália de uma classe profissional. Outra situação é que eu sabia muito claramente o que o Daniel Guerra queria implementar na saúde. Cheguei sabendo o que o prefeito queria.
Mas o fato de o senhor exercer essa função política não vai contra o discurso de secretários serem técnicos?
Não concordo. Não estou fazendo trabalho político, estou fazendo gestão dentro da saúde.
Não havia um trato de que se a UPA não fosse aberta até o inverno o senhor entregaria o cargo?
Não, o que tínhamos era uma meta de abrir a UPA até início do inverno. Se for fazer reforma na sua casa, por "n" motivos ela pode acabar atrasando. Posso dizer que o que estava instalado de estrutura física ali dentro era uma legítima bomba-relógio. Quando a empresa entrou lá dentro, começou a ver que tinha que tirar tanque de diesel dentro do prédio, a parte hidráulica estava deterioridada, não havia PPCI... Quando começou a se mexer naquela estrutura, posso dizer que foi muito rápido até o tempo que está levando a reforma. Por quanto tempo ficou sem se mexer naquele espaço? Tivemos uma UPA na Zona Norte fechada por três anos, um prédio novo. Nós levamos um ano para mexer num prédio que ninguém nunca mexeu. Então, um ano é pouco.
Enquanto isso, acha que a UPA Zona Norte cumpre seu papel como reposição de serviço de saúde?
Em 25 anos, o prefeito Daniel Guerra foi o único que abriu um novo serviço de urgência e emergência em Caxias do Sul. Abrindo a UPA, possibilitou que fechássemos o Postão e pudéssemos fazer as reformas que estamos fazendo. Há alguns erros de procedimento, de fluxo ou profissionais, mas isso acontece na rede privada também. Leio muitos comentários de usuários, uns são políticos, uns são maldosos, eleitoreiros, tem comentários que realmente houve erro e cabe a nós corrigir. Agora, independente se a matéria (jornalística) é tendenciosa ou não, vejo muitos elogios e vejo muita gente dizer que tem plano privado e fica horas esperando atendimento. É só ver quantas matérias foram feitas na época do Postão, de falta de atendimento, de problemas estruturais. Desafios sempre vão acontecer no serviço público, agora, dizer que UPA Norte está prestando desserviço ou é igual ou pior do que se tinha no Postão, isso não podemos admitir.
O senhor citou indiretamente o jornalismo. Por que a gestão se fecha para a imprensa? Por que há dificuldade de comunicação?
Não vejo que há dificuldade de comunicação. O que verificamos às vezes é que o que colocamos como nosso contraponto não sai da forma que nós falamos. Nós entendemos que quando se tem informação correta e argumentos sólidos, dar entrevista é oportunidade de esclarecer à população. Agora quando a gente tem determinados veículos e profissionais que aquilo que tu diz não sai ou é distorcido, se perde a credibilidade.
Embora o senhor se refira a "determinados veículos", o governo adotou como procedimento padrão para toda a imprensa se manifestar apenas por e-mails ou notas... Toda a imprensa então desagrada?
Não, a imprensa tem de fazer o seu papel, ela presta papel fundamental para a sociedade, de levar a informação e o esclarecimento. mas quando nos manifestamos por nota, não há espaço para dupla interpretação.
Dois itens na denúncia de impeachment acolhida recentemente dizem respeito à pasta do senhor. Qual sua visão sobre isso e sobre o pedido de afastamento do prefeito em si...
Essa é uma análise bem pessoal, não só dos dois itens. Não se tira do cargo um prefeito a um ano de uma eleição se ele realmente está desgastado com a população. Não se faz isso, isso traz insegurança ao meio produtivo da cidade, para investimentos, para a população. Um prefeito desgastado você não perde tempo querendo tirar ele do cargo, a não ser que haja alguma ilegalidade. Se alguém conseguir comprovar, que aponte. O que tem são suposições para criar instabilidades. Agora, se o prefeito está tão queimado, esperem as eleições do ano que vem. Estão com muito com medo que esse projeto de cidade se reeleja para mais quatro anos. Sobre as denúncias da saúde, nós nunca tivemos um impedimento por parte do Ministério Público, Judiciário, Tribunal de Contas, isso só me dá segurança que está sendo feito tudo dentro da legalidade.
Uma das polêmicas são as viagens do perfeito. O senhor acha que isso está trazendo resultado para a cidade?
Nos dois primeiros anos estávamos com dificuldade financeira extrema, o prefeito não saiu de Caxias. A crítica era de que não saía de Caxias, que não viajava. A partir do momento que saiu de Caxias, começaram a criticar que ele viaja. Agora, o retorno, o próprio Pioneiro já fez levantamento das viagens dos antigos prefeitos comparadas com as de Daniel Guerra. Tiveram muito mais viagens e não me consta que trouxeram resultado. Num primeiro momento temos de estar aqui cuidando das contas, num segundo momento que percebemos que estávamos com dificuldade financeira, mas conseguimos colocar a casa minimamente em ordem vamos discutir temas cruciais para o próximo ou os próximos prefeitos de Caxias do Sul...
E por que não há tanta transparência ou aviso prévio sobre as viagens?
As despesas são colocadas no Portal da Transparência e sempre é dito qual é a pauta. Agora, essa suposta falta de transparência, eu ouvi um vereador que faz parte da Mesa Diretora dizer que sabe das viagens dos vereadores só depois que acontecem. Então, a falta de transparência serve para o prefeito, do outro lado não serve.
E a constante participação do Chico Guerra é justificável?
Dou entrevista como presidente de partido, essas questões da administração não me cabem, é uma questão que compete ao prefeito, mas posso dizer que o chefe de Gabinete é a pessoa mais próxima do prefeito. Mais do que normal que aquele que acompanha o prefeito dentro de todos os assuntos da administração lhe acompanhe nas viagens. Não vejo problema ou ilegalidade nenhuma nisso.
Como avalia a atuação da oposição na Câmara?
Normal oposição fazer seu papel de oposição. O importante é que toda oposição seja responsável. Não pode ter oposição que queira prejudicar ou queira que administração não ande simplesmente pensando no próximo pleito eleitoral.
O projeto de cidade está dando certo?
Eu acredito que sim. Se pegarmos déficit na educação infantil quando assumirmos e agora; se falarmos que se abriu UPA fechada há três anos; reforma no Postão; coletes novos para guardas municipais; renovação de toda a frota de veículos dos guardas, revólveres e equipamentos; renovação de frota de ambulância. Quando acabamos com determinados privilégios e conseguimos privilegiar educação, saúde e segurança, acho que está dando certo. Quando consegue fazer que o reajuste da tarifa do transporte público tenha processo regular, legal e transparente via Secretaria de Trânsito e não acertada dentro do gabinete do prefeito, acredito que o projeto esteja dando certo e assim outras inúmeras coisas que poderia citar. Então, acredito sim, piamente, que esse projeto de cidade está dando certo.
Nota ao Governo Guerra?
Não cabe a mim autoavaliar o governo. Essa avaliação quem tem de fazer é a população. Só tenho indícios que nós estamos bem. Um dos indícios é quando querem tirar um prefeito legitimamente eleito com a maior votação da história de Caxias do Sul do seu último ano porque sentem medo.