O presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, Ivanir Gasparin, tem chamado a atenção pelo teor crítico de pronunciamentos ao se referir à prefeitura de Caxias do Sul. Ao Pioneiro, ele falou dos motivos que tornaram a relação conturbada com o poder público municipal. Confira:
Pioneiro: O que torna a relação entre prefeitura e CIC tão complicada
Ivanir Gasparin: Independentemente de prefeito, essa relação sempre foi harmoniosa, de colaboração. A entidade sempre tenta articular, fazer o meio de campo entre empresários e órgãos públicos. O que acontece nessa gestão é que a prefeitura não ouve entidades, não só a CIC. Não existe colaboração em benefício à cidade. Me dou bem com prefeito, com secretários, mas o clamor social não é ouvido.
Quando você diz "não só a CIC", ao que se refere?
Quando chegam autoridades, uma personalidade, um evento, não dá para dizer "ah, não estava na agenda". Vamos dar jeito de atender essa pessoa. Tem de ser visto como oportunidade. Estive em Brasília e no mesmo dia, com dois telefonemas, fui recebido por um ministro e um embaixador. Os dois acharam uma agenda e disseram "você veio de tão longe, é claro que vamos receber". Está quase mais fácil conseguir contato com o governo federal do que com o municipal.
Como tem sido a relação do poder público com os empresários, nos aspectos burocráticos?
A reclamação é geral. Concordo que deve seguir a lei, mas cabe aos secretários o papel político. Quando não autoriza distribuição de panfleto na Praça Dante Alighieri para prevenção ao suicídio, é de um legalismo extremo. Tudo bem que existe portaria regrando para que seja solicitado 30 dias antes, mas cabe aos secretários assumirem a relevância e abrir exceções Falta bom senso, quando o bom senso deveria imperar.
De que forma essa postura que o senhor crítica da prefeitura pode impactar na cidade?
Talvez a população não enxergue, mas quando deixamos de fazer evento LGBT na praça (Dante Alighieri), é desperdiçar turismo. Quando não permite a distribuição de panfleto está destruindo um trabalho voluntário e bem-intencionado. Nós temos de entender que uma geração planta macieira, a outra colhe e tem de plantar de novo, senão a próxima não vai colher. Muitos projetos executados hoje foram da administração passada. Qual projeto está sendo deixado hoje para as próximas administrações? Não conseguimos mensurar economicamente agora, mas os riscos são grandes. Acredito muito na analogia "pai rico, filho nobre, neto pobre". Nas prefeituras também pode acontecer isso. E a próxima administração corre risco de ser o neto pobre.
A gestão de Daniel Guerra tornou o município mais burocrático?
Acho que empoderou muito a lei. Se quiser usar 100% a lei, você não faz nada.
Empresas deixaram de vir para cá?
Meu maior medo nem é esse, é o de empresas não estarem conseguindo ampliar seus negócios aqui. Por dificuldades e falta de carinho. Tem um empresário de uma empresa que está se instalando num município vizinho que me disse "presidente, fui nessa cidade (vizinha) e o prefeito me serviu um cafezinho". Veja o que significa, às vezes, só servir um cafezinho. É esse o carinho que falta em Caxias.
O secretário Emílio Andreazza se mostra bastante ativo nos eventos, especialmente promovidos pela CIC...
Mas também esbarra no legalismo.
Então, o senhor acha que o governo tem se preocupado muito com "minúcias"?
Numa empresa, temos os setores estratégico, tático e operacional. Tem pessoas em Caxias que deveriam estar só no estratégico e estão no operacional. A administração está esquecendo do estratégico e está pensando só no operacional. O que é o estratégico, é fazer as pontes.
Apesar dessa contrariedade, a CIC manifestou apoio a Daniel Guerra inicialmente...
A CIC sempre apoiou e sempre vai apoiar a prefeitura. A CIC não é contra o prefeito e nem contra a prefeitura. A CIC não tem bandeira partidária.
Alguns cobram candidato que represente os empresários. É necessário?
Precisamos candidato que defenda a livre iniciativa, independe de sua classe. Sou contra a pessoa que se elege defendendo só uma causa. A partir do momento que ganha eleição, é de todos, não de uma causa. Nos últimos anos, focamos muito num pequeno eleitorado e isso não é bom.
Um dos assuntos que o senhor se posicionou de forma mais crítica foi a mudança de Caxias para a Região das Hortênsias...
Ainda não entendi a mudança. Nosso sobrenome é Festa da Uva e, economicamente, mais da metade das cidades da Região Uva e Vinho se abastecem de Caxias, 18 cidades fazem compras em Caxias, têm seus filhos estudando em Caxias. Na Região das Hortênsias, o canal é a capital. Estamos desprezando essas cidades que dependem da cidade-mãe que é Caxias do Sul. Estamos falando de mais de um milhão de habitantes dessas cidades. Tiramos o suporte mesmo das menores. Caxias é a mãe virando as costas para filhos pequenos. Caxias não se fecha só aos empresários, se fecha aos municípios vizinhos.
Acha que tem empresário preparado ou apto a ser candidato a prefeito?
Não saberia dizer. Mas acho que empresário não é bom de voto. É uma sina. Talvez seja culpa de empresários. Nós deixamos os maus assumirem os lugares dos bons. Acredito muito na boa política. Varremos quase do Brasil os políticos mais velhos, que têm a sabedoria. Nem todos roubaram, mas o que se fez foi terra arrasada, currículos foram jogados no lixo em nome da nova política, mas isso não ajuda, existe o casamento da nova com a velha política.
A nova política não está dando certo então?
Por enquanto não. Relacionamento não é do dia para a noite. Devemos ir devagar. É preciso mesclar as gerações. O mais importante agora é o resgate do verdadeiro político.
Aceitaria ser candidato?
Não, sequer sou filiado a partido. Sou presidente da CIC.
E depois de ser presidente?
Não, não tenho planos.
O que está achando do Governo Bolsonaro?
Acredito muito nele. Gostaria que estivéssemos crescendo 10% ano, mas o desemprego caindo já é algo. Coloco todas as fichas neste governo, principalmente pela equipe econômica.
Nota para o Governo Bolsonaro?
Nove.
E para o Governo Guerra?
Sete. Está fazendo sua parte, é o jeito dele. As forças vivas do município estão para ajudar. Não precisa estar sempre brigando.