Ari Dallegrave (MDB) se preparava para ser eleitor na convenção do partido quando foi surpreendido pela própria legenda que o elegeu, pela quinta vez, presidente do diretório municipal. Ao Pioneiro, ele falou sobre as perspectivas do MDB para as próximas eleições.
Confira a entrevista:
Pioneiro: Na quinta vez que chega na presidência, muita coisa mudou desde a primeira?
Ari Dallegrave: Muito. Quem passou pelas eleições de 1996 tem outra visão.Aquilo era desumano, campanha de rua, uma disputa muito forte. Hoje temos outra situação. Antes, tínhamos ação e reação imediata. Às vezes deixava de ser uma resposta agressiva porque tinha reação presencial. Hoje,as pessoas falam o que querem nas redes sociais e você acaba não tendo muita condição de responder.
O que você tem de diferencial para o partido lhe acionar tanto na representação do diretório?
Trabalho com cautela. Nós queremos fazer nosso programa de governo, antes de nomes e de nos apresentar, temos de saber o que apresentar para a sociedade. O nosso eixo principal é o resgate da essência do que foi a administração Sartori (José Ivo/ MDB). Foi com ele, mas poderia ser com outro, pois tínhamos um bom programa que foi executado e bem-sucedido.
Então a gestão de Sartori foi a execução de um plano de governo?
Com certeza, claro que teve capacidade dele de escolher nomes e as pessoas que levaram o plano adiante com capacidade.
Voltar com valores da gestão de Sartori com ele como candidato?
Pode ser, como pode ser com outra pessoa. Vamos retomar a essência da forma de governar. Com quem,isso vai ser uma discussão adiante.
Que outros nomes fortes o partido conta atualmente?
Não vamos furar fila e não vamos inventar. Temos hierarquia, o próprio Sartori, que não se descarta. Temos o deputado estadual Carlos Búrigo (MDB), temos vereadores que detêm mandato. O caminho é esse.
Búrigo é um nome conhecido a ponto de deter popularidade na cidade?
Se for fazer pesquisa hoje, não representa a realidade, pois ninguém apresentou candidato. Vamos começar a trabalhar quando o partido decidir oficialmente o nome e com certeza terá desempenho bom. Búrigo é um nome de respeito, com experiência, trabalhou com Sartori no município, no Estado, é a renovação com experiência.
MDB não abrirá mão da cabeça de chapa?
Esse ano vai ser um cenário diferente. Não haverá coligação na proporcional (para vereador). Isso muda completamente o quadro, pois há partidos que vão ter de ter seu candidato a prefeito para ter sua bancada na Câmara. Por isso, a tendência é que tenhamos bem mais do que na última eleição.Seguindo essa lógica, o MDB vai encabeçar a chapa majoritária.
Os partidos tradicionais enfraqueceram na última eleição?
É renovação, nova forma de se trabalhar. Alguns partidos não cresceram, incharam. Não têm consistência na sociedade. Se falar de MDB em Caxias, muitas pessoas vão manifestar simpatia pelo partido. Muitos partidos fizeram voto, mas na próxima eleição podem até desaparecer porque não se fixaram na sociedade.
E o que acha dessa “nova forma”de gestão?
É um pouco da esperança do povo, que viu possibilidade de algo novo, diferente, mas, às vezes se frustra com isso. Muitos usam rótulo da nova política, mas é o que há de mais velho e pior da velha política. Prática que vai mostrar se é a velha política ou a nova piorada.
Acha que já está frustrando?
Digo em nível municipal e federal... A nível federal, a coisa caminhou de um jeito que restou a escolha “ou é polícia ou é ladrão”, ficamos sem alternativa, acho que a sociedade escolheu aquilo que entendia o que era melhor. Mas ainda é cedo, há possibilidade sim de fazer grandes transformações em benefício da sociedade.
E o governo municipal?
É muito conflito desnecessário, que não contribuem em nada para a nossa sociedade.
Por que a chapa com o MDB perdeu a última eleição?
Esse cenário de mudanças contribuiu, mas não foi só isso determinante. Foram erros da própria campanha. A eleição podia ter sido vencida mesmo no ambiente de mudanças.Agora vamos ter uma ação mais direta nas coisas, não deixar acontecer para tentar resolver,tem de ter atitude, pode até errar, mas pela ação e não por omissão.
O senhor saiu da presidência do partido em 2016 quando defendia cabeça de chapa. As divergências foram superadas?
Naquele momento não fui compreendido por algumas pessoas, mas foi superado. As pessoas que divergiram naquele momento foram as que pediram para eu reassumir neste momento.
Caso Alceu (Barbosa Velho/PDT) retorne como candidato, o MDB aceitaria repetir coligação?
É uma situação difícil de ser reeditada. Alceu tem o partido dele, que tem feito suas análises. Acho que teve seu tempo, fez trabalho que tinha que fazer, mas vejo certa dificuldade de ele retornar ao cenário.
MDB e PDT estão, de fato, individualizados para a próxima eleição?
Não houve nenhum rompimento, mas o caminho está se abrindo para os dois partidos concorrerem, tanto por não haver coligação na proporcional, os partidos quererem fazer seus caminhos e fixarem suas imagens aos seus planos de governo, isso tudo faz com que naturalmente os caminhos se dividam.
Qual vai ser a diretriz do plano de governo?
Hoje não vemos nenhum segmento da sociedade com linha direta de diálogo com administradores. Queremos abrir a porta da administração para a sociedade, não só para ouvir elogio, mas críticas e tirar o melhor disso. O que temos a apresentar não é proposta nem promessa, é resgatar essência.
Além de Sartori, temos envolvimento ativo de ex-prefeitos Alceu Barbosa Velho (PDT) e Pepe Vargas (PT) no próximo pleito. Esse resgate ocorre pela necessidade dos partidos ou do contexto da disputa?
Quando se usa nomes que já foram eleitos, estamos falando e apresentando aquilo que foi administração responsável. A sociedade quer renovar? Com certeza, mas sem retroceder. Não podemos acabar com tudo para começar de novo, temos de aproveitar o que já foi feito de interessante e inovar, avançar com responsabilidade. Nota para a gestão de Daniel Guerra. Quem vai dar essa nota vai ser o eleitor, ano que vem.