Em 2020, Denise Pessôa completará 12 anos de vida política. Em três mandatos como vereadora, nunca atuou na condição de base governista. Na posição de ser o contraponto, afirma que vivencia atualmente a mais inacessível gestão pública que acompanhou. Embora se diga preocupada com o contexto político, tanto em nível local quanto nacional, ela assegura estar motivada para continuar defendendo o debate acerca das causas sociais, principal linha de trabalho que desempenha no Legislativo. Ao Pioneiro, Denise avaliou o cenário político e opinou sobre a articulação dos partidos de esquerda para a eleição municipal. Confira:
Pioneiro: De 2008 a 2019 (tempo em que está como vereadora), o que mudou no cenário político?
Denise Pessôa: Passamos por uma fissura quando houve o golpe na presidente Dilma Rousseff (PT), desde então vários direitos trabalhistas estão sendo retirados e se inverteram muito os valores no Brasil. No final, tudo isso acaba atingindo as cidades. Sempre fui vereadora de oposição, nos três mandatos: Sartori (José Ivo/MDB), Alceu (Barbosa Velho/PDT) e Guerra (Daniel/PRB). O que chama a atenção é a falta de diálogo completa do Governo Guerra. Tem vereadores que são questionados "ah, vocês perderam a eleição, por isso reclamam". Eu perdi três eleições, então posso dizer que nos anteriores sempre tivemos com quem trocar opinião, com quem discutir, trocar ideias. Esse (governo) é uma caixa preta, falta transparência.
Você diria então que se tornou "mais fácil" fazer oposição ao Guerra?
Era muito difícil fazer oposição ao Sartori, por exemplo. Por mais que tivéssemos passado por uma greve de médicos por nove meses, ele ainda teve muito apoio na eleição para governador e ainda há pessoas que o defendem. Por mais que tenhamos questionado muitas coisas do seu governo, sempre foi uma pessoa que teve diálogo e respeito às instituições. Essa gestão (de Daniel Guerra) não, com o tempo só se queimou com todos. Tive oportunidade de ser vereadora com o prefeito e tudo que ele cobrava hoje faz pior. A gente até brinca que quando começou, várias pessoas acreditavam, mas com o tempo passaram a se decepcionar. Lembra muito o golpe do bilhete. É o legítimo golpe do bilhete esse governo.
Pretende voltar a concorrer?
A política precisa de representação em diversos setores. Temos uma maioria na sociedade, que são as mulheres, que não são representadas de forma adequada. Na última legislatura eu era a única vereadora, agora somos quatro. Não podemos recuar. Infelizmente, o partido do presidente da República (Jair Bolsonaro/PSL) utilizou muitas candidaturas laranjas de mulheres para privilegiar ou favorecer outras candidaturas. Esse tipo de coisa distorce a participação das mulheres na política. Precisamos ocupar esses espaços de forma qualificada. Nosso mandato tem compromisso muito forte com garantia de direitos sociais e individuais. Representamos a maioria da sociedade, mesmo que seja excluída e seja dita minoria, representamos nas nossas pautas a população LGBT, negros, mulheres, imigrantes. Não temos medo de fazer esse debate. Essa pauta é hoje mais do que necessária numa época em que se normaliza as exclusões sociais.
Lhe desmotiva esse fortalecimento de movimentos conservadores que ocorreu nos últimos anos?
Acredito que sempre que há um pensamento que tende para o conservadorismo, vai haver um opositor com a mesma força e viés mais progressista. Acredito muito nos movimentos que surgem, quanto mais querem nos calar, mais nos organizamos. Temos movimentos de mulheres em Caxias, movimentos de defesa ambiental de iniciativa de estudantes, vemos brotar muitos movimentos e isso me dá esperança.
Bolsonaro lhe causa medo?
Não causa medo, causa preocupação com o futuro do Brasil. Tudo que ele vem fomentando, especialmente nessas falas que incentivam a violência e são violentas por si só. Faz com que o Brasil se isole como País, tem interferido nas relações internas e reprimido a população LGBT e as mulheres. É tudo ruim, pois se olha para presidente e se pensa "se ele pode falar, por que não posso?". Estamos com poucos meses de governo e já estamos numa crise mundial, Amazônia em risco e muitos outros problemas.
O que acha da postura do prefeito Daniel Guerra acerca dos movimentos sociais?
Conheço o prefeito desde meu primeiro mandato. Não me surpreende a postura dele. É um alinhamento das estrelas, Guerra e Bolsonaro são alinhados em pensamento, que não respeita orientação sexual, não respeita diferenças entre homens e mulheres e não tem sensibilidade para esses temas. Quando exclui a Parada Livre da Praça Dante reforça um preconceito e torna ele institucionalizado. É um dia de visibilidade de pessoas que sofrem violência todos os dias.
Outro movimento que a senhora faz parte é a Procuradoria Especial da Mulher (PEM). Que tipo de ação desenvolvem atualmente?
A gente resolveu priorizar questão do feminicídio neste ano (na PEM), estamos distribuindo cartilhas, oferecendo palestras e buscando articulação com entidades na questão de oportunidade de emprego. Segundo alguns estudos, mulheres demoram de sete a dez anos para sair de um ciclo de violência. É muito tempo. Muitas não conseguem sair de casa e retornar ao mercado de trabalho. Por isso, por não terem condição, acabam voltando com o agressor. Por isso, temos conversado com alguns setores da cidade para pedir abertura. A gente procura oportunidades para elas.
Você tem pretensão de concorrer a prefeitura um dia?
Bom, Caxias nunca teve mulher prefeita... Acho que ser esse tipo de representação não depende de gostos pessoais, claro que tem que ter disposição, mas não basta querer, isso seria vaidade. Defendo a construção coletiva e a discussão de forma ampla.
Quem você acha que seria um bom candidato do PT à prefeitura?
Eu defendo que a esquerda tenha um candidato. Defendo um bloco, uma frente ampla de esquerda. Acho que, inclusive, o PT pode não estar na cabeça.
Não seria um passo atrás abrir mão de ser cabeça de chapa considerando ser um posicionamento histórico do partido?
Não, é um passo para frente. Isso demonstraria a real vontade de construir. Mas claro, tudo é uma construção coletiva.
Se tornou mais difícil ser política do PT nos últimos anos?
Sempre teve rejeição ao PT e à esquerda, sou mulher, de esquerda, feminista e do PT. Claro que vou receber mais críticas, mas isso ocorre em função das redes sociais. Mas a gente percebe que muitas das pessoas que nos atacam não são reais, são fakes, orquestrados. Então, não é um parâmetro. Se fosse tão real, seria xingada na rua todos os dias.
Nota para o Governo Daniel Guerra?
1, só para não zerar.
E para o Governo Bolsonaro?
3, porque está começando.