A confirmação da inclusão de Caxias do Sul na Região das Hortênsias encerrou um impasse jurídico, político e administrativo que perdurou por cerca de dois meses, desde que a prefeitura anunciou a intenção de mudança, no final de junho. Com a atualização do Mapa do Turismo Brasileiro, a cidade passa a constar, até 2021, na região formada por Canela, Gramado, Nova Petrópolis, Picada Café e São Francisco de Paula.
O Pioneiro tentou contato com a Secretaria Municipal do Turismo para saber como se dará a integração entre os municípios. Em nota, a titular da pasta, Renata Carraro, informou: "Vamos continuar trabalhando pela Serra Gaúcha, em constante contato com os municípios da região. Vamos dar um passo de cada vez para fortalecer as boas iniciativas que já existem."
Por parte dos municípios que já integravam as Hortênsias, a novidade é avaliada com entusiasmo pela maioria dos secretários. Quatro dos cinco titulares da pasta do setor, consideram que a mudança pode representar ganho recíproco. Apenas Gramado mostra-se contrário.
— Caxias é a segunda maior cidade do Estado, tem muito a aprender conosco e mostrar as coisas boas. Só há pontos positivos nessa junção, que só tem a agregar para a região — acredita o secretário de Turismo, Indústria e Comércio de Nova Petrópolis, Paulo Roberto Staudt.
Embora não haja previsão da primeira reunião da nova conjuntura regional, os secretários defendem que um primeiro encontro seja agilizado para formalizar o vínculo e a organização entre os municípios.
— Vai depender muito do trabalho que Caxias vai fazer para se posicionar dentro deste roteiro, desta rota. Caxias precisa resgatar o "brilho no olho" do turismo. Toda essa repercussão foi exagerada. O pertencimento à uma região é mera formalidade. Precisamos nos posicionar como "Destino Serra Gaúcha" — comenta o secretário do Turismo de São Francisco de Paula, Rafael Castello Costa.
A nova composição das regiões turísticas foi divulgada na última na última segunda-feira (26) pelo governo federal. O Mapa do Turismo Brasileiro é atualizado a cada dois anos. Com a designação regional, municípios e empresas podem viabilizar recursos de programas voltados ao setor. Até a mudança, Caxias do Sul pertencia à Região Uva e Vinho, na qual, entretanto, não atuava formalmente desde 2011.
Além da identidade cultural
Sobre a aceitação pela inclusão de Caxias, Costa reafirma defesa pela decisão:
— Claro que aceitaríamos Caxias, por que não? Uma cidade com potencial que tem, cultura e a história que tem...
Também na opinião do secretário de Nova Petrópolis, a polêmica acerca do assunto ganhou uma dimensão desproporcional ao que a mudança representa:
— É muito mais do que a flor hortênsia, mais do que plantar um parreiral. Não tem de ficar batendo na tecla de que hortênsia é uma coisa e uva e vinho é outra. Se fosse assim, teríamos que pedir para fechar as vinícolas de Nova Petrópolis. O Ministério disse sim, vai ser assim até 2021, depois pode mudar, sem problema — defende Staudt.
"Caxias quer? Está provado que não quer"
O único município que se posicionou contrário à aceitação de Caxias na Região das Hortênsias desde o surgimento da ideia foi Gramado. Mesmo após a confirmação da mudança por parte do Ministério do Turismo, o secretário de Turismo, José Carlos Ramos de Almeida, reitera contrariedade à integração.
— Mais de 11 entidades, de Caxias e das Hortênsias, disseram que não querem. Como que integra isso? Houve precipitação. Caxias quer? Está provado que não quer — afirma.
Segundo ele, além das diferenças culturais, as diretrizes econômicas para o setor ressaltam as divergências de visão entre os municípios.
— A nossa posição foi contrária não por ser contra a cidade, mas as diretrizes econômicas divergem. O índice de criminalidade de Caxias é alto, uma das cidades mais perigosas do Estado. Nós vendemos a Região das Hortênsias em 40 eventos neste ano como região segura. As pessoas avaliam muito isso quando viajam. Acabamos prejudicados nessa integração.
E acrescenta:
— Quantos restaurantes abrem domingos e feriados em Caxias? Nós é o contrário, é o pico do movimento.
Para Almeida, a insistência de Caxias em mudar de região turística denuncia a "falta de visão" do município em enxergar o potencial do município no setor.
— Se eu fosse caxiense, estaria triste. Caxias não precisa de Gramado, não precisa de Canela. É uma questão de visão de trabalho de quem está dirigindo a secretaria. A economia do turismo só existe se tem vontade política e da população local. Se essas duas partes não estiverem unidas, não existe turismo.
Opiniões
FAVORÁVEIS
"Picada Café é a favor. A inclusão de Caxias só tem a agregar para a Região das Hortênsias", secretária de Turismo, Indústria e Comércio de Picada Café, Cléri Spindler
"Outras regiões estão se organizando. A Serra Gaúcha tem de jogar no mesmo time. Tem que parar com isso do que é Hortênsias, Campos de Cima da Serra e Região Uva e Vinho. Somos Serra Gaúcha, temos de trabalhar mais isso e menos individualidade, secretário do Turismo, Cultura e Desporto de São Francisco de Paula, Rafael Castello Costa
"Tivemos muitas opiniões divergentes, bastante entidades se manifestaram contrárias, mas estamos numa democracia, cada um tem direito de dar a sua opinião. Quatro municípios foram favoráveis e um contrário. Agora vamos sentar numa mesma mesa e discutir a Serra Gaúcha. Sabíamos que seria polêmico, mas às vezes se bate muito na mesma tecla", secretário de Turismo, Indústria e Comércio de Nova Petrópolis, Paulo Roberto Staudt
* O Pioneiro tentou contato com o secretário Municipal de Turismo de Canela, Angelo Sanches, mas não obteve retorno até 18h50min desta terça-feira (27). Canela, no entanto, posicionou-se favorável à inclusão de Caxias, segundo informaram os demais secretários
CONTRÁRIO
"Pessoal dos outros municípios (das Hortênsias) se emocionou, mas tem que considerar as diferenças. O "sotaque" de Caxias é Bento, e depois da indústria (como matriz econômica), é uva e vinho. Caxias tem potencial real de ser economia alternativa, é município muito forte, pode ser até independente. Até poderia dispensar pertencer a região, é só saber trabalhar. Agora, querer pegar carona de Gramado?!", secretário de Turismo de Gramado, José Carlos Ramos de Almeida