Filho de Nilo José Corte, ex-suplente a vereador de Caxias do Sul cassado durante a ditadura, Vanius Corte nasceu em berço político. Aos 16 anos, se filiou ao PT, onde permaneceu até 2009. Em 2018, se filiou ao PCdoB, que em maio deste ano confirmou sua pré-candidatura à prefeitura. Foi o primeiro nome lançado para a eleição de 2020.
Com 52 anos, Vanius sempre esteve envolvido com a política, mas nunca concorreu a cargos eletivos. Atuou por cerca de seis anos como advogado trabalhista e completa 12 anos na Secretaria do Trabalho (antigo MTE). Foi procurador-geral do Município nas gestões de Pepe Vargas (PT), entre 1997 e 2004. Ao Pioneiro, Vanius fala sobre os motivos que o levaram a ser pré-candidato. Confira:
Por que colocou seu nome à disposição?
Sempre militei, mas nunca tive pretensão de ser candidato. Pediam se ia concorrer, eu dizia “nem pensar”. Se não estivéssemos neste momento (da política) que estamos vivendo, nem cogitaria. Sou agente público, acho que cumpro um papel importante. Mas temos um governo (federal) que incentiva ações contra a democracia, precisamos voltar ao debate político de verdade. O PCdoB levantar essa discussão agora é importante.
O que acha da prefeitura de Caxias?
Acho estranho termos um prefeito que não conversa com ninguém. Não recebe clube de mães, servidores, não vai em reunião na CIC, se fecha num gabinete achando que tem condições de fazer tudo. Acho fundamental propiciar participação cada vez maior de todo mundo. Mas o prefeito não conversa, cria clima de confronto e diminui o tamanho da cidade. Caxias está menor e menos pulsante. Alguém tem de ser a liderança que vai levar isso adiante. Não há prefeito que vá fazer isso sentado em seu gabinete, sem estar aberto a críticas, achando que toda crítica é ataque.
O senhor aceitaria ser candidato a vice de uma chapa?
Não tenho pretensão. Quero colaborar em fazer discussão política, unir o campo progressista centro-esquerda e iniciar a discussão: vamos continuar brigando entre a gente?
Não ter pretensão é estar disposto a debater a possibilidade?
É estar disposto a debater uma alternativa para Caxias que não seja pessoal. Não faço questão de ser candidato a prefeito ou vice. Mas se puder colaborar para que dialoguemos com outros partidos que hoje são oposição a Bolsonaro e começar a construir uma situação diferente, já fico satisfeito. PCdoB vai procurar PT, PSB, PDT, PCB, PSOL, todos que têm posição de enfrentamento.
Qual seu diferencial?
Meu perfil é gostar de ouvir, dar palpite, pitaco, mas ter abertura para isso. Facilita a vida, até quando estiver no cargo. É dividir acertos e erros. Quem faz isso, abre portas. O presidente Lula era exemplo disso. Tenho admiração pelo Lula. Talvez tenha escapado algumas coisas e tenham entrado pessoas que não deveriam, mas ele estava de porta aberta para receber todo mundo e conseguiu levar o país para outro patamar.
Por que saiu do PT?
Não tenho problemas pessoais com ninguém do PT. Na minha adolescência, ao invés de ir em festa, eu ia em reuniões do PT. Saí em 2009, quando o PT estava em ascensão. Perdeu coisas que me encantavam e abriu espaço para gente que não poderia. Quando eu era da Executiva, quem queria entrar no PT era submetido à avaliação. Tinha gente que não passava.
Caxias está desassistida?
Vivo há 52 anos aqui e nunca vi tanta gente dormindo na rua e nos semáforos pedindo esmola. É fácil de resolver? Não. Depende só do prefeito? Não. Mas tem de admitir o problema e fazer parcerias. Não cortar recursos de entidades que prestam bom serviço. A área da saúde também está em condição grave. Tem de abrir UBSs, não dá para deixar dois anos fechadas. Não dá para dizer que é contra Conselho de Saúde e não dialogar. Essa intransigência e falta de diálogo estão fazendo com que Caxias fique parada. Converso com as pessoas em geral e não encontro alguém que diga que Caxias melhorou.
A nomenclatura "comunista" do PCdoB acaba sendo desfavorável para sua candidatura no contexto que o termo acabou gerando uma discussão caricata no país?
Todo mundo que é contra o governo é comunista, né (risos)? Se eu tivesse alguma pretensão política pessoal a opção talvez não fosse o PCdoB. É mais fácil usar uma sigla que não tenha um nome que chame tanta a atenção. Quando saiu essa notícia, alguns disseram que eu iria querer transformar Caxias numa república comunista. Temos o governador do Maranhão, o Flávio Dino, do PCdoB, que não transformou o Maranhão numa república comunista. As pessoas têm a imagem que o termo remete a tudo que é ruim. Acho que é importante falarmos porquê o PCdoB é um partido comunista do Brasil e explicar o motivo de ter um partido com essa coragem de se dizer comunista, que defende ideias que não são preconceituosas, são libertárias e está disposto a participar do processo democrático.
Qual é a Caxias ideal na visão de Vanius?
Uma Caxias onde as pessoas têm oportunidade, possam se desenvolver, trabalhar, tenham saúde, educação. Onde a gente tenha um setor industrial impulsionado. Não podemos deixar empresa ir embora. Esses tempos teve empresa que foi embora para Joinville, fechou 150 empregos. Perguntei ao dono se alguém da cidade pediu para ele ficar e disse que não. A única foi a empresa telefônica que não queria que ele desligasse a linha. Precisamos de uma Caxias mais receptiva e pujante. E isso não vai melhorar em quatro anos, tem de pensar projeto de 20 anos. Não pensar em plano de realizar obras para se reeleger ou boicotar planos de prefeitos anteriores porque eram de outro partido.
O que acha do governador Eduardo Leite?
Parece mais aberto, faz governo com diretrizes que não concordo, como insistência em ser contra plebiscitos contra privatização. Por quê? Ele conversa, mas não incentiva participação popular.
E de Jair Bolsonaro?
É o contrário de tudo o que se espera de um governo. Precisávamos de um presidente que livrasse esse ambiente de confronto, apaziguasse e voltasse o desenvolvimento. Não está indo neste caminho, cria uma polêmica por dia, uma briga por dia, critica outros poderes, incentiva a população a ir contra o sistema democrático. Não tem condições de tirar o país do estado que se encontra, pelo contrário, pode fazer com que se afunde ainda mais.
Numa palavra, como definiria o Governo Bolsonaro?
Uma palavra? Olha, as palavras que eu gostaria de dizer não dá para publicar.