No dia que completou 45 anos, em 29 de abril, Renato Nunes (PR) foi comunicado que assumiria a vaga até então ocupada por Tibiriçá Maineri (PRB) na Câmara de Vereadores de Caxias. Para ele, a mudança foi um "presente de aniversário", dada sua preferência em atuar como vereador. Para assumir, ele precisou deixar a Secretaria Municipal da Habitação, pasta da qual ocupou a titularidade por cerca de três meses.
Conhecido por pronunciamentos contundentes, Nunes retorno ao parlamento, onde garante que deve voltar a "parlar" e reiterar defesa ao governo de Daniel Guerra. Ao Pioneiro, ele falou sobre as expectativas ao retornar à Câmara.
Pioneiro: Quais expectativas do seu retorno ao Legislativo?
Renato Nunes: Fico muito feliz de estar aqui. Praticamente estou no terceiro mandato. Acabei não me reelegendo, pois na época nem pretendia concorrer porque havia acabado de perder o meu pai e estava desmotivado. Porém, sempre apoiei nosso prefeito, então decidi ajudar. Fiquei de suplente, mas estar de suplente faz parte do jogo da política. Então, a possibilidade de assumir sempre existiu.
O que motivou, por parte do governo, essa decisão? Como chegou até o senhor?
O que eu sei dizer é que tive o maior privilégio e honra de assumir a vaga do Elisandro Fiuza (PRB) que foi para a Secretaria de Habitação. Houve depois essa troca novamente, fiquei três meses na Habitação e, nesses últimos dias, fui pego praticamente de surpresa em ser convidado a ocupar o lugar do Tibiriçá (Maineri), que reassumiu a Coordenadoria de Acessibilidade, onde está fazendo um excelente trabalho. Eu sou fã dele. O que ele está fazendo por Caxias em respeito à acessibilidade nunca foi feito. E lá ele tem mais condições de fazer pela acessibilidade, mais do que como vereador.
Mas houve um pedido do governo ou foi uma movimentação natural?
Foi natural. Eu não pedi para voltar, até porque estava muito bem na secretaria trabalhando com servidores e as equipes.
O senhor deve permanecer até final da legislatura na Câmara?
A princípio permaneço, mas quero deixar claro que sou um colaborador deste governo. Já ocupei cargo de confiança, ocupei outros cargos, estive como secretário, hoje voltei para a Câmara. Não tem problema, sou coringa, quero ajudar.
Na comparação, o senhor prefere atuar no Legislativo ou Executivo?
Legislativo, sempre preferi o Legislativo.
Sua atuação se caracteriza pelas manifestações contundentes. O senhor acha que estava em falta uma postura como essa na representação do governo na Câmara?
Com todo o respeito aos vereadores da situação, no caso, Fiuza, por um tempo Chico Guerra (PRB, hoje chefe de Gabinete), Tibiriçá, cada um tem um perfil. Eles são mais calmos, mais tranquilos. Eu sou mais do contraponto, de colocar a nossa posição enquanto governo. O pessoal fala assim: "não dá para olhar para trás". Por que não? Um carro tem três espelhos para ficar olhando para trás. O passado importa sim. O grupo dos ex-prefeitos Sartori (José Ivo/MDB) e Alceu (Barbosa Velho/PDT), como diziam, estavam no "terceiro andar" e queriam ir para o "quarto andar". Eu sei tudo o que foi feito nos governos deles, o que não foi feito, o que deixaram pela metade, o que disseram que iam fazer e não fizeram. Aliás, no primeiro mandato eu era da base governista do Sartori, então eu tenho essa experiência.
A relação do senhor com os demais vereadores foi sempre conflituosa. O senhor acha que isso vai mudar?
Até me permita fazer a correção: não é conflituosa. Me dou muito bem com todos os vereadores, aliás, não tenho nenhum inimigo aqui. Eu tenho adversários políticos. Porque pensamos diferente. Claro que uma coisa que eu não admito é pessoalizar, a pessoa partir para agressão física ou contra minha família. Mas podemos debater sobre qualquer assunto. Saindo do plenário, me dou com todos eles, são pessoas normais que eu respeito. Até com o próprio vereador Rafael Bueno (PDT) que dizem, dizem por aí, que somos inimigos, porque ele é líder da oposição. Para começar, não sou líder do governo, então a gente só tem divergências no debate, no posicionamento, no enfrentamento de ideias. Mas não tenho nada contra o vereador Rafael Bueno. Muito pelo contrário, quero o bem para ele. É um jovem vereador, tem um longo caminho pela frente na política.
Inclusive, na semana passada repercutiu o fato de ter sobrado para o senhor a cadeira no plenário que fica ao lado do vereador Rafael Bueno...
Isso eu não gostei. Não sei se foi proposital por parte da vereadora Tatiane (Frizzo, que ocupou a cadeira deixada por Tibiriçá, deixando o único lugar vago ao lado de Bueno), ela me falou que não. Não sei se foi por inocência ou se foi induzida por outra pessoa, mas me senti meio constrangido. Levou a coisa para o lado da piada, do deboche, como se dissessem "vamos colocar os dois um do lado do outro para ver se se entendem ou brigam".
Mas o senhor não tem nenhum problema em ficar ali?
Não, de maneira nenhuma. Inclusive, o vereador Rafael me cumprimentou, agradeceu o tempo que eu estava na Secretaria da Habitação, onde fizemos alguns atendimentos eu e ele.
O senhor acredita que essa postura de enfrentamento possa não ser saudável ao debate legislativo?
Olha, nós estamos no Parlamento. Parlamento é isso aí, é parlar, eu gosto muito de parlar (risos). É um dos poucos direitos que nós temos. Porque a maioria dos projetos ou é inconstitucional, tem vício de origem, causa despesa... A maioria das coisas que as pessoas pedem um vereador não tem poder para fazer. Então o que resta é poder sugerir, se posicionar, cobrar, dialogar. Ainda que as ideias sejam contrárias, eu respeito. Acho até bacana pensarmos diferentes, se pensássemos todos iguais não precisava nem parlamento.
Percebe-se uma oposição dedicada dos vereadores. Qual sua avaliação disso?
A grande maioria, poderia até dizer que todos, mas a grande maioria certamente tem meu total respeito. Vejo que eles acabam até auxiliando o Poder Executivo quando fazem cobrança. É para isso que foi eleito, não tem nada de errado. Eles têm pleno direito. Cobrar, sugerir, propor, apresentar demandas, fazer críticas construtivas, apontar soluções. O prefeito Daniel Guerra quando era vereador também fazia. Eu também fazia do lado dele e vou continuar fazendo.
Muitos secretários deixaram o governo. O que acha dessas mudanças todas?
Vejo que não tem nada de polêmico nisso. Todos os prefeitos, governadores, têm legitimidade de propor mudanças. No tempo do Alceu e Sartori, trocavam vereadores, secretários. Teve mês que assumiram quatro vereadores num mês devido a trocas. Quanto a isso não tem problema.
A fusão da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (Smel) na Smed (Secretaria Municipal de Educação), o que o senhor avalia?
Não estou a par da proposta. Teria que amadurecer essa ideia. Sei que o esporte é importante, porque é saúde pública. Mas hoje estamos vivendo dias difíceis, sem recursos. Não era como um tempo atrás. Estamos numa época de economizar, definir prioridades, ver onde podemos aplicar investimentos. Em saúde, por exemplo. Abrimos a UPA Zona Norte, Postão vai ser transformado em UPA 3, que vai ser top.
O prefeito foi eleito com índice considerável. O senhor acredita que ainda há esse apoio. O que você ouve da população?
Quem é que não gosta do Guerra? Eu deixo essa pergunta e eu mesmo respondo. Quem não gosta do Guerra é a grande maioria das pessoas que compunha aqueles 20 e tantos partidos que eram das antigas administrações. Eles não gostam porque o Guerra ganhou as eleições e a maioria era CC e eles não gostaram quando perderam tudo e querem voltar. Essas pessoas não gostam, e também essas pessoas mais político-partidárias, alguns presidentes de bairros, essas pessoas que não gostam do Guerra. Agora, o povo, quem não está nem aí para partido, que quer que a cidade ande, que quer ter remédio, segurança, vaga nas escolas, esse povo neutro... eu saio, acompanho gabinetes itinerantes, visitas aos bairros, UBSs e escolas, o prefeito chega no meio do povo e todo mundo abraça, a grande maioria quer tirar foto. Não entendo quem não gosta do Guerra. Para mim, só os adversários políticos. Aquela população sem tendência partidária continua a apoiar.
O senhor acredita que Caxias melhorou como cidade?
Muito, muito. Posso garantir para a população. Hoje Caxias tem governo que não governa para partido político, governa para o povo. As secretarias não têm partido, as secretarias não foram distribuídas para partidos. Hoje o Poder Executivo trabalha para o povo, a maioria dos secretários foi escolhida pelos currículos, pela sua capacidade e experiência naquela área.
Mas muitos desses secretários saíram insatisfeitos...
O problema é que esses técnicos, às vezes são muito técnicos, só técnicos, mas não podemos esquecer que eles ocupam um cargo político. Então, essas pessoas (técnicos/secretários) não podem esquecer que estão na política, mesmo que diga não ser política, ela tem de ter jogo de corpo, não pode ser muito radical. Deve ter faltado algo assim por parte de alguns (que deixaram o governo).
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