A gaúcha Ana Amélia Lemos (PP) iniciou carreira política em 2011, quando foi eleita senadora. Desde então, concorreu ao governo do Estado, em 2014, e como vice na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa presidencial de 2018. A experiência dela com política, entretanto, antecede à posse ao primeiro cargo eletivo: de 1979 a 2010, ela vivenciou os bastidores políticos em Brasília, quando atuou como jornalista.
E essa "cancha" adquirida ao longo de 40 anos no Congresso é o que, segundo ela, foi o diferencial para ser convidada a assumir a Secretaria Extraordinária de Relações Federativas e Internacionais do governo de Eduardo Leite (PSDB), cargo no qual tomou posse oficialmente no último dia 7. A pasta criada na gestão de Leite até então funcionava como Escritório de Representação do Estado em Brasília. Estruturada como secretaria, a sede continuará na capital federal justamente porque uma das intenções é que Ana Amélia desempenhe a função de interlocutora entre o Congresso e o Governo do Estado.
Na quarta-feira, a secretária conversou com o Pioneiro.
Pioneiro: Como surgiu o convite para atuar no governo de Eduardo Leite?
Ana Amélia: O governador Eduardo Leite me fez o convite porque entendeu a minha experiência de conhecer bem Brasília. Estou aqui desde 1979, primeiro como jornalista, e depois a partir de 2011 como senadora da República por oito anos, com um trabalho, penso, reconhecido pelos gaúchos e também pelo país pela forma que eu procurei me comportar como senadora, produção legislativa elevada e pouco gasto. E é assim que vamos atuar na Secretaria de Assuntos Federativos e Internacionais.
E qual é a função exata da pasta?
A secretaria terá responsabilidade de fazer articulação e a defesa das prioridades do Estado junto aos poderes Judiciário, Legislativo e Executivo. As três prioridades do Estado atualmente são: renegociação da dívida, a questão da Lei Kandir e a Reforma da Previdência. Já as outras prioridades se referem a uma interlocução da secretaria com os municípios, a demanda municipalista, pois é federativa. E, ainda, uma interlocução com as embaixadas de diversos países. Já tenho uma missão de conversar com o embaixador do Chile para tratar de temas de interesse bilateral e também, dentro do Mercosul, Uruguai e Argentina, tem interesse muito próximo pela fronteira. Também terei uma relação direta com as autoridades do próprio país. Então, a minha atividade é complementar às demais secretarias, segurança pública, saúde... nunca interferindo, mas colaborando.
Qual será a estrutura?
Muito pequena. Serão, no máximo, 15 pessoas. É menor do que a redação do Pioneiro. Já com relação ao custo, bom, ela deixa de ser um escritório de representação para se tornar secretaria. Eu não me preocuparia muito com os custos, que essa é a questão menor, pois faremos tudo com o menor custo possível. Já tínhamos estrutura, agora temos uma estrutura que vai custar mais, mas ela vai ter mais encargos para desempenhar. Não poderíamos fazer com a mesma estrutura tudo o que nos foi dado. Tenho quatro convites, inclusive para os EUA, e sem nenhum tostão do Governo do Estado, embora tenha interesse com minha atividade. Todas (as viagens) são custeadas por quem convida.
Qual a sua experiência prévia na atuação específica às atribuições da secretaria?
No Senado, participei da Comissão de Relações Exteriores. Fui, durante o mandato, visitar Japão e Taiwan, a convite dos governos desses países. Fiz muitas outras viagens internacionais e todas elas com interesse e foco no nosso Estado e em projetos de desenvolvimento e de investimentos de capitais estrangeiros, porque é o que mais precisamos. Mais poupança e mais investimentos para gerar emprego e renda. Baseada nessa minha experiência que o governador, eu acredito, tenha me confiado essa missão.
O fato de ter se tornado uma secretaria simboliza uma maior importância dada pelo governador às questões relativas à pasta?
Sobretudo na questão relacionada a tentar atrair mais interesses e investimentos de países como China, Coréia do Sul, Chile e Uruguai e a ampliação das relações desses países com o nosso Estado. O diretor-geral da Toyota, inclusive, está marcando agenda comigo. A Toyota tem centro de distribuição de produtos que vêm ou vão para a Argentina, e ele fica localizado em Guaíba. A Toyota está muito satisfeita com essa unidade, pela qualidade de mão de obra.
Já tem estabelecido contato com o governo de Jair Bolsonaro?
A gente tem tido contatos formais. O vice-presidente (Hamilton) Mourão esteve na Expodireto e eu estive lá. Cumprimentei ele (Mourão) pelas posições que vem tomando, que são muito sensatas, muito adequadas, equilibradas.
E o que a senhora está achando dos primeiros meses do governo de Jair Bolsonaro?
Acho que o governo (federal) precisa acertar o passo. A reforma da Previdência é o primeiro grande desafio, e precisa haver sucesso nisso. Eu aposto que há um esforço grande do Governo Bolsonaro para acertar. É acertar ou acertar, ele não tem outra escolha, porque foi eleito com grande confiança e respaldo popular, por isso ele tem grande responsabilidade em corresponder com essa confiança que a população brasileira deu a ele. E isso acontecerá apostando mais em desenvolvimento, geração de emprego, porque não é possível continuar com um país com 12 milhões de desempregados. E a economia se move com confiança. Por isso é preciso que ele fortaleça com a reforma na Previdência.
O governo (federal) lhe frustrou de algum modo?
É natural que um governo novo, com discurso novo, tenha dificuldades. Querer que ele tivesse nota 10 em tudo... é difícil para um governo que fez um discurso e tem de ajustar esse discurso para uma cultura que nós temos. Essas dificuldades eram previsíveis. Ele também está entendendo que, entre a campanha eleitoral e a prática, há uma distância e ele está entendendo que cabe a ele próprio encurtar essa distância e isso se faz sendo pragmático, com uma boa relação com o Congresso. Por mais que haja alguma crítica, tem de fazer relacionamento. Na democracia, você não pode fazer nada, nada, sem o Congresso. E é exatamente aí é que está a grande questão. O problema não é econômico, é político, e Bolsonaro tem essa responsabilidade e a consciência desse desafio que tem pela frente. O Brasil não pode correr riscos, e ele sabe disso.
O que lhe atraiu a aceitar o convite do governador para ser secretária?
Eu sempre defendi a aliança do PSDB com o PP e outra, um prefeito em Pelotas que elege com 60% dos votos a sua sucessora, que se reelege com 60% dos votos e faz 90% dos votos no segundo turno, algum mérito ele deve ter.