Representante do PSL em Caxias, Sandro Fantinel é um entusiasta do governo do presidente Jair Bolsonaro. Ele exerceu o cargo de presidente da sigla até o final de 2018 e aguarda decisão da direção estadual sobre sua recondução ao cargo. Acredita que o presidente tem dados sinais, nesses primeiros dois meses de mandato, de que fará um bom trabalho. Mas que poderia fazer mais, se não fosse o Congresso, que ele considera um entrave. Para a reforma da Previdência, Fantinel defende, se não houver votos suficientes, até mesmo a compra de parlamentares para garantir a aprovação do projeto que, segundo ele, é o “coração do governo”. Confira a entrevista concedida na última sexta-feira:
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Qual a sua avaliação sobre os dois primeiros meses do governo Bolsonaro?
Está dentro dos conformes. Se você analisar um prefeito, no primeiro ano de mandato dificilmente consegue fazer alguma coisa. Imagina um presidente da República, assumindo um país que vem de uma crise, um país que sofreu uma doutrinação que não seria a correta. Agora entra um homem que pensa diferente. É um embate. Todos aqueles deputados e senadores eleitos e reeleitos que defenderam durante todo esse tempo aquele sistema, para eles aceitarem uma revolução fica complicado. Não digo que eles são contra, eles têm receio. Bolsonaro está tentando criar um sistema que faça com que as pessoas tenham medo de errar, porque, se elas errarem, vão pagar. Para dois meses de governo, está além das expectativas. A gasolina se segurou, a segurança mudou bastante, vi que diminuíram os índices. O que é isso? O medo. Criminoso começa a ter medo. Tu sente um sinal positivo. Olha a Bolsa. Quantos anos fazia que a Bolsa não atingia os limites que atingiu agora. Para dizer se Bolsonaro foi um bom governo ou não, só daqui dois anos. Muitas coisas poderiam ter sido melhores nesses 60 dias. Não são porque querer e fazer são coisas diferentes. Nós vivemos numa democracia e ela é um braço do socialismo, porque ela diz que todo mundo tem que ter o mesmo direito. O socialismo também prega esse mesmo direito, só que ele distorce. Se Bolsonaro tivesse autoridade de colocar em prática os projetos que ele tem, nós teríamos uma revolução em um ano.
Mas o que ele poderia fazer se ele tivesse autonomia?
A questão da segurança bate em vários problemas das leis que já existem. Tu não pode liberar isso porque a lei tal proíbe. Então, tem que juntar o Congresso, expor o projeto, que eles aprovem. Isso é a democracia. Se não tivesse esse meio termo, tu colocava em prática. Então, os entraves, são muitos. Ele (Bolsonaro) mudou o tom muito da eleição para cá. Ele veio com toda a vontade de fazer e enxergou na frente um monte de trava. Isso fez com que ele fosse mais devagar. Infelizmente, a mídia tem uma relação muito grande com o sistema que tinha antes, a mídia vê a realidade um pouco diferente. Essa mídia critica. Ah, o ministro lá está sendo investigado. Investigado eu também posso ser. Você também pode ser. Tu não pode querer derrubar um governo porque o ministro tal é investigado. Tem que provar. Tudo isso atrapalha. Acho que a mídia deveria dar um momento de sossego. Não é porque sou Bolsonaro, PSL, que se ele fizer coisa errada eu vou apoiar. O Sandro não tem partido. O Sandro faz parte do PSL porque para viver no mundo da política tu tem que estar num partido. Bolsonaro disse para mim que gostaria que não tivesse partido para concorrer.
O senhor falou de entraves quando se refere ao Congresso. O governo já recuou no projeto anticrime e pode ceder na reforma da Previdência. Como avalia esses recuos?
Quando ele chegou lá dentro, viu que o sistema funciona de uma forma. A vida dele foi virada de cabo a rabo para ver se encontravam alguma coisa para incriminá-lo. Vinte e sete anos de vida política e não encontraram uma vírgula. Significa que ele nunca se envolveu nesses grupinhos que trocam favores. Quando ele dizia na campanha que “comigo não vai ter o toma-lá-dá-cá”, isso não existe. Se ele pudesse fazer sem passar pelo Congresso, eu botaria os pés e as mãos no fogo por ele, mas não é possível. O que tu espera dessa gente que viveu a vida inteira embolsando dinheiro público? Que eles vão dar o votinho de graça? Para o Bolsonaro passar para a história como o cara que mudou o Brasil? Não, isso vai ter um custo. Ainda bem que nós temos um cara lá, é o cara para negociar, que é o Onyx Lorenzoni. Ele conhece o melhor e o pior e toma café com os dois. Ele é um estrategista. Esse é o cara que pode fazer com que tudo dê certo nessa reforma da Previdência e em outras. Mas não vai ser de graça. Infelizmente, eu digo, não acredito que vá ser de graça. Os caras vão cobrar.
O senhor acha que o governo vai pagar?
A índole do Bolsonaro faz com que ele não pague, mas aí tu tem que colocar na balança. O que é melhor hoje para o Brasil? É melhor que a Previdência seja aprovada, que o rombo termine, que sobre dinheiro para investir em saúde, educação, segurança e que para isso eu tenha que pagar alguma coisa? Ou é melhor que eu não pague nada, porque a minha índole diz que não tenho que pagar nada e isso não aconteça e o Brasil entre no caos? Como líder, tu tem que tomar uma decisão, e a decisão muitas vezes é difícil, é pesada. Muitas vezes tu tem que mentir para salvar uma vida. Não é correto, ninguém deveria mentir. Ele tem que usar de toda a estratégia possível para fazer o Brasil ser aquilo que a gente sonha. E se ele tiver que fazer esse sacrifício, ele vai fazer contra a vontade.
Mas se ele pagar não estará se igualando aos governos que criticou?
Sim. Só que o momento que o país se encontra exige que tu tome decisões difíceis. Quem vai sair mais favorecido com isso? É a população ou aqueles 50 deputados? É a população. Antes desviavam trilhões. Agora, se ele tiver que pagar R$ 1 milhão para fazer a população ter um futuro, eu, no lugar dele, se eu não tenho saída, claro que o Ônyx está fazendo das tripas coração, está dia e noite negociando. Eu acho que a maioria vai votar sem cobrar nada. A Previdência é o coração desse governo, se aprovar tem tudo para dar certo. Se der errado, quem vai perder somos nós. Temos que torcer para essa Previdência ser aprovada a qualquer custo. Eu vi os vídeos dele (Bolsonaro), vi ele falar pessoalmente que onde é que já se viu se aposentar com 65 anos, que tinha que ser no máximo 60, que no Ceará os caras vivem 60 anos. Mas a equipe econômica disse que para economizar aquele R$ 1 trilhão tem que ser desse jeito. As pessoas confundem cultura com ideologia. Cultura é o conhecimento que o povo precisar ter para escolher os seus líderes, para ensinar os seus filhos. O problema do Brasil não é governo, políticos, leis, governantes. O problema é o povo sem cultura que não se preocupa com o amanhã.
Como o senhor explica, então, a eleição do Bolsonaro? Quem são as pessoas que votaram nele?
Existia de uma forma muito forte o antipetismo, de 2016 para cá. Aí apareceu um cara que martelou o PT, que falava de fazer totalmente o contrário. Acho que 20% dos votos do Bolsonaro não são de pessoas que gostam dele. São pessoas que não queriam o PT. Se não existisse o Bolsonaro, meu candidato era o Álvaro Dias. Teve aquela grande parte do conservadorismo, que é o meu caso, que acha que ele é o cara porque fala a minha língua. Não foi o Brasil que elegeu o Bolsonaro. Você pega 2 milhões de votos em branco, 8 milhões nulos, 30 milhões de abstenções e os 47 milhões do Haddad. Nós temos 147 milhões de eleitores. O que isso significa? Bolsonaro fez 30%. Desses, 10% foram com ele contra o PT.
E sobre o Caso (Fabrício) Queiróz (ex-assessor do ex-deputado estadual e hoje senador pelo Rio, Flávio Bolsonaro, suspeito de movimentações financeiras atípicas)?
É uma situação muito difícil, porque como ele mesmo disse, é filho, mas se errou tem que pagar. O filho fez uma burrada e é o Bolsonaro que aparece. Sou a favor dos militares num ponto, quando os coronéis disseram para ele: “Olha, tua família tem que ficar lá e o presidente tem que ficar aqui”. Ele não conseguiu separar isso ainda. O que aconteceu com o (Gustavo) Bebianno (exonerado da Secretaria-Geral de Governo): acho que ele pagou no lugar de alguém, e o presidente teve que tomar uma decisão. Ele vai ter que separar a família do Palácio para conseguir governar. O lance das laranjas é bem fácil de entender. Ano passado eu, presidente em Caxias, a Carmen (Flores) em Porto Alegre (do Estado), o Bebianno era em Brasília. O Bebianno manda R$ 100 mil para a Carmen e diz que tem que dividir com os presidentes municipais. Aí a Carmen me manda R$ 1 mil. Eu, em vez de fazer o que tinha que fazer com aquele dinheiro, eu encho o tanque do meu carro, pago um jantar para a minha esposa. Lá na frente descobrem. Quem é o culpado? Eu, não o Bebianno. E esse lance da família é complicado. O dinheiro que rodou ali é mixaria. Falam em R$ 1,2 milhão, mas é mentira. São R$ 600 mil que foram movimentados duas vezes. O cara, além de motorista, diz que é garagista. Hoje tu vende uma Hilux e são R$ 150 mil. Se o cara é garagista e vende carros bons, R$ 600 mil é trocado. Tem que averiguar. Se veio realmente do nosso dinheiro, tem que devolver. Se ele fez essas negociações sem nota, ele pode ser absolvido desse processo com o Flávio, mas vai responder a um processo na Receita Federal. Mas isso aí atrapalha o governo. Eu seria contra esse sistema de Justiça. O cara só vai para a cadeia ou aparece no jornal quando for condenado. Passou todas as provas e o cara realmente é culpado, então bota na mídia. O negócio do Lula: eu não gosto dele, do governo dele. Ele fez umas coisas que me favoreceram, tipo o microempreendedor individual que para a minha empresa foi a salvação, se não já tinha fechado. Mas custou caro para o povo. Mas tem coisas que discordo na condenação, porque não tem a prova palpável. O cara que delatou, delatou por quê? Porque, em vez de 10, só vai pagar cinco. Isso não serve como prova.
E a sua avaliação sobre o governo Daniel Guerra?
Honesto, não é corrupto, é um bom rapaz. Como pessoa, daria nota mil. Como administrador, daria, de 1 a 100, 85. Como prefeito, dou nota 30. Um prefeito, antes de ser um administrador, ele é um político. Como um representante do povo fecha a porta para o povo? Como um prefeito fecha a porta para os presidentes de bairros? Se fosse eu o prefeito, agregava essa gente. Eu sei qual é a estratégia do Daniel. Como gestor, está captando recursos e guardando na conta. Então, a meta é até o final de 2019 ter o dinheiro para começar as obras. Início de 2020, começa. Povo brasileiro, como tem pouca cultura, pouca memória, vai dizer: “Falavam mal do cara e tem obra pra tudo que é lado.” Essa é a estratégia. E vai se eleger de novo. Por isso que (agora) tudo está parado. São 500 problemas espalhados pela cidade. Só que esses líderes comunitários vão ter a boca tapada quando ele abrir o cofre. Não é a forma correta. É uma ótima pessoa, um grande administrador, honesto, não é corrupto, não se vende para ninguém, mas não serve para político. Serviria para um diretor da Randon, da Marcopolo.
O PSL terá candidato a prefeito no ano que vem?
As brigas internas atrasaram os trabalhos. Já vieram me procurar (outros partidos). Como vou tratar se não sei se vou ser o presidente? Em 30 de abril será declarado (pela Executiva Estadual) se eu continuo ou não. Um grupo apresentou uma chapa para me tirar e até 30 de abril a Executiva decide quem fica. Aí o PSL vai começar a trabalhar atrasado. O máximo que o PSL vai conseguir é um vice.
E vice de quem?
Me abstenho de falar, porque nos foi pedido para não falar.