A Câmara de Caxias ganha a partir de terça-feira uma nova vereadora titular. Tatiane Frizzo (Solidariedade), 31 anos, assume a cadeira deixada pelo colega de sigla, Neri, o Carteiro, que renunciou para assumir como deputado estadual. Rainha da Festa da Uva de 2010, ela pretende adotar o estilo de trabalho de Neri e promete dedicar-se ao combate à violência doméstica e ao incentivo do uso da bicicleta como meio de transporte. E avisa: não será nem oposição nem base do governo.
Confira a entrevista:
Quais serão as prioridades do teu mandato?
Quem conhece um pouco da minha trajetória sabe do meu envolvimento no combate à violência doméstica.É uma das minhas bandeiras. Trabalhar realmente para ampliar os serviços que já são oferecidos e divulgar. A questão da bicicleta também, como meio de transporte. Sou envolvida com vários grupos, já apresentei um projeto de lei de iniciativa popular, o Caxias sobre duas rodas,reivindicando ciclovias. Essa certamente é uma das bandeiras, além das outras: saúde,segurança,que são coisas básicas. Entendo também que Caxias precisa evoluir na questão de cultura e lazer. Caxias é conhecida como a cidade do trabalho, trabalho e trabalho, mas a gente precisa investir em lazer também para as pessoas.
Você pretende, como vereadora, reapresentar o projeto Caxias sobre duas rodas?
Sim, certamente o projeto será reapresentado. Fiquei um tempo fora do Brasil, mas sei que tem o Pedala Caxias (movimento que pede a criação de ciclovias) também. Vai ser bem importante a gente se reunir,alinhar e chamar os ciclistas para participar,porque acredito que é uma decisão que vai beneficiar a todos. Durante meu período na Austrália, eu usava diariamente a bicicleta. Cheguei no inverno em Melbourne e o clima lá é como em Caxias, quatro estações em um dia, e as pessoas utilizam (a bicicleta). Mas elas utilizam por quê? Porque existe estrutura que permite que eles se locomovam com segurança, coisa que a gente não tem. Hoje, o ciclista está à mercê de qualquer coisa. Eu já quase fui atropelada de bicicleta, e isso acaba desestimulando as pessoas. Você costuma usar no teu dia a dia? Em Melbourne, eu usava diariamente.
Você vai trabalhar de bicicleta?
Pretendo. Não todos os dias, porque pretendo dar continuidade ao trabalho do Neri, que é de ir até as pessoas.A gente sabe que tem pessoas que não têm condições ou que têm dificuldades de vir até a Câmara, então pretendo ir até elas. Além de manter o estilo do Neri, tem algum projeto em especial dele que você dará continuidade? A gente ainda não teve o tempo necessário para se reunir e ver quais projetos dele estão em andamento, mas tudo que for bom para a comunidade, venha dele, venha do Executivo ou de outros vereadores, a gente vai apoiar.Acho que,acima de questões políticas, vem o bem estar do cidadão. Da minha parte, é dar continuidade ao trabalho.
Como será a sua posição em relação ao governo municipal?
Minha posição é: o que for bom para o cidadão, estaremos apoiando. O que não for, estaremos contrários. É uma posição no sentido de independência, que o Neri já mantinha na Câmara e que pretendo seguir. Nem oposição nem base do governo? Não. Não me considero oposição nem base. Acho que depende da pauta.
Na terça, será votado o pedido de impeachment. Como será o seu voto?
Terça-feira saberemos.
Não pensou ainda sobre? Não decidiu?
A gente está debatendo, mas é uma questão que prefiro não antecipar, até porque houve novos anexos dentro desse pedido.
A Festa da Uva deste ano terá várias mudanças. Como você avalia?
A Festa da Uva gera renda e visibilidade, conta um pouco para as pessoas sobre a nossa identidade cultural. A Festa é muito importante. Acredito que as mudanças devam ser amplamente divulgadas para a comunidade entender de que forma ela vai decorrer, porque a comunidade sempre se fez muito presente. Lembro que a minha participação em Festa da Uva iniciou com desfiles, com a admiração pelas rainhas.Acho que o poder público tem de trazer a comunidade, principalmente o interior, para a Festa, porque não haveria Festa se não houvesse uva. Valorizar o agricultor e, quanto mais conseguirem agregar, melhor. Eu soube que vai ter corsos na Sinimbu, acho bem positivo. A Sinimbu é o coração da cidade, traz o desfile para perto das pessoas. Acho que as mudanças só deveriam ser mais divulgadas para as pessoas conseguirem entender que está diferente. E a gente corre o risco.A Festa da Uva,a cada ano, vem se superando. O risco que a gente corre é que essas mudanças talvez não sejam tão positivas, mas vamos esperar para ver.
Você passa a integrar a legislatura com o maior número de mulheres da história da cidade. Como é para você?
É um desafio e, ao mesmo tempo, a gente fica triste de ver o quanto as mulheres ocupam espaços pequenos. Em cargos públicos a gente não representa 15%, sendo que as mulheres hoje no Brasil são mais de 50% dos eleitores. Fica aquela pergunta: por que as mulheres não estão escolhendo mulheres para se representar? Muitas políticas públicas para mulheres são feitas por mulheres, e quando a gente pensa numa representação democrática, a gente precisa de mulher, de negros, de uma grande maioria que traga suas ideias,suas opiniões.Espero que na próxima legislatura a gente consiga ter mais mulheres. Imagina se fosse o contrário, quatro homens e as demais mulheres?