O vereador Felipe Gremelmaier (PMDB) transfere a presidência da Câmara de Caxias do Sul na terça-feira, dia 2 de janeiro. Alberto Meneguzzi (PSB) assume em seu lugar.
Nesta entrevista, o peemedebista faz um balanço do ano e fala dos seus planos para 2018 . Confira:
Pioneiro: Qual a sua avaliação do trabalho da Câmara neste ano?
Felipe Gremelmaier: Foi um ano totalmente atípico por tudo que se viveu na cidade. Foi um trabalho bastante árduo, por muitas vezes até desgastante, mas tenho certeza de que o papel institucional da Câmara com o Executivo e mesmo com o Judiciário foi de uma relação harmônica. A gente procurou, através da Mesa, fazer com que os projetos que viessem do Executivo não tivessem qualquer tipo de atraso. A Câmara cumpriu o papel que é dela.
Qual o momento mais importante deste ano?
Foram vários. Iniciar o ano com uma legislatura totalmente nova, com um governo totalmente novo, já foi um momento bem importante. Acho que os momentos que passamos aqui com relação aos processos de impeachment foram momentos importantes e tensos, porque isso requereu muita calma dos vereadores, muita paciência do próprio Executivo. Esses momentos foram emblemáticos e, nesse sentido, foram os mais tensos. Depois, esse grande número de protestos nos últimos 60 dias. Esses dois últimos meses, com a Câmara totalmente lotada, foram os mais importantes, porque foi a vinda da comunidade para a Câmara de Vereadores. Eu nunca tinha passado por isso, de ter, por 60 dias, a Câmara lotada. Esse foi o momento mais importante porque a Câmara acolheu a comunidade.
Como foi para o senhor ter de lidar com três pedidos de impeachment?
Foi uma grande experiência, um momento de aprendizado até, porque a gente teve de exercitar muito a questão institucional. É um momento que te obriga a estudar muito porque são situações novas e diferenciadas. Lidar com esses momentos nos obrigou, além de ter muita paciência, a ter a cabeça no lugar, a estudar e buscar informação.
Uma das medidas de economia (a Câmara irá devolver R$ 9,6 milhões ao Executivo) foi a redução de homenagens. Já dá para sentir os efeitos?
Sim. As concessões, que eram 10 por ano, neste ano foram só cinco. Os vereadores, podendo apresentar somente duas homenagens, também já representa. Mas isso não vai representar um valor significativo neste primeiro ano, mas nos próximos.
A mudança do horário das sessões foi positiva?
Extremamente positiva. Para os setores, para a imprensa. Isso só se permitiu porque a sessão é no período da manhã. A própria vida funcional da Casa. Hoje a Câmara funciona em horário normal, não fecha ao meio-dia.
Como você sente a imagem dos vereadores junto à população?
Tem o desgaste natural do processo político que o país passa e isso reflete em quem está mais próximo da população. É claro, nós temos o dever de mostrar que essa imagem é diferente, mas é um processo lento e que a gente precisa ter demonstrações nacionais com relação a isso. É claro que a imagem do político não é positiva. Mas o vereador, quando frequenta os locais, faz suas discussões, mostra para as pessoas a importância da sua função, essa imagem começa a mudar e eu posso dar o exemplo do Câmara Convida (programa que leva pessoas para conhecer o Legislativo). As pessoas que aqui entraram, saíram com outra imagem.
Como foi o debate legislativo? Às vezes, não é muito agressivo?
Em alguns momentos, sim. Mas nós tivemos debate de bom nível, com várias argumentações, projetos, defesa de ideias que são positivas. É claro que chama mais atenção essa questão mais agressiva, mas tenho certeza de que a qualidade dos debates foi além do que a gente imaginava. Os vereadores acabam não tendo controle, às vezes, por conta da situação tensa. Diante da situação do ano, acho que (o debate) se comportou até de uma forma aceitável.
Como você classifica a relação entre a Câmara e a administração municipal?
Vou falar da minha parte, não vou entrar no mérito do pensamento do Poder Executivo. Eu tentei fazer um trabalho institucional desde o primeiro dia, tanto que a primeira visita que essa Mesa Diretora fez foi para o prefeito. Abrimos as portas da Câmara e, no dia seguinte, já foi enviado um projeto em regime de urgência e a gente votou em sessão extraordinária. Todas aquelas situações que cabiam à Câmara, a gente procurou fazer: receber os projetos, colocar em pauta, fazer as votações. Muitas vezes, as comissões foram chamadas em momentos que não necessitariam e deram essa contrapartida, então, a relação com o Executivo, institucionalmente, não teve nenhum tipo de impedimento, inclusive na aprovação dos projetos. Os que não foram votados é porque foram enviados no final do ano e não foi solicitada a urgência.
Mas houve momentos de tensão, por exemplo, quando o prefeito nomeou o líder de governo, vereador Chico Guerra (PRB), para compor a Comissão da Maesa e quando solicitou de volta dois servidores cedidos para a Câmara.
A questão da nomeação da Maesa o plenário resolveu. E fez justiça (a bancada do PT apresentou projetos de decreto legislativo que anulavam a nomeação de Chico Guerra e antes de serem votados, o prefeito retirou o irmão da comissão). Com relação aos servidores, era um acordo institucional, a partir do momento em que tu chama, os servidores voltam. Eu não gostaria de ter feito aquilo, mas, a partir do momento em que a Câmara ia perder servidores, não poderíamos ficar prejudicados. Então, volta ao normal, zero a zero.
Agora, saindo da presidência, quais os planos para o ano que vem?
Primeiro, vou me dedicar a mim em janeiro (risos). Mas vou voltar aos meus projetos, àquilo que tenho de bandeira, todo mundo sabe da minha ligação com as áreas do esporte e da cultura, o meu pensamento sobre saúde e educação. Fiz questão de participar da Comissão de Saúde nesse retorno para o plenário. Mas meu foco principal sempre foi esporte e cultura e vou manter. Tenho bandeiras nacionais como o Pacto Federativo, é uma luta justa para os municípios. Talvez seja a minha principal bandeira na retomada. Fui um grande defensor do projeto do ISS neste ano (cobrança do ISS de cartões de crédito e débito, leasing e de planos de saúde no município do domicílio dos clientes) juntamente com o Parlamento Regional. Caxias do Sul poderia ter arrecadado só neste ano cerca de R$ 26 milhões. Sou municipalista convicto e vou levar para o plenário. A redistribuição da renda tem de ser imediata. Isso vem ao encontro de várias coisas que defendo, como o fim das emendas parlamentares de forma individual.
2018 é ano eleitoral. Você não concorre, mas será cabo eleitoral de algum candidato?
Essa é uma definição que o partido (PMDB) vai tomar logo ali. A partir do momento em que o partido definir quem são os candidatos em Caxias, aí eu vou expor quem são os meus candidatos a deputado federal e estadual. Só estou bem preocupado com a candidatura a presidente da República. Eu não percebo hoje, a menos de um ano da eleição, algo que possa surgir e ser diferente para o país.
E se Michel Temer concorrer?
Não terá meu apoio.
Por quê?
Porque não concordo com a forma. Desde o início da campanha, o PMDB do Rio Grande do Sul não apoiou essa chapa e eu me mantenho em cima disso. Apoiei a Marina Silva e não errei. Espero que o PMDB apresente uma novidade. O próprio (Germano) Rigotto se colocou à disposição, o partido lançou o (Pedro) Simon e eu espero que, se ficar entre esses dois nomes, eu tenho candidato do partido. Se não, teremos de fazer uma discussão muito séria dentro do PMDB, como foi da última vez, quando a gente definiu que não apoiaria a chapa Dilma-Temer e eu não tenho qualquer arrependimento com relação a isso.